Entrevista - Ana Paula Bergamasco

>>  quinta-feira, 31 de março de 2011

Desde pequena ela gostava de escrever. Participante dos concursos da escola e frequentadora assídua da Biblioteca, Ana Paula Bergamasco está cursando mestrado em Direito, nunca esqueceu a literatura e afirma que “é por ela que conseguimos expor a nossa alma, demonstrar respeito, amor, indignação e um conjunto de sentimentos”.

Com paixão e perseverança por quatro anos ela construiu a história de Irena em Apátrida, recriando fatos históricos, construindo cenários onde ela não esteve pessoalmente e ligando de forma primorosa seus personagens aos acontecimentos que permearam a 2ª Guerra Mundial.

Nesta entrevista exclusiva ao Viagem Literária, Ana Paula Bergamasco fala sobre a capacidade do ser humano de vencer as dificuldades assim como sua protagonista, explica aos leitores o porque do título de seu primeiro livro, fala de seus futuros projetos e ressalta que “a história da Polônia é de um país de extrema tenacidade, resistência e poder de reconstrução”.
Boa leitura!

Para começar conte um pouco para os leitores sobre a sua carreira de escritora, quando e como começou a escrever e sua carreira profissional.
Ana - Escrever não é fácil, mas desde pequena gosto de redigir. Já na tenra idade, participava de concursos da escola, declamações de poesias e era fã número um da biblioteca. Na faculdade de direito, acabei por dedicar-me à leitura técnica, o que me afastou da literatura. Nesta fase escrevi artigos científicos e uma monografia em direito internacional que foi premiada pela USP. Segui a profissão de advogada e gosto muito do que faço. Na área de direito estou fazendo mestrado. Mas a literatura nunca foi esquecida. É por ela que conseguimos expor a nossa alma, demonstrar respeito, amor, indignação e um conjunto de sentimentos. Foi por isto que me permiti, na minha agenda lotada, o tempo para escrever Apátrida.

Sua família te incentivou quando você resolveu iniciar sua carreira literária? Como foi o processo inicial de escrita do livro?
Ana - Minha família sempre me incentiva no que faço, mesmo porque sabem que não desisto fácil. Água mole em pedra dura, rs.... Escrever Apátrida foi muito exaustivo. As ideias fluíam, mas nem sempre conseguia tempo para colocá-las no papel. Foram quatro longos anos de escrita, estudo e perseverança. Não sei quantas vezes desisti de concluir o livro e o retomei semanas depois. Agora entendo que foi uma experiência produtiva, pois o retorno dos leitores é, em geral, positivo.

Apátrida descreve em detalhes países e lugares bem diferentes, além de narrar toda a 2ª Guerra Mundial. Como foi este processo de pesquisa? E para construir os lugares e cenários?
Ana - Estudo, estudo, estudo, e um pouquinho mais de ... estudo, rs. Madrugadas a fio vendo filmes, lendo livros, escolhendo os lugares para enviar meus personagens e buscando similaridade com os acontecimentos. Os personagens trafegavam sobre fatos históricos. Seria péssimo que não tivesse sustentáculo. Até os encontros dos familiares precisavam de sustentação. Como resolver isto? Quebrando a cabeça. Para onde foram enviados os oficiais poloneses, na invasão soviética? O que aconteceram com eles? Onde estaria estacionado o exército soviético, ao término da guerra, com os oficiais poloneses que restaram? Qual seria a forma de Irena reencontrar-se com Marko, por exemplo? E com Antony? Para onde migravam os judeus fugidos da guerra? Por isto, escrever Apátrida não foi fácil. Escolhi Lublin por exaustão, uma vez que no site da cidade há um tour virtual, que nos permite conhecê-la.

