Eva Luna - Isabel Allende

>>  quarta-feira, 28 de abril de 2010


ALLENDE, Isabel. Eva Luna. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 2003. 308p.

"Chamo-me Eva luna, que quer dizer vida (...) Nasci no quarto dos fundos de uma casa sombria e cresci entre móveis antigos, livros em latim e múmias humanas, mas isso não me tornou melancólica, porque vim ao mundo com um sopro de selva na memória."

Eva Luna de Isabel Allende foi o livro escolhido para o mês de abril do Desafio Literário. O tema do mês de abril foi um livro de um escritor latino americano, para conferir os livros escolhidos pelos outros participantes clique AQUI.

Isabel Allende é uma escritora que pega todos os meus sentimentos, tudo o que passa pela minha cabeça, mistura tudo e faz uma vitamina. Ela descreve a pobreza, a tragédia, o sofrimento, a felicidade crua, as lutas e inquietações do ser humano de uma maneira magnífica, que mexe com a cabeça e fala de perto com o coração. Eu me apaixonei pela autora após ler seu romance mais famoso A casa dos Espíritos e com o desafio literário, ela não poderia ficar de fora da lista, então vamos a história de Eva Luna.

“O pastor mandou embora os empregados e fechou a casa. Foi assim que saí do lugar onde nascera, carregando o puma pelas patas traseiras, enquanto minha Madrinha o levava pelas dianteiras. 
- Você já está crescida e não posso sustentá-la. Agora irá trabalhar para ganhar a vida e ficar forte, como deve ser – disse a Madrinha. 
Eu tinha sete anos.”

Ela nasceu e viveu na pobreza, filha de uma doméstica sem nome, sem raízes e sem família. Sua mãe que cuidou dela enquanto viveu, deu a luz sozinha em um quarto escuro, de batismo foi chamada Eva Luna. Desde criança aprendeu a não fazer barulho na casa do patrão, andava agarrada na beira da saia da mãe, tão em silêncio que quase virou sombra. Sozinha no meio dos empregados, não teve amigos, não brincou as brincadeiras de criança e perdeu a mãe amada, ainda bem criança. 

Após a morte da mãe Eva se tornou responsabilidade de sua madrinha, a negra que cozinhava na casa do patrão. E depois, ela mesma se tornou uma empregada, na casa da vários patrões com vários rostos, muito trabalho e poucas alegrias. Incrivelmente, no meio de tanta pobreza, Eva aprendeu a contar histórias, criava um mundo novo, repleto de seres fantásticos e com finais emocionantes. Assim nasceu Eva, a contadora de histórias. 

A menina cresceu, trabalhando muito, passando fome, fugindo e vivendo em muitos lugares diferentes. Aquela menina sofrida encontrou abrigo com Riad Halabí, um homem bom e marcado por um defeito de nascença, que a criou como um pai, a ensinou a ler, a escrever e lhe ofereceu um caminho; pela primeira vez Eva se sentiu amada, sentiu que tinha um lar. Até que uma tragédia faz com que os dois se afastem e ela fica mais uma vez sozinha e sem rumo.

O que Eva nunca perdeu foi a coragem, a menina fraca e magra, defendia com unhas e dentes sua liberdade, seu direito de sonhar. Um dia fugindo de casa, conheceu Huberto Naranjo, na época ainda criança, foi seu primeiro amigo. Muitos anos depois, o destino o coloca em sua vida, ele agora um guerrilheiro foragido e ela agora uma mulher, com poucos sonhos, muita coragem e suas histórias. 

“Beije-me, não devo amar ninguém, mas tampouco posso deixá-la, beije-me outra vez – sussurrou, abraçando-me.”

Agora adulta Eva segue seu caminho, em uma história de muitos desencontros. A madrinha que enlouquece, Mimi um homossexual, Huberto Naranjo o guerrilheiro e Rofl Carlé o cineasta são personagens humanos e contraditórios, que irão surgir e se misturar, em uma história que funde realidade e imaginação.

O contexto histórico enfatiza a disputa entre os comunistas e capitalistas na América Latina, a migração dos estrangeiros no pós II Guerra Mundial e a ditadura no país. A miséria exacerbada, a desigualdade social, corrupção e a violência da qual faziam uso os militares e a força policial. A autora não escolhe um lado nesta luta, mas sim fala dos sentimentos e dos caminhos escolhidos pelos personagens.

Esta é a história da mulher, a mulher com todas suas facetas, seus anseios e receios e sua força inabalável. Mergulhada em dor e sofrimento, rodeada por um mundo hostil e ferida de todas as maneiras, ela luta pela felicidade, luta ainda mais pela sobrevivência. A dura realidade e a capacidade de sonhar são transcritas de forma poética, os sentimentos giram em torno da personagem principal, provocando sentimentos contraditórios no leitor: angústia, raiva, amor, gratidão e principalmente força e fé. 

Eva Luna não é uma história feliz, nem infeliz, é uma história de vida. Desperta sua força interior e, sobretudo nos faz pensar na vida que temos, em agradecer a dádiva da vida, do amor, da família e acima de tudo da liberdade. 

“Quando pude ler corretamente, ele me trouxe novelas românticas, todas no mesmo estilo: secretária de lábios túrgidos, seios mórbidos e olhos cândidos conhece executivo de músculos de bronze, têmporas prateadas e olhos de aço. Ela é sempre virgem, mesmo no caso incomum de ser viúva, ele é autoritário, superior a ela em todos os sentidos, há um desentendimento por ciúmes ou por herança, mas tudo se ajeita e ele a toma nos braços metálicos, ela suspira sufocadamente e ambos são arrebatados pela paixão, mas nada grosseiro ou carnal. O apogeu era um único beijo que os conduzia ao êxtase de um paraíso sem retorno: o casamento. Depois do beijo nada mais havia, apenas a palavra “fim”, coroada de flores ou pombinhos. Em pouco tempo, na terceira página eu já adivinhava o argumento e, para distrair-me, modificava tudo, desviando o enredo para um desenlace trágico, muito diferente do idealizado pelo autor e mais de acordo com minha incurável tendência à morbidez e violência.”

Sobre a autora:
Site em espanhol: clique aqui
Autor e obra: http://pt.wikipedia.org/wiki/Isabel_Allende

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