A resposta - Kathryn Stockett

>>  terça-feira, 6 de março de 2012

STOCKETT, Kathryn. A resposta. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Bertrand, 2011. 574p. Título original: The help.

“Vai ter então uma batida na sua porta, tarde da noite. Não vai ser a madame branca. Ela não faz esse tipo de coisa ela mesma. Mas, enquanto o pesadelo tá acontecendo, o incêndio ou as facadas ou o espancamento, você percebe uma coisa que você sempre soube, durante toda a vida: 
a madame branca nunca esquece.
Ela só vai parar quando você estiver morta.” p.248

Este não é um romance comum, é uma historia que fica com você muito tempo depois de você fechar o livro, que te emociona, te marca e te faz sofrer e torcer por cada um dos personagens, como se fossem seus velhos conhecidos. Com uma narrativa corajosa e habilidosa a autora transporta o leitor para um passado não tão distante, para uma realidade talvez conhecida, mas jamais tão vivenciada. Se encantem com A resposta de Kathryn Stockett.

O Mississipi era, em plena década de 60, um dos Estados norte-americanos mais conservadores e segregacionistas, onde o racismo era apoiado pelas leis locais, como as Leis de Jim Crow. Em outras partes do país Martin Luther King lutava pelos direitos civis dos negros nos EUA, como o fim da segregação, o fim da discriminação no trabalho, o direito a voto e outros direitos civis básicos. Na cidade de Jackson as leis raciais eram seguidas a risca: era proibido o casamento inter-racial; exigia-se que os negros tivessem escolas e Universidades separadas; além de serem proibidos de usar as mesmas instalações públicas que os brancos como banheiros públicos, mercados e bibliotecas; teriam também transportes públicos separados, ou com assentos em locais separados dos brancos.

Em 1962, Eugênia Phelan, mais conhecida como Skeeter, acaba de se graduar na Universidade e volta para a casa dos pais em Jackson. Skeeter vem de uma família rica, é amiga das madames mais proeminentes da cidade e aos 22 anos sonha em ser escritora. Ainda solteira, a moça convive com as constantes cobranças da mãe que desaprova seu cabelo, seu modo de vestir e o fato dela ainda nem ter um namorado. Mas a moça tem outros sonhos, quer arrumar um emprego e começar sua carreira. Ela aceita a única oferta que aparece e começa a escrever uma coluna de dicas de limpeza para o jornal local.

Skeeter ainda lembra com carinho de Constantine, a negra que a criou e que havia pedido demissão antes dela voltar da faculdade. Apesar de ver os olhares questionadores das duas melhores amigas,  Elizabeth Leefolt e Hilly Holbrook ela pede a ajuda da empregada de Elizabeth para responder as perguntas da coluna.

Aibileen Clark já criou 17 crianças brancas, trabalhou a vida inteira na casa destas famílias. Agora mais velha, está novamente criando outra criança, enquanto ainda sente diariamente a perda de seu único filho, morto em razão da inércia dos patrões brancos com o negro ferido. Ela trabalha para madame Elizabeth e cuida de Mae Mobley, uma menina de apenas 2 anos que anseia pela atenção da mãe. Elizabeth é uma daquelas madames pobres com ares de rica, uma senhora ainda jovem, mas preconceituosa e disposta a obedecer Hilly em tudo e não está satisfeita com a aparência física da filha. Ela começa a responder as perguntas de limpeza, para ajudar a amiga da patroa.

A melhor amiga de Aibillen é Minny Jackson, uma empregada negra que não tem papa na língua e vive perdendo empregos por este motivo, mesmo sendo a melhor cozinheira da cidade. Minny é mãe de cinco filhos e tem um marido bêbado e agressivo para cuidar. O último emprego de Minny havia sido com a mãe de Hilly, mas as coisas não terminaram bem. Minny foi demitida, o que para ela não era novidade, mas desta vez era muito pior. Hilly é a presidente da Liga da cidade, uma mulher mesquinha e racista. E quando ela espalha para todas as madames que Minny havia roubado sua prataria, ela não consegue mais emprego em lugar nenhum.

Skeeter começa a perceber que ela tem mais a contar do que dar dicas de limpeza no jornal, ela quer contar como é vida das empregadas negras na cidade. Para isto ela terá que convencer Aibileen a abraçar o projeto, mas os negros tem terror de desafiar os brancos. Aibileen e Minny começam a ver a importância de contar esta historia, mas mesmo trocando nomes e referências todas elas sabem do perigo que correm.  E elas precisam de mais empregadas para o projeto, mas isto não vai ser fácil de conseguir.

“Regra número um para trabalhar pra uma patroa branca Minny: Não se meta onde não é chamada. Mantenha o seu nariz bem longe dos problemas de sua patroa branca e nada de reclamar para ela de seus problemas.” P. 55

A experiência que tive ao ler este livro é indescritível, todos na escola estudamos sobre Martin Luther King, sobre segregação racial e sobre os brancos do Ku Klux Klan. Já assisti a filmes e li livros que abordaram o assunto, mas nada me tocou tanto quanto este livro. Talvez por ser narrado em primeira pessoa pelas três principais protagonistas, ficamos ligadas a cada uma delas. Ou ainda por ver uma empregada negra contando com detalhes tudo o que ela sofria nas mãos dos patrões brancos, como o preconceito era normal e tido como apenas mais uma regra da cidade.

Acho que a incapacidade de se mudar alguma coisa é o que mais me tocou no decorrer da historia, o fato de saber que eu não teria um final bonitinho para o livro, que tudo aquilo era real, por mais que fosse um livro de ficção. Eu me apaixonei por Aibileen e por Minny, a primeira por seu jeito doce e por sua força em enfrentar tudo aquilo por tanto tempo, a segunda por seu jeito divertido e sua força de caráter. O engraçado é que lendo o livro, você observa que o preconceito seguia também a via contrária, Minny por exemplo não entendia o comportamento de Celia Foote, que tentava tratá-la como uma amiga, uma branca vê se pode.

Eu não quis entrar em mais detalhes sobre o enredo porque acho que o mais legal é o leitor degustar cada surpresa, mas amei o livro e devorei cada página. A única coisa que tenho para reclamar é que achei o final muito corrido. As três protagonistas não tem um final bem resolvido para mim, podemos imaginar o que aconteceu, mas eu queria saber mais detalhes. 

Acompanhando as historias, vemos alguns casos diferentes, daquelas empregadas que tiveram boas patroas, que contaram com a ajuda dos brancos em vários momentos. Mas sem dúvida o que marca é a crueldade e a capacidade que os brancos tinham de enxergar só aquilo que queriam. Hilly é a personagem mais odiosa de todos os tempos, e era uma das mulheres mais respeitadas da cidade. Vemos até mesmo como Skeeter que era uma branca de família rica, podia sofrer consequências por tomar algum partido a favor dos negros.

O livro foi adaptado para o cinema como The Help, do original, ou Histórias Cruzadas no Brasil. Com direção de Tate Taylor conta com a atuação de Emma Stone (Skeeter), Viola Davis (Aibileen) e Octavia Spencer (Minny) - que ganhou o Óscar deste ano como melhor atriz coadjuvante. Eu gostei do filme, o roteiro foi bem parecido com a historia do livro, mas não senti tanta emoção assistindo ao filme quanto lendo o livro. Achei que o filme pegou mais leve, não sei ao certo.

Sem dúvidas indico para todo mundo que gosta de um romance questionador, de uma historia marcante e que fez parte da nossa historia. Leiam!! Um livro maravilhoso, transformador e uma historia impressionante.

Avaliação (1 a 5):

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