O dia em que o presidente desapareceu - Bill Clinton e James Patterson

>>  segunda-feira, 6 de agosto de 2018

CLINTON, Bill; Patterson James. O dia em que o presidente desapareceu. Rio de Janeiro: Editora Record, 2018. Título original: The President is missing.

“Enquanto o jipe continua em frente, o vento nos seus cabelos, Suliman saboreia a adrenalina. Foi ele quem fez isso.
Um único homem que mudou o curso da história.
Um único homem que subjugou a única superpotência do mundo.
Um único homem que logo estará rico para desfrutar de seu feito.” p.414

Recebi esse livro da Editora Record de surpresa, assim que foi lançado. Confesso que não estava louca para ler (essas parcerias do Patterson com outros autores nunca me conquistaram), mas fiquei curiosa com o título e o fato de ser uma coautoria com o ex-presidente Bill Clinton. Hoje conto para vocês o que achei de O dia em que o presidente desapareceu.

O Presidente Jonathan Duncan está enfrentando o momento mais difícil de seu governo. Depois de uma controversa ação, onde o EUA salva a vida de um terrorista em um ataque na Argélia, um soltado americano morre, e o Presidente se recusa a explicar. Além disso é divulgado que o presidente tomou a iniciativa e participou de uma ligação para o mesmo terrorista, Suliman Cindoruk, líder dos Filhos da Jihad. Uma comissão especial é convocada e o presidente é convidado a responder as perguntas. Eles querem acabar com seu mandato, querem o processo de impeachment.

Mas o presidente tem assuntos mais importantes com os quais se preocupar. Ele está lidando com a maior ameaça cibernética já criada. Um vírus capaz de destruir o país, de colocar os EUA como um país de terceiro mundo em duas semanas. Eles o chamaram de “Idade das trevas” e só sua equipe mais próxima sabe da sua existência e da ameaça que se aproxima. Um ataque pequeno em Toronto, foi uma prova do que estava por vir. Um vírus capaz de apagar um país, e só o presidente pode lidar com a ameaça. Para isso ele precisa desaparecer, o que deixa sua equipe em polvorosa.

Dani Atkins é seu melhor amigo e consultor jurídico da Casa Branca. Eles cresceram juntos, e Dani é completamente contra ao plano do Presidente para lidar com a ameaça. Carolyn Brock, sua chefe de gabinete, também é contra o plano. Eles também não concordam da decisão do Presidente de depor na audiência da Comissão. Sua vice-presidente, Kathy Brandt não sabe de nada do que está acontecendo. Isso porque Duncan tem uma certeza: só nove pessoas sabiam da existência do vírus chamando de “Idade das trevas”, e um deles os traiu.

Sozinho, ele precisa sair disfarçado, sem a presença dos agentes do Serviço Secreto e se encontrar com um informante. É a única chance de parar o vírus que ameaça destruir os EUA. E uma grande ameaça a sua segurança.

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Temos duas maneiras de avaliar esse livro, apenas como um suspense escrito por qualquer escritor, e como um suspense escrito por um ex-presidente americano. Vou tentar avaliar das duas maneiras, afinal, não tem como esquecer que Bill Clinton assina essa obra.

Como um “suspense qualquer” o livro é realmente interessante. O suspense prende, a escrita é ágil e você fica curioso até o final, sem saber se os EUA sairiam ilesos dessa ameaça. Algumas coisas são floreadas demais, o Presidente é perfeito e seus discursos de bom moço chegam a cansar. Juntando-se a isso um epilogo com um discurso patriota sobre o futuro dos americanos, terminei meio que de saco cheio da lenga-lenga americana toda. Fica claro no livro quais trechos cada autor escreveu: James Patterson com as poucas, mas ótimas, cenas de ação. Bill Clinton com toda a parte política e discursos presidenciais, assim como o funcionamento interno da Casa Branca.

