O preço da imortalidade - Felipe Santos

>>  quarta-feira, 1 de junho de 2011

SANTOS, Felipe. O preço da imortalidade. São Paulo: Editora Novo Século, 2010.542p.

“O vampiro abriu a boca e aproximou seus caninos do pescoço da presa. Mais um pouco e o jovem estaria no ponto. Era difícil se controlar... A pele quente do rapaz, por onde veias carregadas de sangue morno circulavam, o chamavam ardentemente. Seus olhos brilharam com mais intensidade quando viu o filete de sangue escorrendo do machucado feito pelas suas unhas...” pg.19

Vampiros! É eu sei, ou você ama ou você odeia, a literatura está povoada destes seres e tem para todos os gostos. Romance? Longe disso, há quem diga que estes aqui nem têm coração e se tiverem já pararam de bater a um bom tempo. Sangue? Com certeza. Sangue pútrido e negro, sangue coagulado e sem vida. Sangue fresco que corre nas veias dos humanos, o alimento e a imortalidade. Do brasileiro Felipe Santos, descubra O preço da imortalidade.

O ano é o de 1213, as ruínas do Império Romano dividem o território em vários reinos, os reinos em vários feudos. Na chamada Idade Média aqueles feudos eram fortalezas isoladas, comandadas por um nobre, o senhor feudal. Este nobre era detentor de todos os títulos e riquezas do feudo, cabia aos seus vassalos trabalhar para sobreviver. Os plebeus tinham sua produção consumida pelos impostos do senhor e pelo dízimo da Igreja Católica, para eles tudo que restava era a miséria e a fé.

Na idade das trevas o medo do desconhecido paralisava corações, doenças  e epidemias eram relacionadas ao diabo e aos pecados do homem. Um mundo povoado por seres das trevas, vampiros, lobisomens, zumbis e bruxos. Eles espalhavam o terror pelo mundo, neste caso no pequeno burgo chamado Amyville.

William Brenauder era apenas um camponês, um vassalo como todos da sua grande família, um rapaz de apenas 16 anos. Desmemoriado ele descobre que escapou da morte, ao contrário de toda sua família, mas por um alto preço. Ele percebe que se tornou uma criatura que até então só existiam em lendas, um vampiro. Um ser amaldiçoado por Deus, que vagava pela Terra matando seu semelhante para sobreviver. Sem família, sem lar e tomado pela vergonha ele não se conforma com seu destino.

“Quando a vítima atingia o máximo de desespero, seu sangue ficava com um sabor todo especial. Faltava pouco agora, muito pouco. O jovem continuava a chorar e se contorcer de dor mais e mais, a medida que Arctos esmagava-lhe a traqueia e o impedia de respirar... O vampiro finalmente cravou seus caninos na artéria carótida da vítima e sorveu seu sangue vagarosamente, se deliciando com seu sofrimento.” Pg.19

William está desolado pelo monstro que se tornou, mas a sede de sangue é maior. Um lado dele sente vergonha e teme por sua alma, o outro está louco por vingar o assassino de sua família. E ele agora é o protegido de Arctos de Pontis, um poderoso vampiro que tem um interesse repentino pelo novato. Ele toma Will como seu pupilo e começa a treiná-lo para lutar e ao mesmo tempo para conviver com a nobreza. Malthus o mestre de Arctos é o senhor do castelo e tem planos bem definidos para o futuro dos vampiros daquele feudo.

Em suas aventuras e constantes provações na nova vida como imortal, Will conhece Reinald Galf, um vampiro poderoso que se oferece para ser seu tutor.  Mas no reino dos imortais ele não sabe em quem confiar, alianças são constantemente quebradas, a guerra está próxima e todos irão pagar, o alto preço da imortalidade.

“Sangue, poderoso liquido da vida, o verdadeiro néctar dos deuses. Por um breve momento Arctos se sentiu vivo novamente. O frio eterno que consumia sua alma se dissipou inundado pela sensação da vida. Seu corpo pulsava delirante, à medida que o sangue quente escorria por sua garganta.” Pg.19

Este é o livro de estréia do brasileiro Felipe Santos, mas ele já escreve como um veterano. Confesso que peguei o livro e fiquei um pouco preocupada com suas 542 páginas, mas a narrativa é deliciosa e a leitura flui rapidamente. A base histórica do livro é muito bem construída, gostei muito do cenário medieval e tudo é muito bem descrito e ambientado. Os personagens são todos amplamente explorados, você passa a conhecer muito bem protagonistas e coadjuvantes.

William nosso protagonista tem a alma atormentada pelo monstro que se tornou, as dúvidas são tão reais que ele se divide em duas personalidades: o Will humilde e bom moço que tenta prejudicar o menor número de pessoas possíveis, e segue em frente em busca de redenção e vingança; e o William das Trevas, o vampiro com sede de sangue e com força descomunal que é capaz de matar qualquer um e não tem sentimentos. Claro que eu gostei mais do William do mal.

Eu confesso que gostei mais de Reinald e do Arctos que do protagonista, aquele negócio de “ai como sou bom, não mereço esta sina e não posso matar ninguém” repetidamente me irritou um pouco. E fora que os dois vampiros ai acima são bem gatões, eles lá só querendo matar e eu pensando nos olhos azuis. =] Os vampiros aqui fazem de tudo para sua sobrevivência, tomam o sangue e matam sem piedade; por outro lado, podemos vivenciar os dramas e os remorsos de alguns personagens.

Falando dos pontos negativos, o que me incomodou um pouco foi a forma que o narrador se referia aos acontecimentos com frases do tipo “isso era muito comum naquela época” ou “as mulheres eram vistas como inferiores” achei um pouco forçado. Ele também inseria jargões como “puro cagaço” “estava ligado” ou outros que eu não me lembro exatamente que quebravam a narrativa de época, não gostei disto. O livro é bem descritivo, eu gosto porque os fatos são bem explicados e tudo é muito bem ambientado, mas na segunda metade do livro achei algumas coisas desnecessárias. Senti falta também de se explorar o lado sexual dos vampiros, o povo só queria saber de guerra e comida. :P

Para quem gosta de vampiros, de vampiros malvadões, o livro é muito bom e maravilhosamente escrito. Para quem gosta de guerra, sangue e batalhas mediáveis a obra é imperdível. Leiam! Felipe Santos é o autor nacional do mês de junho (sentiram meu lado romântico hahaha) no Viagem Literária e em breve teremos promoção e entrevista com o autor.

Avaliação (1 a 5):

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