O construtor de pontes - Markus Zusak

>>  segunda-feira, 18 de março de 2019

ZUSAK, Markus. O construtor de pontes. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2018. 528p. Título original: Bridge of Clay.

“No fim, o fim teve que chegar.
A pancadaria estava perto de acabar.
Um cigarro já fora encontrado e fumado.
Até as guerras do piano haviam cessado.
Hoje sei que foram distrações muito válidas, mas incapazes de mudar a vida dela.
O mundo dentro dela se avolumou.
Ela se esvaziou, transbordou.” p. 300

Do autor do queridinho A menina que roubava livros e do excelente, mas não tão famoso, Eu sou o mensageiro, dentre outros, o Australiano Markus Zusak dispensa apresentações. Seu novo livro no Brasil foi esperado com muita expectativa pelos fãs, e eu conto para vocês o que achei de O construtor de pontes.

A família Dunbar foi marcada por tragédias, perdas e brutalidade ao longo dos anos. Michael e Penelope tiveram cinco filhos: Matthew, Rory, Henry, Clay e Tommy, o caçula. Além de tudo, eles eram unidos, e se amavam.

No início temos Michael, que na adolescência se apaixonou por Abbey Hanley. Ele amava os pintores, amava pintar, e dedicou uma faculdade a isso, a sua arte, e a Abbey.

Temos também Penelope, uma pianista Russa. Muito cedo o seu pai percebeu que a filha não poderia viver naquele país, e planejou sua fuga para os EUA. Lá chegando ela não tinha nada, nem ninguém. Trabalhou muito, fez faxinas diárias, enquanto tentava aprender inglês e juntar dinheiro para comprar o piano. O piano os uniu, lá, no começo.

No presente, temos Matthew e sua maquina de escrever, que conta a história da família. Mas principalmente a história de Clay, que aos 16 anos, passava os dias correndo pelo bairro. Ninguém sabe ao certo porque ele treina, nem ele próprio. Mas ele segue correndo, buscando. Clay tinha Carey, sua melhor amiga, apaixonada por cavalos e que treina para ser uma jóquei.

Após anos fora de casa, depois de ter abandonado os cinco filhos e desaparecido em meio a sua tristeza e solidão; Michael volta para casa com um pedido inusitado: ele precisa de ajuda para construir uma ponte.  Escorraçado pelos filhos, ele vai embora, mas deixa um papel com seu endereço. Entre eles, porém, há um traidor: Clay. Ele deixa os irmãos e parte para a cidade do pai, e juntos, eles passam dias e noites inteiras construindo uma ponte.

E assim, entre presente e passado, é narrada a história de uma família repleta de amor e marcada pela culpa e pela morte.

“Era correr e viver.
E manter a disciplina, perfeitos idiotas.
Em casa, ficávamos à deriva; sempre tínhamos razões para brigar, gargalhar ou fazer as duas coisas ao mesmo tempo.
Nas ruas, era diferente.
Quando corríamos, sabíamos onde estávamos.
Acho que era a combinação perfeita de amor nos tempos do caos e amor nos tempos do controle; éramos puxados para os dois lados, e vivíamos entre extremos.” p. 344

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Com certeza é um dos livros mais difíceis que já resenhei no blog. Eu detestei no começo, achei um porre. Depois comecei a gostar da historia, do enredo, mas principalmente de todos os personagens. E no final estava amando tudo e entregue as lágrimas em vários momentos. É um enredo mais lento, cheio de camadas que irão se desdobrando ao longo das páginas, e também cheio de momentos confusos e trechos, aparentemente, aleatórios.

É um livro difícil de descrever, ele se alterna entre presente e passado, com pitadas do futuro, desde o início. O filho mais velho, Matthew, narra o presente, ora o futuro. E conta o passado, de como tudo começou.  E não posso contar as melhores partes, porque tudo seria spoiler. O que posso dizer é: não desista desse livro! Ele é estranho, confuso e chato até as 100 e poucas páginas (pelo menos foi para mim, não queria saber nem dos meninos, nem da maldita ponte e nada mais acontecia rs) e depois, em um piscar de olhos, você está apaixonada por cada um dos personagens e torcendo por eles.

Esta é, principalmente, uma história de família. De uma família que se ama, que é unida e que permanece junto apesar de todas as dificuldades. Uma história de amor entre irmãos, pelos animais e por todos ao redor deles. De pessoas que passaram por momentos terríveis, mas não perderam o foco nem a bondade. Eles brigavam, se socavam, faziam as pazes, e seguiam em frente, juntos.

A construção dos personagens é impecável! Nós vamos conhecendo todos aos poucos, e aos poucos, vamos nos apaixonando por todos eles. Penelope e sua doçura, sua força descomunal. Como ela me fez chorar e sofrer por ela. Temos Michael, com seu amor inocente e sua entrega incondicional. E como a tristeza acabou com ele em dois momentos de sua vida. E temos os meninos, todos eles, cada um com uma peculiaridade. Clay com sua busca incansável por algo que ele ainda desconhece. Tommy com seu amor pelos bichos. Matthew que aos 20 anos tinha que cuidar de todos os irmãos e tentou fazer o melhor. Rory e Henry com suas brincadeiras, um tão amável, o outro um ogro. Carey e Clay, juntos, tão lindos, tão perfeitos. E a penca de animais que tinham tanta personalidade quanto todos os humanos: uma mula, um gato, um cachorro, um pombo e um peixe rs.

Como disse no início, essa não é uma leitura fácil, não é um livro para "iniciantes". As primeiras 100 páginas foram sofríveis para mim. Muitas frases soltas, nenhum interesse por nada. Enredo estranho, confuso, a ponte maldita e cinco irmãos que resolvem tudo no soco :P. E depois, aos poucos, o livro se revela. É um livro em camadas. As tragédias ao longo do livro são de doer a alma. E a forma como depois de tudo, esses cinco garotos continuaram uma família, unidos, inseparáveis, se amando, se desdobrando e ainda cuidando de vários animais... Não tem como não chorar em alguns momentos. Mas não é um livro perfeito para mim, confuso em vários momentos, as vezes parecia que o autor soltava frases no meio da história que não faziam sentido. Não gostei do começo, não gostei do hiato de tantos anos sem saber o que acontece direito com um dos personagens no final. Mas mesmo assim o final foi de soluçar... e ai você se descobre amando essa historia, e finalmente entendendo, o significado daquela ponte.

Se esse é um livro para você, leia. Persista se achar o início lento, devore. Foi um livro em que aos poucos em pensava “ahhhh era isso”, “ahhhh agora entendi aquilo”. É daqueles que eu tenho vontade de reler agora que já sei como termina, para ver se tudo faz sentido. Indico para leitores mais maduros, que como eu, mais uma vez vão se encantar com o estilo único do Zusak, leiam!

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Avaliação (1 a 5): 4.5

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