Mar da tranquilidade - Katja Millay

>>  segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

MILLAY, Katja. Mar da tranquilidade. São Paulo: Editora Arqueiro, 2014. 362p. Título original: The sea of tranquility.

“Eu odeio a minha mão esquerda. Odeio olhar para ela. Odeio quando ela trava e treme e me lembra que eu perdi minha identidade. Mas ainda assim olho para ela, porque ela também me lembra que eu vou achar o garoto que tirou tudo o que eu tinha. Vou matar o garoto que me matou, e farei isso com a minha mão esquerda.” p. 137

Esse livro me passou despercebido quando foi lançado, sempre tenho muitos livros da Arqueiro nos meus desejados e alguns acabam ficando de fora. E continuaria assim, se todo mundo não falasse maravilhas sobre ele. Nos blogs, no Clube das Chocólatras, eu só ouvia elogios. Imaginei que era um drama adulto, encontrei um New Adult. Confiram o que achei de Mar da tranquilidade da Katja Millay.

Aos 15 anos Nastya Kashnikov passou pelo inferno e sobreviveu, ou melhor, nasceu de novo e se reinventou. Foi aniquilada, destruída. Dois anos e meio depois, deixa para trás um passado impossível de enfrentar e se torna uma nova pessoa. Vai morar com a tia em outra cidade, muda seu nome, se veste e se comporta determinada a afastar qualquer intenção de amizade. Nunca mais falou. Na nova escola,  tudo o que sabem é que Nastya é russa, não fala e se veste como uma vagabunda. É isso o que mais quer, distância e solidão.

Josh Bennett, 17 anos, tem um campo de força natural que afasta as pessoas, ninguém se aproxima dele. Ele acredita que atrai má sorte, afinal, sua família foi se extinguindo aos poucos, tudo o que se aproxima, está fadado a morrer. O que afasta quase todos, atraí Nastya. Que fica intrigada com o garoto, atraída por aquela camada protetora de solidão. Drew Leighton é o melhor amigo de Josh, o único amigo, ele consegue ignorar toda essa besteira e não se afasta. Drew é mulherengo, imaturo e popular. E aceita a mudez de Nastya como um desafio, suas roupas quase inexistentes como um convite.

Com o passar dos dias, Josh fica curioso a respeito da misteriosa garota. Que parece mostrar tanto, mas que na verdade, esconde tudo.

“As pessoas gostam de dizer que o amor é incondicional, mas isso não é verdade. E mesmo que fosse incondicional, o amor nunca é de graça. Sempre vem acompanhado de uma expectativa.”

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Emocionante, verdadeiro e surpreendente. Uma das coisas que mais encontramos nos livros para jovens são os clichês, os estereótipos estão sempre presentes nos YA/NA: a patricinha, a periguete, o popular, o(a) maconheiro, o nerd/artista etc... E aqui a autora muda tudo quando dá uma basta e praticamente grita: NÃO JULGUEM NINGUÉM SEM CONHECER! E foi com o queixo caído que observei ela desconstruir todas as primeiras impressões e, aos poucos, construir personagens fantásticos, críveis, profundos e inesquecíveis. É também uma história de segundas chances e de descobertas.

Nastya se vestia como uma vagabunda, se maquiava como uma gótica, era muda, aparentava ser um pouco revoltada, mas aparentava mais ainda ser uma menina fácil. Ela não era nada disso. O leitor percebe isso logo no início, mas é com o passar do tempo que vamos percebendo o mesmo em todos os personagens, Josh, Drew (principalmente), sua irmã Sarah, Clay e muitos outros. Os personagens adultos também são interessantes: temos os pais de Drew, fofos e divertidos; a tia de Nastya, Margot com sua compreensão e irreverência; os pais da menina, que só tentam entender tudo o que aconteceu com a filha.

O enredo alterna menções ao passado com o presente, a narrativa também se alterna entre os dois protagonistas, Nastya e Josh. Eu fui lendo e roendo as unhas de curiosidade, tentando entender tudo o que acontecera com ela e o aconteceria quando começasse a falar. O romance acontece bem aos poucos, é mais uma descoberta do que uma atração. Os dois são fofos juntos, mas antes de tudo, nasce uma amizade. Dois esquisitos, dois solitários que se aproximam, e mal conseguem acreditar no que está acontecendo. Gostei dessa descentralização, do emocional ser mais importante do que a pegação, da relação ir se desenvolvendo de forma linear.

Apesar de ser um new adult, com personagens adolescentes, é essencialmente um livro adulto. A narrativa forte, inteligente. Tudo acontece aos poucos, os dramas são bem dosados e cada sentimento é explorado. Os personagens são tão bem construídos que são praticamente palpáveis. Terminei a leitura encantada, teve algumas coisinhas que não gostei (por exemplo, achei que uma cena de quase estupro foi mostrada de forma muito banal), mas o saldo final foi totalmente positivo. Algumas pessoas comentaram que acharam lento, mas não tive essa sensação, achei muito bem desenvolvido.

Da capa maravilhosa até o final da leitura, foi uma história inesquecível. Eu me apaixonei pelos personagens, torci e chorei por eles. Grudei em cada página, curiosa para saber o final. Primeiro favorito de 2016, será que vocês vão esperar até eu postar o Top 10 do ano para ler? rs. Leiam!

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