Em busca de um final feliz - Katherine Boo

>>  quinta-feira, 12 de setembro de 2013

BOO, Katherine. Em busca de um final feliz. São Paulo: Editora Novo Conceito, 2013. 288p. Título original: Behind the beautiful forevers.

“Ele acreditava que em Annawadi a sorte não era resultado daquilo que as pessoas faziam, ou quão bem elas o faziam, mas sim dos acidentes e infortúnios que elas conseguiam evitar. Uma vida decente era aquela em que o trem não o atropelava, onde você não ofendia o senhorio da favela e a malária não te pegava. Apesar de ele recriminar-se por não ser mais inteligente, acreditava ter uma qualidade quase tão valiosa para as circunstâncias nas quais vivia. Ele era chaukanna, alerta.” p.24

A jornalista Katherine Boo viveu três anos em Annawadi, um assentamento com mais de 300 barracos e 3.000 pessoas ao lado do Aeroporto Internacional de Mumbai, na Índia. Desta experiência surgiu o livro Em busca de um final feliz, um relato real da dramática vida das famílias faveladas que mal sobrevivem entre a opulência e a miséria que cerca o país. Hoje vou contar o que achei dessa leitura.

Logo ficamos conhecendo Abdul Hakim Husain e toda sua enorme família, o rapaz de 16 anos (ou talvez 19, sua mãe não sabe bem) cata lixo para garantir o sustento da família, já que o pai está impossibilitado de trabalhar devido a uma doença pulmonar, e apesar disso, sua religião proíbe o controle de natalidade. Abdul tem 9 irmãos. Abdul era bom no que fazia e mantinha sua família acima da linha da miséria, seu irmão Mirchi estava estudando para ter uma profissão melhor, sua família tinha comida em casa.

Estas pequenas coisas separavam os bem sucedidos em uma favela, ter o que comer e um barraco bem construído, diferenciava a família de Abdul daqueles que comiam os sapos e a grama do esgoto que corria pela favela. A chance de contrair malária ou alguma outra doença, era menor.

A vida de Abdul muda, quando ele e seu pai são acusados de colocar fogo em uma mulher. Fátima ou Perna só, como era conhecida, tinha pele clara – o que era valorizado no mercado das noivas -, mas sua perna aleijada a fez conseguir apenas um mulçumano velho e pobre, seu grande infortúnio. Mas ela amava que vissem sua beleza, e tinha sempre algum homem saindo de seu barraco, ao lado do de Abdul, enquanto seu pobre marido trabalhava. Fátima e Zehrunisa – mãe de Abdul – acabam sempre brigando. Até o dia em que ela colocou fogo no próprio corpo e acusou os Husain de tentar matá-la.

Ficamos conhecendo também Sunil Sharma, um menino que cata lixo para sobreviver, mas sonha é em ficar rico e sair daquele lugar. Ele faz o que pode para sobreviver, tentando não se aliar aos ladrões e drogados, mesmo nos dias em que a fome é insuportável. Manju é a moça mais bonita da favela, estuda e quer ser professora, mas o futuro de ninguém é garantido por ali. Manju é filha de Asha, a senhora da favela, que fez o que precisava para garantir alguma influência. Asha ajuda quem pode pagar, da propina garante os estudos da filha.

Asha recebe dinheiro do governo para manter uma escola funcionando na favela, normalmente estas escolas só funcionam em dia de inspeção. Sua filha mantém a escola aberta, embora sua mãe odeie que a filha perca seu tempo com isso. A policia prende e solta quem paga mais. As freiras do orfanato vendem todas as doações, e mantêm as crianças com o mínimo possível. Suborno de tudo e de (quase) todos, esta é a realidade que iremos conhecer.
“Algumas semanas atrás, Abdul tinha visto um menino decepar a mão quando estava enfiando plástico dentro de um dos trituradores. Os olhos do menino se encheram de lágrimas, mas ele não gritou. Em vez disso, ficou ali parado, com o sangue jorrando do ferimento, sua capacidade para o trabalho arruinada para sempre, e ele começou a se desculpar com o dono da fábrica.” p.41
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Eu já li vários livros de drama ou com romances bem tristes e reais, este é diferente. Inicialmente quando você olha para o livro, o título e a capa passam uma ideia de esperança, você espera uma historia real, é claro, mas que trará algo bom no final, um final feliz para - pelo menos - alguns daqueles moradores, que levam uma vida tão dura e triste. Meu ledo engano. O livro não trás isso, a escrita romanceada engana, acompanhamos todos os “personagens” capítulo a capítulo, mas a realidade estará sempre presente. E a esperança, fica toda no título. :P

Para mim o livro foi... uma desgraceira sem fim. É muita vida real para o meu gosto,  não tem de onde você tirar um sopro de alegria. O povo da favela vive do lucro da reciclagem do lixo e eles enganam uns aos outros o tempo todo; a senhora da favela ajuda a quem pagar mais, recebe verba do governo para projetos assistenciais e distribui o dinheiro para uma longa folha de pagamento dada por alguém mais poderoso. Os políticos roubam, as freiras roubam, a policia é toda corrupta, os juízes idem, não sobra nada! Até os médicos cobram para atender ou dar o medicamento, senão a família que compre e leve se quer evitar alguma morte. E vemos Abdul sendo acusado inocentemente e sendo empurrado para tudo aquilo.

Eu não consegui me envolver com a narrativa,  a autora escreve bem e alterna vários personagens que vão contando sua historia, mas apesar disso o livro não me prendeu. Eu fiquei triste e abalada com a situação toda, mas mesmo assim não me apeguei àquelas pessoas, com exceção talvez de Sunil e Abdul.

Não tenho muito mais o que falar, eu custei para terminar porque achei o livro chato, cansativo. Gostei de conhecer mais sobre a vida e cultura da Índia, mesmo sendo de maneira tão negativa com todo o cenário da desigualdade social. Pessoalmente não indico a leitura, imagino que quem goste de não ficção irá gostar mais do que eu, vi muitos elogios por aí, mas talvez por esperar outra coisa da historia eu tenha me decepcionado.

Avaliação (1 a 5):

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