Eu já li alguns romances sobre a 2ª Guerra Mundial, mas a grande maioria aborda exclusivamente na história dos judeus. Como surgiu a idéia de escrever mais sobre os poloneses?
Ana - A Polônia foi uma nação duplamente massacrada com a Segunda Guerra Mundial: pelos soviéticos e pelos alemães. E continuou uma história de submissão até o término do protetorado soviético em suas terras. É claro que os judeus sofreram demais, principalmente os judeus poloneses e alemães. Mas não foram só eles. Os negros, os homossexuais, os testemunha de Jeová, os ciganos e até os maçons foram vítimas de todo o tipo de arbitrariedades, desrespeito e morte. E os poloneses eram eslavos odiados pelos alemães, porque estavam com parte de suas terras, e pelos russos, pois estes haviam perdido o protetorado existente, logo após a Primeira Guerra Mundial, com a fundação da Segunda República Polonesa. A história da Polônia é de um país de extrema tenacidade, resistência e poder de reconstrução, e isto desde a Idade Média, em que serviam de cinturão cristão contra as investidas muçulmanas de domínio do território europeu. Por estes motivos, escrever sobre a guerra, sem demonstrar o desespero dos cidadãos poloneses, é retirar uma parte da História.

Para quem ainda não leu a obra, explique aos leitores o porquê do título do livro e um pouco mais sobre o enredo.
Ana - Uma das leitoras colocou em um blog que achou que o termo Apátrida era um erro de digitação. Quisera eu que o fosse, pois assim o nosso Mundo seria diferente. Em direito internacional, Apátrida significa uma pessoa que não possui nação que o considere como cidadão seu nacional. Existe uma Convenção Internacional que proíbe a existência de Apátridas, após a Segunda Guerra. Perguntaram-me o porquê disto ser importante. Vou dar alguns motivos práticos: com o terremoto no Japão, inúmeros brasileiros pediram ajuda ao governo Dilma para voltarem ao país. Pessoas que o Brasil irá ajudar por serem seus nacionais. Exercício de voto, na grande maioria dos países, só é concedido aos nacionais. Outros, só fornecem educação e saúde para os seus nacionais, etc. Se ocorre uma violação a um direito fundamental do cidadão, existem Cortes que aceitam as representações, desde que amparadas por um Estado, que o faz a seus nacionais. Por incrível que pareça, ainda existem milhões de apátridas no mundo. Não ter pátria é não ter chão. Há até passagens bíblicas dizendo sob os peregrinos e seus sofrimentos. Irena era polonesa. Tinha uma pátria organizada que a reconhecia e portanto,  era detentora de todos os direitos. Durante o enredo Irena vai perdendo um a um de seus direitos básicos fundamentais, até lhe ser retirada a nacionalidade. É uma paródia sobre o que ocorreu de fato.

Como foi o processo de publicação e edição? A capa do livro simplesmente arrasa! Fale um pouco também sobre a capa do livro.
Ana - A publicação foi obra da minha ansiedade. Não quis aguardar as respostas das editoras e firmei uma parceria para publicá-la. Ela possuí alguns erros ortográficos que serão retificados numa próxima edição. A capa é do talentoso Ricardo Diniz. O Ricardo trabalha com marketing e leu meu livro, gostando do enredo. Foi um grande entusiasta da publicação. Então confiei-lhe a dura tarefa de fazer a capa. A editora me forneceu uma e eu achei horrorosa. Pedi a ele que queria uma capa com um olho, uma lágrima e uma foto épica. Ele captou a idéia e arrasou no conteúdo. Diagramou a parte de trás da capa e ficou em cima da gráfica nos detalhes desde tom, o verniz, o azul da íris, etc. Fizemos quatro provas de cor. Encontrou a rosa para colocar na orelha e pensou em tudo para harmonizar. Digo sempre que uma grande parte do interesse do público em ler a obra eu devo ao Ricardo e sua capa, rs.

