A guardiã da minha irmã - Jodi Picoult

>>  quarta-feira, 5 de outubro de 2011

 
PICOULT, Jodi. A guardiã da minha irmã. São Paulo: Editora Verus, 2011. 434p. Título original: My sister’s keeper: a novel.

“- Você está com medo? – pergunto sem pensar. – De morrer?
Kate se vira para mim, um sorriso se abrindo devagar em seu rosto.
- Quando eu souber, te conto.  – Ela fecha os olhos. – Vou descansar só um segundo – consegue dizer, e então volta a dormir.
Não é justo, mas a Kate sabe disso. Não é preciso uma vida longa para saber que raramente conseguimos o que merecemos.” p.339.

Se você ainda não leu este livro, prepare-se! Minha intenção é te convencer a lê-lo, te convencer que este é um dos melhores livros do ano e é um daqueles que todos deveriam conhecer. Sei antes mesmo de começar o texto que faltarão palavras, adjetivos e comentários. Vou tentar mostrar a vocês um pouco da história comovente, única e emocionante de A guardiã da minha irmã de Jodi Picoult.

Kate hoje tem 16 anos, uma menina que viveu desde os três anos de idade uma luta pela vida quando foi diagnosticada como portadora de LPA – Leucemia promielocítica aguda, um tipo de leucemia ainda mais grave e de difícil tratamento. Ao longo da vida sua doença ia e vinha, teve períodos de remissão e de recaída, tudo graças a diversos tratamentos médicos. Como toda menina ela queria ter uma vida. Queria ir a escola, fazer amigos e agir como uma pessoa normal, queria que as pessoas não olhassem para ela e vissem a falta de cabelo, o corpo sempre muito magro e as marcas das cirurgias. Mas acima de tudo Kate sempre quis viver. Kate queria ser bailarina, porque elas tinham controle total do seu próprio corpo, ela nunca teria.

“E sinto o pulsar mais fraco de seu coração, o último fio de vida. O aperto mais suave de seus dedos, enquanto Kate se agarra a este mundo com unhas e dentes.” P. 283.

Anna é a irmã mais nova de Kate e foi concebida através de inseminação artificial para que seu cordão umbilical salvasse a vida da irmã. Agora aos 13 anos Anna já passou por muitos procedimentos médicos para ajudar Kate, inúmeras transfusões de sangue, doação de medula óssea... embora fosse uma menina saudável, vivia como se estivesse doente. Ela sabia que tinha nascido com o único propósito de salvar a irmã e agora queria ter suas próprias escolhas. Kate precisa de um rim, Anna é a doadora ideal neste estágio da doença, mas ela resolve contratar um advogado e entrar com um processo de emancipação médica contra seus pais.

“E, se seus pais só tiveram você por um motivo, é melhor esse motivo existir. Porque, quando ele desaparecer, você vai desaparecer também.”p.14

“- Não quero processar Deus. Só meus pais – digo. – Quero ter controle sobre meu próprio corpo.”p.25

A vida inteira Anna viveu no hospital com a irmã e conviveu com todos os tratamentos, as longas retiradas de glóbulos brancos, os hematomas, a dor forte nos ossos depois da doação de medula, as injeções para fazer nascer mais células-tronco. O fato de não estar doente, mas viver como se estivesse. O fato de só ter nascido para que Kate pudesse pegar partes dela. O fato de que ela iria doar um rim e seus pais nem ao menos perguntarem sua opinião.  O que dizer da menina que se recusa a salvar a vida da irmã que está morrendo? O que dizer para a menina que só deseja uma chance de viver e de fazer suas escolhas?

Jesse é o irmão mais velho, o que não foi compatível com Kate e nunca teve a opção, ou o ônus, de ser um doador. Os pais estão sempre voltados para a doença de Kate, vivem em função de salvar a filha e os outros dois ficam a margem da família. Como resultado Jesse cresceu como uma criança solitária e se transformou em um adolescente revoltado, drogado, talvez até um criminoso. Qual a importância do cheiro de maconha ou das bebedeiras do filho mais velho, quando a irmã está sofrendo de hemorragia por todos os orifícios?