O Presidente Duncan narra o livro em primeira pessoa, poucas cenas são mostradas por outros narradores. Inicialmente eu gostei do protagonista, mas à medida que o livro foi avançando, me irritou o tanto que quiseram fazer um presidente perfeito, o super-herói americano. Outra falha dessa narrativa é o título do livro, tanto a versão americana “The presidente is missing” quanto a nacional “O dia em que o presidente desapareceu” não condizem com o que acontece no livro. Afinal, o leitor acompanha o presidente o livro todo! Para o leitor ele não desaparece em momento algum! E o livro não tem outros narradores. Não mostra o povo americano, a imprensa, a Casa Branca em polvorosa com o desaparecimento, nada! Só tem algumas referências da mídia sobre ninguém saber onde ele estava, ou a vice-presidente querendo botar as manguinhas de fora, só isso. Faltou o impacto desse “desaparecimento”.

E com isso, vemos claramente que a narrativa é simplista. Os demais personagens não são desenvolvidos. Sabemos sobre Duncan e sua história, e só. Sabemos que Dani era seu melhor amigo, que Carolyn perdeu sua carreira política por dizer uma frase com um palavrão enquanto era gravada e virou assessora dele, que a filha dele estava na França... praticamente só isso. Ainda não desgosto do thriller, com certeza ficará ótimo no cinema e o suposto ataque terrorista é realmente interessante.

Agora vamos analisar como um livro escrito pelo Bill Clinton. Prometia-se nos anúncios sobre a obra que o livro “informaria detalhes privilegiados que apenas um presidente pode saber”. Balela, não tem nada demais no livro. Nada que não tenhamos visto sobre a Casa Branca em Scandal, House of cards ou outras séries e livros do estilo.  O que vemos é um presidente extremamente estereotipado e que não convence no papel. Duncan afirma “Meus oponentes realmente odeiam minha coragem” e se diz “apenas um homem honesto com boa aparência e senso de humor afiado (olhos revirando). Ele diz ainda que seus oponentes são “políticos oportunistas chorosos que querem o impeachment” enquanto ele só quer salvar o país. Agora você pega isso e compara com a trajetória do próprio Clinton, que passou por um escândalo de impeachment e foi absolvido. E compara a biografia de Clinton com a do ficcional Duncan... e caí na risada!

Ambos vieram de origem simples e perderam os pais bem cedo. Os dois enfrentaram circunstancias difíceis e se tornaram governadores. Ambos têm esposas brilhantes que conheceram na faculdade de direito. Os dois têm apenas uma filha. E aí vem as diferenças para criarmos o melhorado Duncan:
- Enquanto Clinton evitou o serviço militar se declarando contra a qualquer tipo de guerra (o que foi uma das grandes críticas da oposição durante sua campanha presidencial), Duncan não só lutou no Vietnã, como se tornou um herói de guerra, sendo torturado sem revelar nada sobre os segredos do país.
- Ao invés dos inúmeros escândalos e rumores sobre seus casos extraconjugais (quem vai esquecer o escândalo Mônica Lewinsky), temos um presidente que ainda é apaixonado pela esposa, mesmo estando viúvo há algum tempo; depois da esposa passar por um longo tratamento contra o câncer.

Voltando agora ao enredo em si, continuamos com saídas simplistas demais. O Presidente para despistar todo mundo, encontra com a melhor amiga de sua esposa “uma das atrizes mais lindas do mundo”, coloca uma maquiagem, um boné e uma roupa diferente e ninguém mais o reconhece. Temos também uma assassina conhecida apenas como Bach, e que está no país para matar alguém, não sabemos quem.  Faltou pânico nacional, faltou a imprensa caindo em cima e tudo dando errado. A coisa toda se resolve com muitas conferências via Skype, e uma sala cheia de nerds tentando acertar uma senha faltou recheio. No final? Eu fiquei realmente desejando a “Idade das trevas” para ver se algo mais emocionante aconteceria.

Apesar de tudo isso, foi um livro que eu curti ler, foi uma leitura rápida, com momentos interessantes e tiradas afiadas. Se você vai querer ler ou não, basta analisar o texto acima.

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Avaliação (1 a 5): 3.5

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