Úrsula - Maria Firmina dos Reis

>>  quarta-feira, 23 de janeiro de 2019


REIS, Maria Firmina dos. Úrsula. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2018. 224 p.


Sim, uma das últimas leituras de 2018 foi um clássico da literatura nacional. Em qualquer época do ano, me ofereça um clássico para ler e veja meu olho brilhar. Se for da literatura brasileira então! E se for daquela que é considerada primeira romancista mulher do Brasil? Aí temos Maria Firmina dos Reis e seu livro: Úrsula.


Um jovem, sofrido até os ossos, cavalgando seu cavalo sem nenhuma esperança de vida, se acidenta e é acudido por um jovem escravo. Túlio, o escravo, salva a vida daquele mancebo e o leva para a sede da fazenda onde encontrou o acidentado, para que a dona da casa e sua filha possam lhe prestar algum socorro.

O mancebo está tão mal que fica a delirar e não vê nada à sua frente, além de sua amada que destruiu seu coração. Durante todo o tempo em que ele delira e está à beira da morte, Túlio e Úrsula, que é a filha da dona da fazenda, velam o moribundo, torcendo todo o tempo para que ele se recuperasse.

Quando se recupera, o mancebo, que até então não havia revelado seu nome, se descobre apaixonado por Úrsula e a ela precisa se declarar com urgência. Ela, muito ingênua, sabe que nutre algo pelo mancebo, mas não sabe o que é, já que não tem o conhecimento do que seria amor. Quando ele se declara, ela percebe que o sentimento é recíproco, e ele, a fim de mostrar toda a sua honestidade, conta sobre seu antigo amor e como chegou até ali.

De outro lado, temos a mãe de Úrsula, D. Luiza B., que está doente e à beira da morte. Ela nutre um ódio mortal por seu irmão, Fernando, que já lhe fez muito mal na vida.

Após contar a Úrsula sobre seu passado e todas as suas intenções, Tancredo, o jovem, agora com o nome revelado, afirma que precisa resolver uma questão de trabalho e que, quando voltar, se casará com sua amada. Ele só não contava com o fato de que seu distanciamento de Úrsula provocaria uma reviravolta em suas vidas, colocando em risco muito mais do que o amor que sentem um pelo outro.


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A narrativa do livro é densa, como toda narrativa de clássico tem que ser (ah, e é em terceira pessoa). É dessa densidade das histórias que sinto falta. Assim como sinto falta dos livros com sumário e das capas de livro sem orelhas. Nessa edição da Penguin e Companhia das Letras, tudo isso está presente.

Pobre Úrsula, que já tinha a mãe doente para cuidar, depois um homem apaixonado a esperar pelo retorno, e ainda Fernando, um homem cruel que maltrata sua mãe.

Tancredo não fica para trás, com sua história sobre sua amada que lhe arrancou o coração e todos os perrengues que sofreu no acidente com o cavalo e com seu novo amor.

A autora, Maria Firmina dos Reis, além de ser considerada a primeira romancista brasileira, é considerada ainda a primeira crítica da escravidão. Em sua obra, há vários personagens escravos, vemos várias situações que retratam a forma como eles são tratados; como coisas, animais.

Devo lhes dizer que, para um primeiro romance brasileiro, a história é um tanto quanto triste. Não entrarei em detalhes, mas em determinado ponto do texto, cheguei a pensar que tudo terminaria em tragédia. Vocês terão que ler para descobrir, assim como eu, se é realmente uma tragédia ou não. Uma coisa tenho que dizer: a carga emocional é pesada, rs.

Por outro lado, o texto se mostra poético de uma forma sem igual. Como eu disse antes, é um texto bastante denso, como não poderia deixar de ser para uma história que foi escrita há mais de um século (se você considerar que a história foi descoberta em 1970).

No início da mais recente edição do livro, além de notas e de uma introdução sobre a obra, há uma nota sobre o estabelecimento de texto, na qual se afirma que foram mantidas as escolhas da autora com relação à colocação pronominal, à pontuação, etc., com a exceção de que o texto foi adaptado ao novo acordo ortográfico. No mais, nada de facilitar a leitura para os futuros leitores de clássicos.

E para mim é necessário manter essa originalidade, essa “crueza” da escrita da autora, para que seja mantida a essência da obra.

Para não acabar contando algo importante sobre a história, digo apenas que é um livro que precisa ser lido.  E disseminado. E estudado. Indico para todo mundo. 

Como eu disse, a edição da Penguin não tem orelha, o que sei que muita gente não curte. Eu não faço parte dessa turma e adorei a edição laranja!

Leiam clássicos, leiam Úrsula!

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