Campbell é o advogado que entra com o processo de Anna, convencido pelo jeito decidido da menina e acreditando que ela teria sim o direito de escolha. Na verdade ele sabe que um caso deste lhe dará muita publicidade. Apesar da aparente ambição ele tem seus próprios problemas, embora os guarde bem fundo e não tenha ninguém para compartilhar. Agora é só ele e seu cão guia – o Juiz. Ele não é cego, mas prefere as piadas do que assumir suas fraquezas. Há muito tempo deixou o amor de lado, irá defender a sua cliente, mas não entende o que passa na cabeça da garota. Julia foi apaixonada por Campbell na adolescência e nunca o esqueceu, mesmo ele tendo partido seu coração. Agora precisa trabalhar com ele, já que foi designada pelo juiz como curadora ad litem para acompanhar Anna no processo.

Sara e Brian são os pais, ela abandonou a carreira de advogada para cuidar dos filhos e ele é bombeiro e paramédico, salva vidas todos os dias, menos a que mais gostaria de salvar. A doença de Kate sempre moldou a família, eles vivem para ela, fariam tudo por ela. Tentavam ser os melhores pais para todos os filhos, ambos sabiam que nem sempre conseguiam. E agora estavam sendo processados pela filha mais nova, enquanto a mais velha morria no hospital.

“Eu virei bombeiro porque queria salvar pessoas. Mas devia ter sido mais específico. Devia ter dado nome aos bois.” P.157

“A capacidade humana de carregar fardos é como a do bambu – muito mais flexível do que você imaginaria à primeira vista.” P. 206

Este livro me emocionou de tantas formas que me faltam palavras para explicar. Os personagens são tão humanos e a autora levanta diversas questões polêmicas. Os pais estão certos de fazer qualquer coisa para salvar um filho? Mesmo que isso signifique prejudicar os outros? Anna irá conseguir conviver com sua decisão, se ganhar o processo e a irmã morrer? Os pais estão errados ou amam Kate mais os outros dois filhos? O livro não te da respostas prontas, ele fala de vida, de luta e de amor incondicional.

Aprendi a valorizar minha vida, a saúde perfeita que Deus me deu e meus tão poucos problemas. Já repararam quando muitas vezes fazemos uma tempestade em um copo d’água por nada? Este livro é um tapa na cara do leitor, impossível não questionar todas as escolhas e refletir sobre elas. No lugar dos pais, no lugar de Anna, o que você faria? Eu ainda não tenho uma resposta, mas tenho muito mais gratidão dentro do meu coração.

A trama do livro não deixa nada a desejar, perfeita e apaixonante. A narrativa é alternada entre todos os personagens e você acompanha de perto o que cada um pensa, seus anseios e sofrimentos. O livro é infinitamente triste, mas não é um drama que você deve temer a leitura, também é cheio de vida, de amor, de esperança e de grandes lições. Engraçado que no começo não me simpatizei pela mãe de Kate, sentia pena da Anna tão renegada e criticava suas atitudes autoritárias. Até que consegui olhar com outros olhos, e ver que era impossível para ela fazer mais do que já fazia, as escolhas que ela tinha em mãos significavam a vida de sua filha, quem sou eu para julgar.

E eu que pensava que já estava preparada para o final do livro, levei mais um tapa. É totalmente diferente do que o leitor espera, o final é triste, é lindo e é surpreendente. Ah e é diferente do filme, então quem assistiu ao filme e não leu o livro também irá se surpreender.  A adaptação do livro para o cinema se chama Uma prova de amor (trailer) e foi lançada em 2009 nos EUA. O filme conta com Abigail Breslin (Anna), Cameron Diaz (Sara), Sofia Vassilieva (Kate), Heather Wahlquist, Alec Baldwin (Campbell) e tem direção de Nick Cassavetes.

Este livro irá emocionar homens e mulheres, jovens e adultos. Leiam sem sombra de dúvidas, super indico e me desculpem pela resenha quilométrica. É imperdível, é sublime, eu amei. Você leu? Me conta. Se só viu o filme, Leia!!

Avaliação (1 a 5):

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