Maré Viva - Cilla Börjlind e Rolf Börjlind

>>  quinta-feira, 13 de abril de 2017


BöRJLIND, Cilla. BöRJLIND, Rolf. Maré viva. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2015. 512p. (Rönning & Stilton, v.1). Título original: Spring tide.

Sinopse: Olivia Rönning é uma jovem estudante da Academia de Polícia. Filha de um policial do departamento de homicídios, seu faro para juntar pistas e resolver mistérios é posto à prova quando resolve investigar um caso não concluído, prestes a parar no arquivo morto da polícia, como trabalho de faculdade. Trata-se do assassinato de uma mulher grávida, ocorrido na gelada e chuvosa ilha de Nordkoster, em 1987. O que Olivia não imagina é que a investigação trará muito mais perguntas do que soluções, a começar pelo misterioso desaparecimento do policial responsável pelo caso, entre outras descobertas surpreendentes. Dois dos principais nomes por trás das séries de TV policiais na Suécia, o casal Cilla e Rolf Börjlind apresenta em, Maré viva, um thriller que faz jus à badalada literatura policial escandinava contemporânea.

Uma das melhores coisas que a Coleção Millenium (Lisbeth Salander e Mikael Blomkvist) trouxe a minha vida foi a literatura policial nórdica. Foi um marco para mim: livros policiais antes e depois dos nórdicos, especialmente os suecos.

Tenho uma queda pela suécia: Abba é uma das bandas que mais gosto, Mamma Mia! é um dos meus musicais favoritos, babo horrores  quando vejo um Volvo na rua, Erick o Vampiro Nórdico de True Blood é o melhor personagem de todos os romances vampirescos da história, Alexander Skasgard faz meus tornozelos cederem e meu corpo formigar, e a seleção sueca de futebol masculino é plenamente capaz de me fazer torcer contra a seleção canarinho, mesmo em uma final da copa do mundo.

Com esse meu histórico, não era de se surpreender que quando começou a onda de autores suecos publicados tanto em inglês quanto em português, eu mergulharia de cabeça nessa onda, sem medo de tomar caldo ou me afogar.

É nesse contexto todo que entra o livro Maré Viva, da dupla dinâmica de autores Cilla Börjlind e Rolf Börjlind. Os dois já eram famosos na Suécia como roteirista de séries de televisão (especialmente suspenses policiais) e alguns filmes, e levaram a parceria para o mundo dos livros. Maré Viva foi o primeiro deles que eu li, e foi uma grata surpresa, que me fez querer mais.

O livro apareceu na minha vida do nada, no fundo de uma prateleira da Livraria Leitura do Pátio Savassi. Um vendedor simpático disse que leu o livro e gostou bastante, fazendo comparações entusiasmadas à série Millenium. Como esse mesmo vendedor me indicou com paixão o livro A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert, que detestei com todas as forças, não ia confiar assim de cara. Resolvi então usar uma cobaia, a minha querida amiga Mellina (beijo, Mell!). Mellina faria aniversário nas semanas seguintes, e resolvi comprar o livro para ela. Nossos gostos são parecidos, então eu sabia que na opinião dela eu podia confiar.

Devidamente presenteada, Mellina demorou 1 mês para começar a ler o livro, e quando começou não mais parou, e também elogiou bastante. Neste momento o livro entrou na minha lista de desejados e passei a procurar por ele em todas livrarias. O problema é que ele estava esgotado na internet e nas livrarias, e só encontrei semanas depois, de novo na leitura, por um preço muito salgado. Enfim, acabei comprando 2, pois nesse momento outra amiga (beijo, Silvinha) também estava envolvida na busca e empolgada com a história, e estava finalmente com o livro em mãos e MUITO mais pobre no banco.

Por que contei tudo isso? Porque era necessário mostrar como as expectativas eram altas, e se o livro não respondesse, ganharia um ódio mortal em forma de xingamentos, advindos desta que vos escreve. É muito complicado quando temos expectativas para suprir, ou um início alucinante para fazer jus, e uma premissa de babar. E incrivelmente, esse livro conseguiu fazer tudo isso: supriu e superou as expectativas, começou de um jeito bom e forte e terminou melhor ainda, com ganchos para outros livros, mas dando fim a história introduzida no primeiro.

Um problema que este livro enfrenta é a inevitável comparação com a série Millenium. Olivia Rönning tem um ar de Lisbeth, mas não é tão cativante quanto. Tom Stilton é um Mikael Blomkvist que desistiu da vida. Eles não chegam aos pés dos outros personagens, o que é uma pena. A dinâmica é diferente, a história é outra, mas a narrativa é muito similar. É o mesmo estilo de escrita: capítulos totalmente diferentes, sem relação que do nada se encaixam e abalam estruturas. Para mim, a nota só não é maior por que não é algo que eu nunca vi antes, mas a grande vantagem é que não fica atrás na comparação, mesmo ela estando ali presente o tempo inteiro. Outro problema é a narrativa em primeira pessoa, quando acontece. Nesses momentos, achei o texto pobre, um pouco descritivo demais, e sem profundidade. Quando sai desse tipo de narração, melhora bastante, mas isso realmente incomoda.

Quanto aos pontos positivos, se o livro perde no carisma personagens, ele ganha no desenvolvimento da história. Ao invés do clássico capítulo final que desvenda tudo, menos algumas pequenas coisas que ficam pendentes, Maré Viva faz diferente, e para mim faz melhor: a história se desenvolve até 2/3 terços do livro, e depois fica por conta de resolver os mistérios. As histórias começam a se encontrar no terço final do livro, e a solução vem aos poucos, em doses pequenas, para saborearmos e prepararmos para mais. Assim, quando aceitamos e acostumamos com uma surpresa, outra já aparece, e assim em diante, até a última página do livro. Ou seja, o ritmo é excelente, bem resolvido, e não fica nenhuma ponta desamarrada. Dá para ver bem a origem dos autores: roteiros de filmes e séries.

Não vou dar spoilers, fiquem tranquilos, só direi que gostei muito do final. Fazia muito tempo que não gostava tanto de um final assim. Completamente surpreendente. Os personagens poderiam ser melhor escritos, especialmente nas narrativas em primeira pessoa. No mais, a outra reclamação é somente as coincidências com Millenium que chegam a exagerar.

Para escrever essa resenha, consultei meu histórico no Skoob, e um dos meus comentários foi o seguinte:

"A leitura me cativou e estou vidrada. A narrativa é igual ao estilo de Os Homens que não Amavam as Mulheres (mais conhecido como Lisbeth 1), mas é bom. E sendo bom, meu comentário é o seguinte: e daí se é cópia ou não????"

Se é bom, que mal tem? Por mim, podem copiar todo o estilo, desde que continue em alto nível.

E que venha a continuação!

Adicione ao seu Skoob!

Série Rönning & Stilton:
  1. Maré viva (Spring tide).
  2. Terceira voz (Third voice)
  3. Svart gryning (Os demais ainda não lançados no Brasil)
  4. Sob du lilla videung.

Avaliação (1 a 5):

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