O Perfume da Folha de Chá – Dinah Jefferies

>>  sexta-feira, 26 de janeiro de 2018


JEFFERIES, Dinah. O Perfume da Folha de Chá. São Paulo: Editora Paralela, 2017. 432p. (Título Original: The Tea Planter's Wife)

Sinopse: Em 1925, a jovem Gwendolyn Hooper parte de navio da Escócia para se encontrar com seu marido, Laurence no exótico Ceilão, do outro lado do mundo. Recém-casados e apaixonados, eles são a definição do casal aristocrático perfeito: a bela dama britânica e o proprietário de uma das fazendas de chás mais prósperas do império. Mas ao chegar à mansão na paradisíaca propriedade Hooper, nada é como Gwendolyn imaginava: os funcionários parecem rancorosos e calados, e os vizinhos, traiçoeiros. Seu marido, apesar de afetuoso, demonstra guardar segredos sombrios do passado e recusa-se a conversar sobre certos assuntos. Ao descobrir que está grávida, a jovem sente-se feliz pela primeira vez desde que chegou ao Ceilão. Mas, no dia de dar à luz, algo inesperado se revela. Agora, é ela quem se vê obrigada a manter em sigilo algo terrível, sob o preço de ver sua família desfeita.

Eu não resisti a compra desse livro quando li a sinopse acima. A protagonista de chama Gwendolyn Hooper, o marido Laurence, se passa em 1925, trata de romance de sociedade com desafios de classe e segredos da tradicional sociedade patriarcal da época. É só trocar o nome para “Guilhermina Coelho” e “Laurentino”, mudar a história para Portugal e temos o enredo da próxima novela de época das 6. E para mim, isto é um elogio!

Adoro histórias com esse enredo e desenvolvimento, e, junto com uma capa sedutora com ares de cartaz de filme hollywoodiano (reparem, a mulher da capa parece a atriz Jessica Chastain, se ela tivesse cabelos pretos), a compra foi feita (e foi feita em dobro, pois minha grande amiga Silvia Mati estava comigo e também foi hipnotizada pelas possibilidades do livro).

Parabéns para a editora, fizeram o trabalho direitinho: literalmente compramos o livro pela capa e pela sinopse. Esse foi um trabalho bem feito. Agora restava apenas saber se satisfaria a necessidade de uma leitora que queria um romance de época, bonito, com sofrimento mas amor, sem cair nas narrativas estupidamente machistas e preconceituosas que vários romances de época adotaram ultimamente.

E o resultado...

Bem, digamos que tudo que eu podia dizer de positivo sobre este livro é o que disse sobre a capa dele.

Infelizmente comecei 2018 com um livro que simplesmente não se encaixou comigo. E foram vários motivos para isso, mais do que consigo escrever sem transformar essa resenha em um catálogo de incitação ao ódio. O que me deixa mais desconsolada é o fato deste livro ser favorito de muitas pessoas, o fato de na minha pesquisa para saber se alguém detestou tanto quanto eu, eu ter encontrado relatos apaixonados sobre a história. Me deixa muito triste o fato de saber que este livro será do agrado de muitos, e ao ler esta crítica, provavelmente vocês se privarão de um livro que gostarão muito, mas agora considero como meu dever e obrigação falar sobre como histórias assim não têm mais lugar nos dias de hoje, e como há materiais melhores para ter como favoritos.

Sim, minha militância contra este livro é a maior possível!

As razões para isso? A história não se desenvolve num ritmo homogêneo, o suspense não é atraente, e as revelações vêm sem clímax, de maneira corrida e são simplesmente sem nexo. Ao final, a sensação é de todos os personagens serem pessoas fúteis, idiotas, mentirosas, enganadoras, vis, preconceituosas, machistas e burras. Os motivos de chantagem não fazem sentido, os segredos escondidos são patéticos, a solução dada é de nível primário e preguiçosa, e algumas situações beiram a ficção científica.

Para piorar, as tentativas da autora em transformar o livro em romance de época foram nada mais que patéticas, infantis inclusive, lotadas de preconceitos, clichês e anacronismos imperdoáveis e completamente desnecessários. Isso, somado a situações imperdoáveis de machismo, tratamento da mulher (especialmente pela própria mulher), noções completamente equivocadas sobre genética, raça e gênero, bem como personagens fracos, superficiais e irritantes, bem, tudo isso tornou essa leitura simplesmente insuportável.

Não indico esta leitura para qualquer pessoa humana. Há livros melhores, e nem como uma leitura despretensiosa para passar o tempo esse livro vale. Na verdade, nem como peso de papel eu indico este livro (pois a capa tem relevos que atrapalhariam o devido uso).

Não há nada bonito ou honroso ou a aprender com o tipo de sofrimento ou as situações relatadas neste livro. Não há nada digno de se apaixonar. Na verdade, nós mulheres devemos escolher melhor as histórias, melhor nossos prazeres, nossas paixonites literárias, pois nossa reação diz muito sobre a sociedade e os preconceitos que vivemos e barreiras que tentamos superar. Se você leu e gostou deste livro, gostaria de conversar com você sobre os problemas sistêmicos que ele representa, nenhum deles levantados INTENCIONALMENTE pela autora, mas sim como falha de sua manifestação literária. Assim, quem sabe, posso entender melhor o outro lado, expor as minhas opiniões e podemos manter um diálogo saudável.

No final das contas, finalmente achei uma indicação deste livro: Ele é um excelente exemplo do que devemos evitar, e como somos melhores do que histórias assim.

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Avaliação (1 a 5): 0,5







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