A mão esquerda de Deus - Paul Hoffman

>>  sexta-feira, 2 de julho de 2010

                                          

HOFFMAN, Paul. A mão esquerda de Deus. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010. 328p. (As três visões, v.1)

“Preste atenção. O Santuário dos Redentores no Penhasco de Shotover deve seu nome a uma grande mentira, pois há pouca redenção naquele lugar e ele tampouco serve de refúgio divino.”

Ele é apenas um garoto, com idade entre os 14 e 15 anos o que nem ele mesmo sabe ao certo, do seu passado não tem lembranças, não sabe nem seu verdadeiro nome. Ali fora rebatizado pelos Redentores como todos os outros, Thomas Cale é como o chamaram, e aparentemente ele é só mais um garoto, um entre milhões, que cresceu naquele lugar sombrio. 

O Santuário dos Redentores do Penhasco de Shotover era na verdade uma espécie de prisão, dirigida por homens cruéis disfarçados de santos, Cale cresceu e viveu em um inferno e lá aprendeu tudo o que sabia, foi treinado para sobreviver, para não ter medo, foi treinado para matar, ele é o Anjo da Morte. Conheça Cale e o Santuário dos Redentores em A mão esquerda de Deus de Paul Hoffman. 

Durante toda sua vida, desde que consegue se lembrar Cale viveu no Santuário, no meio de muitos meninos que como ele eram treinados para lutar contra os Antagonistas, os hereges que desonram a memória do Redentor Enforcado com seus pecados. Estes meninos, conhecidos como acólitos, cresceram passando pelas maiores crueldades que se pode imaginar. Maltratados e sub-alimentados, eram constantemente submetidos a tortura, humilhações e todo tipo de maus tratos. Um passo em falso, poderia te levar a forca. Um ato falho, poderia te levar a fogueira. Eles eram pecadores e queimariam no inferno por toda a eternidade, eram constantemente lembrados.

De todos eles Cale era o mais torturado, o que por mais duras provações passou. Escolhido pelo Redentor Bosco para um fim ainda desconhecido, era treinado duramente, treinado para matar com a maior eficiência possível, para não sentir medo, não sentir dor e não reclamar. Ele tinha um talento único, ele podia prever o próximo movimento de seu oponente, para ele era como se lutassem em câmera lenta. Isso o tornou especial e moldaria o seu destino.

Um dia Cale presencia um ato horrendo dentro do Santuário, já acostumado  com todo tipo de horror, ele se surpreende, sente nojo, repulsa pavor e raiva. Sem alternativa ele resolve fugir, na companhia de Henri, Kleist e Riba – a primeira garota que ele viu na vida e a quem salvou da morte certa -, eles se aventuram em uma fuga impossível, querem ficar o mais longe possível dos Redentores, que partem em sua perseguição. 

A fuga leva Cale a terras desconhecidas, conhece lugares e coisas que nunca imaginou que pudessem existir, conhece uma mulher que mudará o seu destino e que o colocará no meio de uma guerra que não é sua. Os Redentores estão em seu encalço, o perigo está cada vez mais perto, ele não tem para onde fugir.

O livro é diferente de tudo que eu já li e não deve erroneamente ser comparado com nenhuma outra saga, o livro é pesado, sombrio e provoca sentimentos diversos no leitor. Eu senti nojo, ansiedade, pavor e por vezes esperança. Cale é um anti-herói dos mais contraditórios, um assassino impiedoso e eficiente, por vezes age por puro instinto, com objetivos frios, sem pensar em ninguém. Em outras ocasiões ele protege seus amigos com sua vida, luta pela honra e defende os mais fracos. Por mais que suas boas ações tivessem um objetivo por trás, por vezes senti que ele só queria ocultar seu lado humano. Cale sem dúvida é um personagem fascinante, uma máquina de matar impiedosa, mas com uma enorme compaixão. Inteligente, forte e sagaz e incrivelmente ingênuo a respeito do mundo exterior.

O cenário é tenebroso, o Santuário com suas torturas, seus santos perversos e cruéis. Os meninos que passaram a vida naquele lugar imundo e sombrio, comendo papas insossas, proibidos de qualquer contato humano, proibidos de fazer amigos e até de conversar. Treine. Lute. Reze. Confesse. Lute ou morra. No meio disso tudo garotos inteligentes, Kleist com seu jeito divertido, Henri brincando de ser tapado, Cale sendo sempre temido. 

Mas este não é um livro apenas de guerra, é um contraste ver o duro Cale tendo o coração devastado pela paixão. O surgimento da amizade, do amor, da compaixão. A crítica religiosa, política e social embutidas em um mundo imaginário. A mão esquerda de Deus não é uma leitura leve, mas é um livro surpreendente e imperdível para quem busca um livro diferente, tem estômago forte e não tem medo do desafio. 

Eu fiquei vidrada durante a leitura, com sentimentos inquietantes e contraditórios. Adorei o livro, que a meu ver não tem nada de literatura juvenil, é muito adulto e com cenas bem fortes. O problema é que termina cheio de questões abertas, o que seria verdadeiramente Cale e qual seu destino? Ele pode escolher seu futuro, tem um destino traçado ou é apenas o fruto de uma mente perversa? Questões que vou ter que remoer até o lançamento do próximo livro. #curiosidademodeon


Trilogia As três visões de Paul Hoffman
In: http://www.lefthandofgodtrilogy.com

  1. A mão esquerda de Deus (Título original: The left hand of god)
  2. As últimas quatro coisas (Título original:  The last four things)
  3. Ainda sem título definido.


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