Boy erased - Garrard Conley

>>  quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

CONLEY, Garrard. Boy erased: uma verdade anulada.  Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2019. 320 p. Título original: Boy erased.


Já li livros sobre doenças de vários tipos. Já li sobre pessoas com depressão, com TOC, e várias outras. Mas, até este momento, jamais havia lido um livro sobre uma pessoa que se interna para curar a homossexualidade. Sei que ela já foi listada como doença mental até umas décadas atrás, mas foi retirada. Sabia, desde que me interessei pela sinopse, que a leitura de Boy erased: uma verdade anulada, não seria fácil. Mas o que enfrentei ao longo das páginas superou as minhas expectativas.


Garrard é filho único e vive em uma das cidades super conservadoras do sul dos Estados Unidos da América. Seus pais fazem parte da Igreja Batista Missionária e seu pai tem o sonho de um dia ser pastor e pregar para milhares de pessoas. E está próximo de alcançar esse feito e, finalmente, poder atender ao chamado do Senhor.  A mãe de Garrard, por sua vez, é uma esposa fiel e obediente, que apoia o marido e cuida e zela pela casa em que vivem. Garrard é um bom filho, mas se sente deslocado, sozinho, desde que, no ensino fundamental, descobriu que seus pensamentos eram todos focalizados no professor da escola, e que não nutria pensamentos e desejos por meninas, mas sim por outros rapazes.

Garrard sempre foi muito bom em esconder quem realmente é. Até uma namorada ele tinha: Chloe.  Era fácil se passar pelo namorado bonzinho, que só queria saber de sexo após o casamento, pois era contra as leis de Deus. Além disso, era natural que ele, não só como filho único, mas também como filho homem, assumisse o lugar do pai tanto nos negócios quanto na igreja.

 Ele conseguiu “disfarçar” bem até que a ida para a faculdade acabou sendo um divisor de águas no relacionamento entre ele e Chloe. Ir para a faculdade facilitaria ainda mais as coisas. Só que não. Após um episódio no campus, os pais dele descobrem sobre sua sexualidade e tudo aquilo que temia se torna realidade.

Então, ante a vergonha de ser quem é, de sentir o que sente, e ante o amor por sua família e o que sua sexualidade poderia fazer não só com o casamento dos pais, mas também com a vida do pai como pastor, Garrard aceita se internar em um programa de conversão para se tornar um “ex-gay”.



O livro é narrado por Garrard e alterna entre os acontecimentos do passado que resultaram na ida dele para o AEA – Amor Em Ação, o programa de conversão, e sua estadia no programa. 

No início da história, ou antes mesmo de começar a ler o livro, fiquei imaginando um Garrard mais rebelde, revoltado por ter que enfrentar o tratamento para “curar” quem ele era, toda luta que teria que travar para ser reconhecido como quem ele era.

Mas o que eu encontrei ao longo do livro foi um cara que tinha muita vergonha de si mesmo, por ter sido criado em um ambiente religioso ao extremo,  e que, por isso, foi ensinado desde cedo que Deus é um cara bravo e rigoroso e que não admitiria que um filho seu saísse da linha por nenhum instante, resultando o seu pecado de gostar de outra pessoa do mesmo sexo em uma passagem apenas de ida para o inferno.  Neste ponto, dá para entender que após ter sido criado em um ambiente assim, Garrard tenha em mente apenas que tudo o que pensa e faz é errado, e assim tenha aceitado de forma tão passiva se submeter à conversão.

Porém, acompanhando o livro, e após ler o epílogo, só consigo pensar que ele jamais deveria ter aceitado se sujeitar a um tratamento desses. 

O que percebi também foi que o autor não se aprofunda nos temas ou tópicos que traz na história. Não sei se foi uma falha de narrativa, mas me senti um pouco frustrada com a forma com que tudo foi exposto ao longo do texto. Garrard nos conta tudo e nada ao mesmo tempo. Tudo, no sentido de contar as experiências que teve em termos de relacionamento e experiências nos dias em que esteve no AEA. Nada, no sentido de que ele não se aprofunda naquilo que foi contado.

Assim, infelizmente, não foi uma leitura que me prendeu e me fez devorar o livro. 

Não vi, também, nenhum momento de ápice da história. Em determinado momento me senti “andando em círculos”. possivelmente essa sensação seja em decorrência de se tratar de um livro não-ficcional. 

Os pais também se encaixam nessa sensação de falta de aprofundamento, assim como a forma com que se dá o desfecho, que eu queria muito dividir com vocês, mas o bom senso não me permite. Só posso dizer que o sentimento que me define também, e principalmente em relação aos pais de Garrard, é de frustração.

Apesar disso, não deixei de me assustar com toda a situação e pressão psicológica que Garrard sofre tanto dos pais, quanto da sociedade, quanto do AEA. Jamais saberei o que é passar pelo que ele passou, ou pelo preconceito que existe ainda hoje, o que não me impede de ser solidária à causa.

O final, como eu disse, não traz nenhum desfecho grandioso, sobretudo porque se trata de um livro autobiográfico, de não-ficção, de modo que não tinha como esperar por um final propriamente dito, apesar de o autor ter encerrado o livro com um epílogo bem fechadinho.

Ouvi boatos de que o filme, em uma rara exceção, se saiu melhor que o livro, mas não teremos como saber, por enquanto, já que o filme não foi lançado nos cinemas brasileiros. Estou ansiosa para conferir a atuação de Nicole Kidman e Russel Crowe, que, pelo trailer parece ter perdido totalmente aquela figura de Gladiador que tenho na memória até hoje, rs.

Para aqueles que, assim como eu, são apaixonados por uma adaptação e precisam ler e assistir, comparar e imaginar como seria, e aplaudir o que foi, fiquei sabendo que o DVD do filme será lançado no Brasil no mês de abril, e assim finalmente vai dar para conferir a adaptação. Lembrando sempre que são duas obras distintas e que se complementam.

E, em relação ao livro, ainda assim considero uma leitura importante!


Assistam ao trailer:




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Avaliação (1 a 5): 3.5







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