O jardim secreto de Eliza - Kate Morton

>>  quarta-feira, 4 de novembro de 2015

MORTON, Kate. O jardim secreto de Eliza. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2009. 559p. Título original: The forgotten garden.

“Cassandra tomou um gole de chá e suspirou. Estava na Cornualha, como Nell tinha estado antes dela. Rose e Nathanael e Eliza Makepeace, antes disso. Enquanto murmurava o nome deles, sentiu um formigamento estranho na pele. Como fios pequeninos, sendo todos puxados ao mesmo tempo. Tinha um objetivo aqui, e não era chafurdar no próprio passado.
- Aqui estou, Nell – disse baixinho. Era isso que você queria que eu fizesse?” p.212

Eu não sabia o que esperar desse livro, nunca tinha lido nada da autora, mas uma amiga ganhou de presente e eu cresci o olho rs, capa linda e com notas altíssimas nas redes sociais de livros. Fiquei com vontade de conhecer a autora, mal sabendo que iria me apaixonar pela narrativa. Com um romance mais sombrio, realista e personagens complexos, além de uma trama intrincada que surpreende o leitor: O jardim de Eliza da Kate Morton.

Brisbane – Austrália, 2005
Cassandra Ryan acaba de perder a avó com quem morou desde os 10 anos, quando foi praticamente abandonada em sua porta pela mãe, e já adulta, quando voltou para cada depois de uma tragédia pessoal. Em seguida, descobre que herdou uma propriedade desconhecida por todos, na Inglaterra, um chalé que a avó nunca contou que existia. Sem saber o que fazer, começa a investigar e se depara com o passado da avó, uma mulher que foi adotada bem pequena e fez de tudo para descobrir sobre suas origens. Cassandra resolve seguir seus rastros e desvendar o que aconteceu.

Londres, 1970
Nell O’Connor ficou sabendo que era adotada assim que completou a maioridade. Apesar de sua falecida mãe implorar para que ele mantivesse o segredo, seu pai, Hugh, achou que era hora de contar. Ela foi achada no porto de Brisbane sozinha, chegando em um navio vindo da Inglaterra, quando tinha apenas 4 anos. Tudo o que tinha era uma pequena mala, um livro de contos de fadas e a  lembrança de uma mulher misteriosa, conhecida como a Autora. Quando descobre a verdade, toda a sua vida muda, sua relação com a família, seus planos para o futuro. Nell se sentiu desconectada do resto do mundo. Anos depois resolve finalmente partir em busca de seu passado.

Cornualha – Inglaterra, 1900
Eliza Makepeace era apenas uma criança quando perdeu a mãe. Depois de passar por muitos infortúnios, é resgatada por um tio rico, que a leva para viver na mansão da família. Apesar da tia, Adeline, ser uma mulher insuportável e do tio Linnux ser estranho e meio assustador, ela adora a prima, Rose Mountrachet. As duas não poderiam ser mais diferentes, mas se tornam inseparáveis. Rose era uma criança doente, Eliza era alegre e cheia de energia. Eliza amava escrever e contar histórias, tinha sempre um conto de fadas surgindo em sua mente. Eliza amava os jardins da propriedade e acaba construindo um jardim muito especial. 

Três gerações de mulheres, ligadas para sempre. Por amor, pela dor e pelo destino. Uma história que nunca foi contada. Cabe a Cassandra desvendar o passado e cabe aos outros, contar essa história. Dos diários de Rose, aos contos de Eliza, até o caderno rabiscado de Nell, das histórias dos descendentes e dos que ainda se lembram, todos guardam segredos, e mentiras.

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Não acredito que eu passei a vida sem conhecer essa autora, sério! Kate Morton tem um estilo diferente, sombrio, pesado, seu romance é essencialmente agridoce, com um traço gótico. E o mais interessante é que esse livro – assim como outros da autora pelo que pesquisei –, foi inspirado em antigas histórias, com ares de contos de fadas. Livros que eram lidos para as crianças durante a infância, que muitos de vocês conhecem, ganharam uma nova versão, mais sórdida e realista. Viraram histórias adultas, sádicas, falando de pessoas egoístas, falsas e loucas.  A história desse livro foi inspirada no livro O jardim secreto da Frances Hogdson Burnett, muito conhecida também pelo livro A princesinha.

Voltemos ao enredo. A autora escreve de forma magistral, é incrível a forma como ela vai juntando todos os fatos e personagens, deixando uma ponta de informação aqui, outra lá, ligando todos os fios com perfeição. A narrativa se alterna entre várias épocas e pessoas, como eixo principal temos Cassandra, Nell e Eliza. Mas também vemos o mundo pelos olhos de Rose, Nathaniel, Linnux, Adeline. Em vários momentos eu sabia que algo de ruim ia acontecer, até porque sabia o que tinha acontecido no futuro, mas não imaginava como as coisas chegariam nesse ponto. Os personagens são tão realistas e imperfeitos que chegam a ser palpáveis. A solidão e o amor incondicional de Eliza, o egoísmo de Rose, a crueldade de Adeline e a loucura de Linnux. A fraqueza de Nathaniel, a dor de Cassandra, a forma como cada um deles se lançava cegamente em busca de um objetivo.

É um livro grande, com uma narrativa mais lenta e detalhada, mas não é um livro moroso em momento algum. Devorei cada página, me apeguei muitos aos personagens e principalmente ao mistério que gira em torno de Nell e seu passado. Desvendei parte do segredo, mas fiquei chocada com alguns desdobramentos.

Acho que não é uma história que todos os leitores irão amar, mesmo assim é um livro que eu gostaria muito que fosse mais conhecido no Brasil. É mais maduro, uma narrativa mais sombria, que vai evoluindo aos poucos. Não é um romance épico, ou várias cenas de ação ou suspense, ou ainda, um drama terrível. É uma história de vida, contada de uma forma que prende o leitor do início até o final. Kate Morton é uma eximia contadora de histórias, e o livro vai para a minha seleta lista de queridinhos. Leiam!

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