Todo mundo merece morrer - Clarissa Wolff

>>  quarta-feira, 7 de novembro de 2018

WOLFF, Clarissa. Todo mundo merece morrer. Campinas, SP: Editora Verus, 2018. 168 p.


Quando vi a capa desse livro pela primeira vez, logo pensei que devia se tratar de uma história sobre depressão, suicídio. Há vários livros sobre o tema hoje em dia, pondo a baixo aquele antigo tabu de não falar sobre o assunto. Mas não é sobre o suicídio que o livro fala, é sobre matar o outro mesmo.


Lucas é apenas um rapaz de 28 anos, mais uma pessoa dentre tantas no metrô de São Paulo. Está acompanhado pela namorada, que ele acha bonita demais para gostar dele, e estão conversando, quando alguém atira em um cara sentado em um dos bancos no vagão. Em um impulso retirado não se sabe de onde, Lucas se joga sobre o atirador e consegue evitar um verdadeiro massacre, salvando a vida das outras pessoas no vagão, além da própria vida, claro.

É aí então que começamos a conhecer as outras pessoas que estavam no vagão e mais ou menos um resumo da vida delas até a chegada daquele fatídico momento. Conhecemos, também, a história do assassino e o que o levou a querer dar cabo da vida de outras pessoas. É aí que você percebe que pode ser que realmente nada aconteça por acaso e que, ainda que inconscientemente, pessoas não estão no lugar errado, na hora errada. É exatamente ali que elas têm que estar, e juntas.

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O livro é narrado em terceira pessoa e é dividido em três partes. Na primeira parte conhecemos o herói que salvou, ainda que mais por impulso que por vontade, as pessoas dentro do vagão do metrô.

Na segunda parte conhecemos a vida dos outros “personagens” desse incidente. O que mais me assustou e me causou uma quantidade bem controvertida de sentimentos nessa parte foi perceber que algumas dessas pessoas eram podres, baixas, outras perdidas demais, outras tomando atitudes de certa forma irreversíveis para sua vida.

Na terceira parte, finalmente, conhecemos o atirador, que matou uma pessoa que estava ali, sentada na cadeira do vagão, com seus pensamentos, sua vida pessoal, boa ou ruim, mas uma vida.

Em todo caso, o que fiquei pensando é que, ainda que todas as pessoas (ou a maioria delas) que estavam ali naquele momento fatídico tivessem seus “segredos” e fossem pessoas que fizeram algo de ruim na vida, não pode ser dado a uma pessoa o direito escolher quem merece ou não morrer. Essa foi, para mim, a mensagem central da história.

Não quero com isso dizer que as pessoas foram colocadas no vagão de forma proposital. É aí que está a graça de entender que tudo acontece por uma razão, ainda que de forma inconsciente.

O que me incomodou um pouco foi que não consegui sentir empatia por quase nenhum dos personagens. Talvez apenas por Lucas, mas não por ele ser o herói. Ou talvez seja – e olha que ele nem é um cara perfeito, mas quem é!?

Algumas vezes, o narrador conta a história das pessoas que estavam no vagão de uma forma tão convincente, que provoca o “lado negro” do leitor, fazendo-o quase  odiá-las e pensar que elas também mereciam ter morrido no episódio do metrô. Mas em outros momentos, eu queria só que chegasse logo na história do personagem seguinte.

 Ainda assim, considero que a miscelânea de sentimentos não foi ruim. Só não se assuste se, de vez em quando, vier aquela vontade louca de jogar o livro na parede (não faça isso!).

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