Boa noite - Pam Gonçalves

>>  segunda-feira, 3 de outubro de 2016

GONÇALVES, Pam. Boa noite. Rio de Janeiro: Galera Record, 2016. 240p. 

Resenhar um livro nacional é sempre difícil. Talvez a sensação de que o autor está próximo, nos leve a ter medo. Medo de criticar, medo de apontar os defeitos.

O exercício que faço nestes momentos é ignorar a nacionalidade do autor. Julgá-lo pela sua obra, não pela sua influência, não pelo contato que tenho com ele nas redes sociais. Talvez seja essa influência que motiva a criação do clã dos fãs xiitas espalhados por aí, que defendem com unhas e dentes histórias que, na minha humilde opinião, não merecem ser defendidas porque ainda estão cruas, porque ainda precisam ser melhor trabalhadas.

Quando vi que a Pam lançaria um livro solo, fiquei curiosa. Sei que está na moda Youtubers lançarem livros sobre sua vida (alguém me explica a utilidade de uma biografia de uma pessoa que acabou de fazer 18 anos!!!), mas a Pam fala sobre livros. Seu canal é um dos poucos canais literários que acompanho e geralmente, nossas opiniões batem.

Então, vamos falar da estreia solo da Pam e o que achei da história. Vamos falar sobre Boa Noite.

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Alina tem 18 anos e acabou de se mudar do interior de Santa Catarina para uma cidade universitária perto de Floripa para cursar Engenharia da Computação, curso que ela nem escolheu por vontade própria. Sua boa relação com matemática e lógica fez com que seus professores do colégio a incentivassem a seguir esta carreira. Ela nem sabia direito em que poderia se especializar! Apenas aceitou a sugestão e se matriculou. Alina só quer ter a oportunidade de se reinventar, de ser uma pessoa diferente da "Nerd Esquisitona" que era no colégio.

Então, sozinha, encontra uma república e tenta inscrever-se nela. E é justamente o título de Nerd Esquisitona que faz com ela consiga uma vaga na República das Loucuras. A República é um prédio de tijolos, de dois andares e lá residem a Manu, uma estudante de Comunicação de cabelos coloridos, a Talita e na maioria do tempo o Bernardo, estudantes de Administração que se agarram o tempo inteiro e o Gustavo, um aluno da Medicina.

Alina logo é acolhida por aqueles Loucos. Com certa timidez, acaba concordando em sair na companhia deles para festas e bares, com objetivo de usufruir tudo que a cidade universitária pode fornecer. Afinal, a garota quer expandir seus horizontes, ser uma pessoa descolada.

Além de aprender a lidar com este novo mundo de descobertas, Alina ainda precisa provar que a maioria dos seus colegas de turma e professores estão enganados. Precisa que saibam que os cursos de exatas podem ser cursados por mulheres, que ninguém deve duvidar da capacidade de uma pessoa baseada exclusivamente em seu gênero.

E quando tudo parece se acertar, uma bomba envolvendo drogas, abuso sexual e uma página de fofocas no Facebook explode na sua frente.

Como e se Alina sairá dessa, descubra em Boa Noite.

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Quando vi a capa do livro (que achei linda, por sinal) e o título, comecei a criar histórias mirabolantes na minha cabeça, sobre um romance fofo e açucarado, mas este não é nem de longe o mote principal da história.

O Boa Noite é em referência à prática do "Boa Noite, Cinderela", onde as mulheres são drogadas para serem abusadas. Então a história está longe, muito longe do que eu esperava num primeiro momento e isso me surpreendeu positivamente. 

Após as 25 primeiras páginas já fui absorvida pelo enredo e pelo clima divertido da faculdade. A Pam escreve bem, esclarecendo meu principal questionamento ao saber do lançamento do livro. A leitura é fácil e flui bem. Quando me dei conta, eram 3:20 da manhã e eu tinha terminado o livro em uma sentada! Ou seja, devorei. 

A Alina é tímida, insegura e algumas vezes, sem sal. Queria que ela fosse mais forte, que não ficasse chorando porque seu peguete de alguns dias passou o fim de semana sem ligar. Gostei mais dos coadjuvantes do que da protagonista. A Malu, principalmente. Ela é pirada e é ótima! Queria tê-la como amiga. 

Como uma pessoa formada em Exatas (sou Estatística) e até meio nerd, devo admitir, tive certa dificuldade em ler sobre tanto preconceito contra mulheres que gostam de números. Ok, isso pode acontecer e devido à minha descrença no assunto, saí conversando no Skoob e Whatsapp com amigos leitores e li relatos de quem já presenciou atos assim. Ver alguém duvidando da capacidade intelectual apenas baseado em gênero, não vou mentir, como mulher, dói. Gente, Cálculo não é um bicho de sete cabeças (Tem apenas 3! rs). Esse é um dos tipos de preconceito que a história tenta quebrar (e que eu nem sabia que existia!).

São abordados, mesmo que de maneira leve, diversos outros tipos de preconceito, como racial, por exemplo, o que acho super válido.

Tem romance? Tem! Não posso entrar em detalhes para não dar spoiler, mas eu queria mais. Fiquei meio chupando dedo neste quesito.

Agora vamos para a parte delicada. O ponto principal da história, o que está por trás do título do livro. Me senti em parte enganada. Li, li, li esperando que algo impactante acontecesse com a protagonista e nada. Se a Pam tivesse sido ousada, se tivesse me feito sofrer, o livro seria 5 estrelas.

Apesar das iniciativas e ideias dadas no livro para evitar que casos de abuso ocorram, achei que o tema foi abordado de maneira rasa. Não me entendam mal! Há muitas histórias tristes e que deixam nosso coração na mão, mas a autora perdeu a oportunidade de pegar o nosso coração e estraçalha-lo como uma folha de papel. Uma pena.

A edição é bem feita, mas não entendi porque a primeira página de cada capítulo foi impressa em tamanho para míopes. Talvez, seja porque o livro já é curto e tenha sido o recurso para ganhar mais algumas páginas.

No mais, é um ótimo livro de estreia. Com certeza lerei outras histórias da Pam.
Recomendo.

Adicione ao seu Skoob!

Avaliação (1 a 5): 3,9

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