Toda luz que não podemos ver - Anthony Doerr

>>  quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

DOERR, Anthony. Toda luz que não podemos ver. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2015p. 528p. Título original: All the light we cannot see.
           
“Não basta apenas fechar os olhos para tentar descobrir o que é a cegueira. Por trás do seu mundo de céus, rostos e edifícios, existe um mundo mais antigo e mais cru, um local onde os planos da superfície se desintegram e os sons se movimentam em faixas formando grupos no ar.” p.391

Vencedor do Pulitzer de ficção 2015 e com mais de 1 milhão de exemplares vendidos! Toda luz que não podemos ver alcançou um sucesso que surpreendeu o autor americano Anthony Doerr. O livro é ambientado na Europa durante a Segunda Guerra Mundial e possui uma narrativa mais densa, o que normalmente não atrai um público amplo. Hoje conto para vocês o que achei. 

Paris, 1934
Marie-Laure LeBlanc vive em Paris com o pai, chaveiro do Museu de História Natural. Daniel LeBlanc trata a filha como seu único tesouro, principalmente depois que a menina ficou cega, aos 6 anos, dependendo de cuidados constantes. Ele a ensina tudo, logo Marie-Laure está lendo longos livros em braile, se locomovendo bem dentro de casa e aprendendo a andar pelas ruas do bairro. O pai construiu uma maquete em miniatura, com todos os detalhes das ruas, para que a filha aprendesse a se localizar.

Alemanha, 1934
Werner Pfennig vive com a irmã mais nova, Jutta Pefnnig, em um pequeno orfanato na Alemanha. Quando encontra um rádio quebrado, aos 8 anos, fica fascinado com o mecanismo e logo se especializa em desmontar e consertar os rádios da vizinhança. Sua inteligência lhe garante uma vaga em uma escola nazista. Irá se tornar um soldado. Lá ele passa alguns anos, fica amigo do frágil Frederick e do enorme Frank Volkheimer.

Paris, 1940
Quando a idade é ocupada pelos nazistas, Marie-Laure e o pai se mudam apressadamente, para morar com o tio, Etienne LeBlanc, na cidade de Saint-Marlo. Daniel leva em segredo, atendendo ao pedido do diretor do museu, um enorme diamante. A pedra conhecida como “Mar de chamas” é um dos maiores tesouros do museu. Para despistar os invasores, três diamantes falsos são dados a pessoas diferentes, apenas uma delas carregaria o quarto, o original. Nenhum deles sabia qual era o verdadeiro. A pedra tem uma lenda, carrega uma maldição.

Na bela cidade perto do mar, o pai logo começa uma nova maquete, enquanto Marie-Laure fica na enorme mansão da família. Lá vivem Madame Manec, que cuida da casa há anos, e Etienne, o tio avô da menina. Ele não sai de casa há vários anos, devido a traumas do passado, e agora, tem a companhia da sobrinha. Com o avanço da ofensiva alemã, a vida vai ficando cada dia mais complicada.

Aos 16 anos, Werner  deixa o internato na Alemanha e é enviado com uma equipe em uma missão especial. Ele precisa localizar transmissões de rádio nas cidades ocupadas e prender os responsáveis. O rapaz não se conforma pelas vidas que destruíram no caminho. Dois anos depois, quando chega a Saint-Marlo, seu caminho irá se cruzar com o de Marie-Laure, quando ambos tentam sobreviver aos horrores da guerra.

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Esse é um romance que irá despertar emoções diferentes, dependendo da preferência de cada leitor. Tem fãs fervorosos, que o elegeram como o melhor livro do ano passado, tem quem não gostou e se decepcionou. E tem gente como eu, que gostou, mas não achou essa Coca-Cola toda rs. Já li muitos romances de guerra, esse é um pouco diferente, com características positivas e negativas. O livro não foca na guerra, e sim, na essência das pessoas. É com estranheza que encontramos um Nazista simpático e muito inteligente, e uma menina cega que entra para a resistência francesa. 

A história é narrada em terceira pessoa. Apesar dos protagonistas serem Marie-Laure e Werner, os coadjuvantes roubam as cenas. Talvez por eles serem tão jovens! Eu esperava um romance adulto, encotrei dois jovens, de 16 e 18 anos, respectivamente. Personagens como Etienne, Daniel, Madame Manec e Frederick, cativam logo o leitor. É um livro que fala principalmente sobre as pessoas, sobre como a bondade pode prevalecer, mesmo nas piores situações. A premissa e o lirismo do autor, o diferencia muito dos romances que costumo ler sobre a Segunda Guerra, afinal, normalmente o foco é  a maldade humana, a desolação e o sofrimento. Aqui temos todo esse cenário, mas as pessoas conseguem despertar o melhor nas outras, se unirem, travarem pequenas batalhas, se ajudarem. Ter remorso pelo que foram obrigados a fazer, no caso dos soldados, ou enxergar o mundo de forma totalmente diferente, como Marie-Laure. Temos também o pai da menina, que descreve o mundo para ela, minimizando ou embelezando o que acontece ao redor.

Capítulos pequenos intercalam personagens e saltos temporais. A vida dos dois antes da guerra, a vida deles no início dos anos 40 e no final de 1944. A narrativa vem e volta, um artifício que consegue prender a atenção. A leitura não foi cansativa, mas foi lenta e excessivamente descritiva. São trechos densos sobre tecnologia de rádio, ligações de carbono, trigonometria e quase um resumo de Vinte mil léguas submarinas (um dos livros que a menina lê durante a guerra). Muitas cenas desnecessárias, muitos pensamentos e muita filosofia permeiam toda a narrativa de mais de 500 páginas. Os nazistas foram descritos apenas como soldados. Sem atitudes sádicas, os sofrimentos da guerra acontecendo para todos os personagens, não houve destaque para a segregação nazista. O único nazista realmente ruim, um oficial que está a procura do diamante, é descrito como alguém doente, manco, a beira da morte... digno de pena. Achei meio forçado. 

E para mim faltou algo primordial, emoção. Apesar de achar algumas passagens bonitas e de ter adorado o final, o livro não me emocionou. Não consegui me apegar aos protagonistas, um romance de guerra que não me fez chorar, a primeira vez em que isso acontece. Era tudo muito bonito, muito bem escrito, mas faltou algo mais em minha opinião. Senti falta de drama, de mudanças. O que mais me decepcionou foi o encontro dos dois, eu esperava algo totalmente diferente, e tudo se passou em poucas páginas. Gostei muito do final, mas no fundo, acho que eu esperava mais da leitura como um todo.

Eu gostei de ter lido, não é um livro que vá entrar na minha lista de favoritos, mas foi uma leitura diferente do que leio normalmente. Quem leu não deixe de me contar o que achou. Leiam! 

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Avaliação (1 a 5): 3.5



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