Qualquer maneira de amor vale a pena

>>  segunda-feira, 30 de maio de 2011


Enquanto lia a resenha de Academia Knightley, de Violet Haberdasher, fiquei pensando num assunto muito discutido nas últimas semanas, o polêmico kit anti-homofobia. Fiquei feliz, ao ver um livro, voltado para crianças e adolescente, tratar o preconceito de maneira tão natural. O livro é para divertir, mas também para refletir, quando mostra a escola como espaço de todas as pessoas, onde se pode aprender a conviver com a diversidade. Este também é o objetivo do kit anti-homofobia.
Essa semana, um senhor, pai de cinco filhos, entre outros assuntos, me falava da dificuldade de criar tantas crianças e do medo que tinha de umas delas “virar” homossexual, o que ele comparava ao drama de ter um filho que consome drogas ou se envolve com o crime. Parece absurda a comparação, é difícil aceitar que há sim, muitas pessoas que ainda pensem assim, mas é preciso respirar fundo, escutar o argumento do outro, para entender de onde vem tanto preconceito.
O principal argumento dele era o medo de ver o filho sofrendo. “Não quero que meu filho seja vítima de chacotas”. Ele teme o que os outros vão dizer. Teme que o filho seja julgado. Olha só que contraditório! Tem medo dele mesmo. Fica apavorado com a possibilidade do filho sofrer com o preconceito, que ele mesmo carrega e transmite para os próprios rebentos. O medo da reação dos outros é maior do que a felicidade de ver um filho realizado, completo?
A situação exemplificada não é exceção. Uma pesquisa publicada pela Unesco em 2004 revelou, por exemplo, que um quarto dos estudantes entrevistados não gostaria de ter um colega homossexual na mesma sala. Uma realidade, porém, quase sempre negada pela comunidade escolar. O ambiente escolar em geral é hostil para o exercício da diversidade sexual. Crianças, ao contrário dos adultos, não pensam 100% em azul X cor-de-rosa, mas aprendem muito cedo, com os pais, professores ou tios, que acabam colocando essas questões na cabeça delas, que, por sua vez, desenvolvem o preconceito.
Não é tão simples convencer a grande maioria de que existe um outro padrão de relação afetiva ou que qualquer maneira de amor vale a pena. Mas, o que mais me impressiona é a energia que as pessoas gastam, disseminando o preconceito, levantando bandeiras, contra um comportamento que não afeta em nada a vida delas. Nada incomoda mais as pessoas do que a preferência sexual alheia, quando ela não corresponde ao padrão social. Reconhecer os direitos dos homossexuais, não fará com que nenhum heterossexual "vire" gay, nem que um gay acentue ainda mais sua homossexualidade. As pessoas já são como são.
Ninguém deve ser diminuído nessa vida pelos afetos e por compartilhar os seus afetos com quem escolher. Eu espero que a escola seja cidadã, e que as crianças aprendam a viver com a diferença, e acredito que Violet Haberdasher, com esse livro, contribui para isto. Ter nascido mulher, ou homem. Cearense, ou paulista. Judeu ou muçulmano. De pele negra, ou branca. Nada disso faz de ninguém menos cidadão.


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