Irena - a personagem principal do livro - tem uma força de vontade que eu achei fora do comum no decorrer do livro. Você acredita que as pessoas se fortaleçam com tamanho sofrimento ou a maioria no lugar dela desistiria e se entregava a dor e ao desespero?
Ana - Acredito que todos nós temos esta força interna e podemos trabalhá-la. Irena soube vencer seus obstáculos, assim como milhares de pessoas o faz diuturnamente, sem perceber. A busca desta força é interna e necessária. Muitas pessoas se renderam aos fatos. Mas inúmeras não se deram por vencidas e se transformaram em sobreviventes. Uma escolha que nos cabe fazer no nosso cotidiano: render-nos ou não ante as dificuldades.

Isso eu já te perguntei em off, mas os outros personagens do livro tem histórias muito interessantes e que não ficamos conhecendo pela narração do livro. Você já pensou em escrever mais sobre algum deles?
Ana - Sim, pensei em fazer uma continuação com o Coronel, Alfons. Ele é misterioso e isto criaria um clima bucólico. Talvez algo sobre Jan, o tio. Mas ainda não me decidi sobre isto.

Nos livros sobre o tema, o que mais me espanta não é a loucura de Hitler, e sim a atitude das pessoas, que simplesmente viravam as costas para tudo isso e fingiam que não estavam vendo ou que concordavam com o que estava acontecendo. Maldade, descaso, ignorância em massa ou comodismo?
Ana - Viver sob um duro regime ditatorial não é fácil. Muitos tentaram ajudar e acabaram mortos. Não podemos esquecer que os primeiros campos de concentração foram criados por Hitler para os próprios alemães: inimigos políticos, professores universitários, estudantes, etc.. Outros fizeram oposição pacífica, ajudando de forma acobertada os perseguidos. Uma parte da população efetivamente não sabia, se bem que quanto aos judeus a questão era escancarada. Contudo, Hitler conseguiu o discurso certo, para o momento apropriado, e elevou a moral alemã às alturas, além de conseguir resultados econômicos substanciais. Com uma riquíssima campanha e propaganda ele conseguiu transformar o racismo como meta de um povo, e o ódio como sinônimo de prosperidade. Sem dúvida, quanto à massa, houve muito descaso e comodismo.

Eu só vi comentários positivos sobre Apátrida nos outros sites literários, como está sendo o retorno dos leitores? Foi o que você esperava? Tem outros projetos literários em andamento?
Ana - É muito gratificante o retorno dos leitores. Este é o mais valioso prêmio para mim. O meu projeto é terminar de escrever mais um livro sobre a Segunda Guerra, sob a ótica de um soldado, trabalhando no enredo a Ética Aristotélica Tomista. Um desafio. Espero não demorar mais quatro anos para terminá-lo, rs.

Um breve bate-papo:

Quando escrevo, liberto minha alma
O que me inspira minha família
No meu tempo livre brinco com minhas filhas
Não saio de casa sem orar
Estou lendo os autores do Selo Brasileiro
Meu livro de cabeceira é O Físico
Sou fã de meus pais
Não gosto de brigar com as pessoas
Meu maior sonho é uma casa e uma varanda para ver o Sol nascer
Não viveria sem Deus
Estou a procura de fraternidade
Meu personagem preferido é Guilherme – O Nome da Rosa
Apátrida é para mim um desafio
Uma frase “Existe benção que nos vem apenas por alguns dias. Mas não deixam de sê-lo por terem um período curto de existência.”

Ana quero agradecer novamente pela entrevista e pela oportunidade de conhecer você e a história de Apátrida. Quer deixar alguma mensagem aos leitores do blog?
Ana - Gostaria de convidar a todos a lerem o livro. A se aprofundarem nos nossos autores nacionais, cujas obras estão despontando a cada dia. Nós, como autores, agradecemos cada opinião que recebemos e ficamos felizes com o retorno no público. É como um diálogo. Ninguém gosta de falar sozinho, rs.

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Ana Paula Bergamasco é a autora nacional de março no Viagem Literária. E para quem ainda não está participando, não perca a promoção aqui no blog e concorra a 1 exemplar de Apátrida! Participe, a promoção fica no ar até sábado dia 02.04.2011.

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