Melodia Mortal – Pedro Bandeira e Guido Carlos Levi

>>  sexta-feira, 28 de julho de 2017

BANDEIRA, Pedro; LEVI, Guido Carlos. Melodia mortal: Sherlock Holmes investiga as mortes dos gênios da música. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2017. 240p.

Sinopse: Será que Mozart foi assassinado por Salieri? Tchaikovsky morreu de cólera ou envenenamento? Chopin morreu mesmo tuberculoso? E Beethoven, foi vítima do alcoolismo? A resposta, ou, pelo menos, algumas hipóteses plausíveis para essas perguntas estão em Melodia mortal, estreia na ficção adulta de um dos maiores autores para o público juvenil do país. Escrito a quatro mãos por Pedro Bandeira com o médico Guido Carlos Levi, o livro examina, à luz dos conhecimentos da medicina contemporânea, os indícios possíveis sobre as mortes polêmicas de alguns grandes compositores da música clássica. E quem conduz a investigação é ninguém menos que Sherlock Holmes, auxiliado pelo seu fiel escudeiro, o doutor John H. Watson, que narra as aventuras do detetive na empreitada. Talvez não seja possível, tanto tempo depois, elucidar a causa dessas mortes que a medicina da época não foi capaz de precisar, mas a diversão é garantida neste romance cheio de teorias científicas e enigmas que formam um intricado quebra-cabeça, na tradição da melhor literatura policial.

Ter um novo livro do Pedro Bandeira nas prateleiras da livraria é a mesma sensação de ver uma série como Stranger Things na lista de escolhas da Netflix. Os dois são uma saudação à nossa infância e adolescência, algo que me foi impossível resistir. Assim que vi o lançamento, li a sinopse, coloquei imediatamente a obra na lista de desejados.

Não há nada mais in e na moda do que reviver o passado, então achei sensacional a aposta no novo livro do autor mais querido dos Millenials de 1ª Geração, aqueles que cresceram com a nave da Xuxa, Sessão da tarde, e diversos trabalhos de português na escola foram feitos com A Droga da Obediência. Várias pessoas (eu aqui incluída) descobriram com as obras do Pedro Bandeira de que a leitura podia sim ser um prazer, e não apenas mais uma chata obrigação passada pelos professores.

O engraçado é que o roteiro de Melodia Mortal trabalha com uma veneração quase religiosa à Sherlock Holmes e Dr. John Watson.  Engraçado por que no mesmo ano que a escola me obrigou a ler Pedro Bandeira, também fui obrigada a ler Um Estudo em Vermelho, de um certo autor britânico chamado Arthur Conan Doyle. Sim, conheci Sherlock Holmes em sua primeira aventura no mesmo ano que conheci os livros voltados para adolescentes em crise, característicos de Pedro Bandeira. Assim, quando li a sinopse, um sorriso torto passou pelo meu rosto, as lembranças vieram na minha mente e o saudosismo da modinha tomou conta do meu espírito, que foi suficiente para colocar as expectativas nas alturas.

Quem me conhece, ou já leu alguma das minhas resenhas, sabe que isso é um sério problema...

Para tentar descrever melhor as diversas facetas do livro e da publicação, mais uma vez dividirei a resenha em segmentos. Começaremos com os pontos positivos, passaremos depois para o que não me agradou, e no fim, a conclusão.

A Edição: O livro é lindo, a edição é quase uma obra de arte, e quando o meu exemplar chegou, fiquei um bom tempo apenas admirando o trabalho artístico realizado. A capa é linda, com detalhes em xadrez, referência ao traje sherloquiano. A separação entre capítulos, qualidade das páginas, explicação da história, do conceito, da participação do amigo e agora autor Guido Carlos Levi, e a inserção da música na história foi muito importante e ficou muito bem feita. Resumindo, é um livro que dá para comprar pela capa, um trabalho muito bem feito.
A Premissa: O livro trabalha com a ideia de investigar as mortes dos gênios da música, analisando seus sintomas, doenças e falecimentos com conhecimentos da medicina moderna. Levi, coautor, é médico de formação e amante de música clássica, e Pedro Bandeira é um gênio para escrever, com toques de mistério. Assim, juntaram as forças e criaram um livro de investigação médica, sem esquecer a beleza das composições e as intrigantes vidas dos músicos gênios. Ao decidir por um livro de investigação, decidiram dar continuidade ao personagem Sherlock Holmes, narrado pelo seu companheiro médico, John Watson, uma clara brincadeira com a profissão e habilidades dos dois autores. Essa premissa me interessou bastante e é capaz de agradar, bem como educar aos leigos sobre a vida e história dos compositores “investigados”.

Porém, tive sérios problemas com a execução dessa premissa, o que me leva aos pontos negativos da resenha:

O Texto e as hipóteses médicas: Não tenho problema com coautorias, desde que o texto não pareça uma colcha de retalhos e dê a ideia de ter sido escrito por uma pessoa apenas. É exatamente nisso que o livro falha: conseguimos perceber com exatidão quem escreveu que trecho, que parágrafo, quem elaborou que ideia, que desenvolvimento da história é interferência de que autor. As partes da medicina são muito descritivas e até muito cautelosas no texto, como se o autor tivesse medo de fazer algum diagnóstico definitivo. Foi esquecido que este é um livro de ficção, não uma consulta médica com responsabilidades ao paciente. Não li o livro para saber o que TALVEZ tenha matado Mozart; Li o livro para saber O QUE matou Mozart. E não precisa de exatidão: poderiam criar zumbis, super heróis, vilões enigmáticos, morangos envenenados, não importa. Como leitora de um livro de mistério policial, preciso de um final, um fechamento. Mesmo que distopia. Ninguém está em busca de exatidão, ou compraríamos o livro na sessão médica. Faltou confiança, e talvez até experiência.

O Público Alvo: Lembram da minha expectativa? Pois é, imaginei que seria um livro para o público adulto matar a saudade da adolescência e dos clássicos do autor. Acabou que o livro não conseguiu isso (até agora não sei se foi de propósito ou não, resta a dúvida), e é muito mais uma obra para jovens/adolescentes do que para adultos saudosistas. Qual o problema disso? Nenhum. O problema é que não foi essa a ideia que tive nem a que me foi passada. E mesmo que o público alvo seja o infanto-juvenil atual, vejo problemas. Muitas vezes o texto é paternalista, e os trechos de indicação no final do capítulo são por vezes pretenciosos. Se eu achei isso, imagino alguém mais novo, crescido em meio a redes sociais e com informações a segundos de distância. Não é o melhor sentimento a se evocar.

A Conclusão: Me decepcionei bastante com o livro, e não acho que ele entregou o prometido. Não satisfez meu saudosismo de antiga leitora, e nem me parece ter a sinergia da nova geração de jovens leitores. Uma boa ideia não tão bem executada que, infelizmente, não ganha a minha indicação.

Continuo destacando a importância e a história do autor na minha vida e na de diversos leitores, mas acho que esse livro não atinge as expectativas, e poderia ser melhor.

Nada mais triste que uma ótima ideia que não alcança seu potencial.

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