Branca como o leite, vermelha como o sangue - Alessandro D'Avenia

>>  terça-feira, 9 de agosto de 2011

 D’AVENIA, Alessandro. Branca como o leite, vermelha como o sangue. Rio de Janeiro: Editora Bertrand, 2011. 368p. Título original: Bianca come il latte, rossa come il sangue.

“Mas o amor é outra coisa. O amor não da paz. O amor é insone. O amor é elevar a uma potência. O amor é veloz. O amor é amanhã. O amor é tsunami. O amor é vermelho-sangue.”p.125

O título intrigante, a capa linda e o autor italiano me deixaram louca para conhecer este livro. Vocês lembram quando eu disse que adoro autores italianos? Este é mais um que vai entrar na minha lista de favoritos, a partir de hoje leio até bula de remédio se for escrita por Alessandro D’Avenia. E hoje com vocês o belíssimo Branca como o leite, vermelha como o sangue.

Conheça Leo, um garoto de 16 anos que no início irá se parecer com muitos adolescentes que nós conhecemos: adora futebol, vídeo game, música no último volume, Mc Donalds e corridas de bicicleta. Odeia a escola e acha que os professores são “uma espécie protegida que você espera ver definitivamente extinta” e não tem quase nenhum diálogo com seus pais.

Ele acha que os pais não entendem nada, só conseguem ver um adolescente revoltado e não sabem que dentro dele muita coisa acontece. Leo enxerga a vida em cores, sua melhor amiga Silvia é azul, Beatriz sua grande paixão platônica é vermelho e tem pavor do branco - o branco é ausência, é vazio, é tudo que está ligado a perda e a solidão.

Dois grandes acontecimentos mudam a percepção que Leo tem sobre a vida, sobre Deus e principalmente sobre sonhos e o futuro. Em suas palavras: “Nasci no primeiro dia de aula, cresci e envelheci em apenas duzentos dias”. O primeiro deles foi a chegada de um professor substituto na Escola, diferente de todos os outros ele tinha uma luz em seus olhos quando falava, sabia escutar e entender seus alunos e logo foi apelidado por Leo de Sonhador. O Sonhador o ensina o valor dos sonhos, ensina que as pessoas devem buscar e descobrir aquilo que mais deseja e então transformar em realidade.

“A história é um caldeirão cheio de projetos realizados por homens que se tornaram grandes por terem tido a coragem de transformar seus sonhos em realidade, e a filosofia é o silêncio no qual esses sonhos nascem.” p.27

O sonho de Leo se chama Beatriz, embora ela ainda não saiba. Beatriz é um furação com seus cabelos vermelhos, é luz com seus olhos verdes e seu sorriso é capaz de iluminar o dia de Leo. Mas ele ainda não teve coragem de dizer a ela o que sente, que a ama e que sabe que ela é o seu futuro, o seu sonho, que foram feitos um para o outro. Em sua realidade existe Sílvia, sua melhor amiga que conhece todos os seus gostos, seus defeitos e o aceita do jeito que ele é. Silvia é uma amiga inseparável e fiel, mas ele não poderia amá-la, para ele o amor não da paz, é insone e arrazador.

“Olhos verdes que quando ela os arregala ocupam todo o rosto. Cabelos vermelhos que quando ela os solta o alvorecer te cai em cima. Poucas palavras, mas exatas. Se ela fosse cinema gênero a ser inventado. Se fosse perfume: o cheiro da areia de manhã cedo, quando a praia está sozinha com o mar. Cor? Beatriz é vermelho. Como o amor é vermelho. Tempestade. Furacão que te varre para longe. Terremoto que despedaça tudo. É assim que eu me sinto sempre que a vejo. Ela ainda não sabe, mas um dia destes eu vou dizer o que sinto.” p.12

O segundo acontecimento que mudará para sempre a vida de Leo é Beatriz. Não a Beatriz de lindos cabelos vermelhos e alegres olhos verdes. Outra Beatriz, uma que está corroída pelo branco. Beatriz está gravemente doente, ela não consegue manter o vermelho dentro dela e o branco a corrói. A descoberta deixa Leo desolado e muda para sempre suas atitudes e a maneira com que vê a vida. Ele precisará sofrer e renascer, precisará acreditar que os sonhos não podem morrer e descobrir dentro de si a coragem para acreditar em algo maior.

“Não vou deixar que você vá embora. Não vou deixar que esse tumor branco te leve. Eu é que devia ter esse tumor, e não você. Não vou permitir que lhe aconteça nada, porque você é muito mais necessária do que eu nesta Terra. Quero que você saiba.” p.115

Queria ter as palavras certas para escrever a resenha, queria ter as belas palavras que D’avenia usa com tanta maestria e consegue transformar um texto jovem em um livro tão adulto e tão profundo. Na ausência de sua escrita poética, fica meu olhar embasbacado, minhas lágrimas que caíram junto com as de Leo e meu sorriso para cada trecho e cada nova descoberta. Fica em mim a sensação de que por mais livros que eu leia, alguns ainda possam me fazer dizer de boca cheia: “Nunca li nada como este livro.”

Eu torci junto com Leo, para que ele não deixasse seus sonhos morrerem e que ele amadurecesse como um homem melhor, menos egoísta, para que ele pensasse mais nos outros e que acreditasse, sempre; que não desistisse, nunca. Eu me encantei com Silvia, com seu jeito doce e sua presença segura, com suas palavras maduras e seus sonhos secretos. Impossível não desejar conhecer mais Beatriz e não chorar junto com ela quando isso finalmente acontece. E o Sonhador é o professor que eu sempre quis ter e infelizmente não tive.

A narrativa é toda ao lado do Leo, com poucos diálogos o livro é quase um monólogo. E está longe de ser cansativo, você mergulha e bebe cada palavra do autor. Leo sente demais, ama demais, com toda a força do primeiro amor e com toda a inocência da juventude. Não é um livro triste – quem não gosta de drama pode ficar tranqüilo – é como a vida... triste, alegre, emocionante e repleto de sonhos.... e infelizmente, cheio também de realidade. Leiam!! Não tenham dúvidas, leiam!!

Site oficial do autor: http://www.profduepuntozero.it/

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