Jogo de espelhos - Cara Delevingne

>>  quarta-feira, 9 de maio de 2018

DELEVINGNE, Cara; COLEMAN, Rowan. Jogo de espelhos. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2017. 304 p. Título original: Mirror, Mirror.

Você já ouviu falar em Cara Delevingne? Ela ficou famosa como modelo, vencendo duas vezes como modelo do ano na British Fashion Awards nos anos 2012 e 2014. É também atriz, e você provavelmente a viu, se assistiu à adaptação do livro Anna Karenina, lançada em 2012, ou se assistiu ao filme do aclamado John Green, Cidades de papel, ou Esquadrão Suicida, ou Valerian e a cidade dos mil planetas, o último filme da atriz. Tirando Anna Karerina, que prometi assistir apenas depois de ler a famigerada obra, assisti a todos os outros. Então, claro que fiquei muito curiosa quando fiquei sabendo que Cara se arriscaria em outros ramos como a literatura. Será que isso daria certo? Só tinha um jeito de descobrir: lendo a obra lançada pela atriz, modelo e (agora) escritora, juntamente com a também escritora Rowan Coleman. Vejam minhas impressões logo abaixo. :)

Mirror, Mirror é uma banda formada por quatro integrantes: Amy (baterista), Rose (vocalista), Naomi (baixista) e o único rapaz do grupo, Leo (Guitarrista).

Amy, mais conhecida como Red, é uma garota nerd que tem muitos problemas familiares com sua mãe alcoólatra e seu pai ausente, mas tem uma irmãzinha de 7 anos, Gracie, que ela ama mais do que tudo. Red é homossexual e não tem nenhuma dúvida de sua sexualidade.

Rose, a gata do colégio, com um simples sorriso faz todos os homens (e algumas garotas...) se ajoelharem a seus pés e comerem em sua mão. É a única rica do grupo de amigos e esconde um segredo de quando era mais nova e que apenas uma pessoa sabe.

Naomi é uma garota também nerd e séria que usa roupas, maquiagem e peruca de anime. Ela tem uma meia-irmã mais velha, Ashira. Naomi é conhecida por desaparecer às vezes para fugir principalmente do bullying que sofre dos colegas, mas sempre acaba voltando para casa.

Leo, o machão, aquele que causa medo em todo mundo por ser estouradinho e que pouco se lixa para o colégio e para o que os outros pensam. Já se meteu em algumas encrencas por causa do irmão mais velho, Aaron.

A banda foi formada um dia em que o professor de música da escola passa uma tarefa em que os alunos têm que formar grupos e criar e cantar músicas. Acontece que ninguém esperava que o grupo formado por Leo, Rose, Amy e Naomi fosse ser tão bom e ter tanta repercussão, tanto que eles começam a fazer shows fora da escola e a ganhar fãs.

Um dia, contudo, fica evidente a mudança que está acontecendo com Naomi. Ela não quer mais se vestir como antes, passando a usar roupas diferentes, mais leves, mais femininas, menos maquiagem, se tornando ao mesmo uma pessoa mais séria, mais introspectiva, até o dia em que ela desaparece por vários dias e é encontrada espancada em uma ponte, entre a vida e a morte.

À primeira vista, parece apenas mais uma fuga de Naomi que terminou mal. Contudo, à medida que as páginas avançam, começam a aparecer pistas que demonstram que o que aconteceu foi muito mais sério do que aparenta, e que alguém fez muito mal a ela. Red e Ashira decidem, então, investigar por conta própria o que pode ter acontecido, e o que descobrem deixará a todos, inclusive o leitor, de queixo caído.

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O livro é composto por capítulos corridos. Nada de partes dessa vez. Alguns retomam acontecimentos do passado, meses antes, e o dia antes do desaparecimento de Naomi. Alguns dos capítulos são encerrados com letras de músicas da banda, outros com mensagens de WhatsApp, outros com postagens no Instagram. Achei muito legal, faz total sentido na história.

Me apeguei facilmente a Amy (Red) e a Ashira. Várias situações e pensamentos de Red, ao longo do livro, me remeteram à minha própria adolescência e aos pensamentos que eu mesma tive naquela época. Acho que a maioria dos adolescentes passa por tantos conflitos internos que é difícil não se identificar com a história. Foi a esse tipo de histórias sobre adolescentes que me referia na resenha que fiz de O clube dos oito.

Por outro lado, tive vontade de bater, muito, na mãe de Red. Meu muro de chapisco deste ano com certeza terá algumas mães, e a de Red será uma delas. O problema não é ela ser alcoólatra, e sim agir como se tivesse ódio das filhas, sem motivo aparente, na maior parte do livro. Suas atitudes e argumentos são indigestos e egoístas. Obviamente, com esse comportamento ela disfarça seu medo de que sua primogênita sofra por sua sexualidade e porque o mundo é cruel com as pessoas, mas não dá pra engolir.

O pai de Red não fica por menos, mas consegue se redimir de forma mais aceitável ao longo do livro. 

Outra pessoa digna de nota é Aaron, o irmão mais velho de Leo. Aparece pouco, mas o suficiente não apenas para se tornar um suspeito, na minha opinião, pelo que aconteceu com Naomi, mas para fazer muita merda e quase levar Leo para o buraco junto. Ridículo!

Os pais de Naomi e Ashira são uns amores, mas aparecem em poucos momentos. Do mesmo jeito, não teve como não me solidarizar com a dor deles de ver a filha entre a vida e a morte. Não sou mãe, ainda, e obviamente não desejo passar pelo que eles passaram, mas sei o quão difícil é perder de forma cruel ou repentina alguém que a gente ama.

O livro é muito bem escrito, bem contado, bem amarrado. Nada ficou sem resolução. O livro não é tão óbvio, apesar de eu ter desconfiado de quem era o culpado pelo que aconteceu com Naomi e ter comprovado minha tese no final. Não há muitos momentos engraçados, afinal os personagens estão passando por um turbilhão de acontecimentos e sentimentos embaralhados, e não teve como não ficar tensa e curiosa para saber como tudo se resolveria.

Ao contrário do que pensei, o livro me prendeu de uma forma irreversível. Foi muito difícil deixar de lê-lo para fazer outras coisas, rs. Não via a hora de terminar de tanta curiosidade.

E, no final, fiquei impressionada com o tanto que gostei da história. Torci para que todos ficassem bem, que tudo fosse desvendado, resolvido, e, acima de tudo, que Naomi sobrevivesse e saísse do hospital sem nenhuma sequela.

A história também mostra a bonita amizade entre os personagens. É tocante e, algumas pouquíssimas vezes, até irritante o excesso de zelo que Red tem com os amigos. Mas com razão, em todas as vezes.

Destaque para a capa que ficou muito legal, bonita e tem conexão total com a história. Já sobre o título para mim não tem muita relação com a história em si. O título original em inglês é o nome da banda dos personagens e foi traduzido para português como “Jogo de espelhos”. Mas também não consigo pensar que outro título seria cabível, rs. Acho que o título traduzido só serve para retomar a ideia de espelho que existe no nome da banda (Mirror, Mirror).

Por fim, após curada a minha curiosidade com o livro, tenho a dizer que Cara Delevingne pode continuar escrevendo histórias com outros autores e sozinha também, e com certeza eu vou querer ler caso ela resolva escrever mais. Está aprovada, na minha opinião, e, claro, indico para quem gosta de resolver mistérios, ainda que eu pense que, para leitores mais versados no gênero, a história pode ser muito óbvia. Mas, como um todo, vale cada página. Leiam!


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Avaliação (1 a 5): 4.5
 







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