Mundo em caos - Patrick Ness

>>  quarta-feira, 24 de abril de 2019

NESS, Patrick. Mundo em caos. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2019. 480p. (Mundo em Caos, v.1). Título original: The knife of never letting go.

Ah, as distopias! Uma paixão antiga que iniciou quando li Jogos Vorazes. De lá pra cá muitas outras surgiram. Umas boas, outras nem tanto. Mas o que mais me chama atenção é o fato de tantos livros maravilhosos do gênero que foram lançados há tanto tempo serem “descobertos” apenas agora que a distopia está fazendo tanto sucesso (seja na literatura, seja como adaptação para TV ou cinema). Em alguns casos, os mundos e cenários das histórias são tão incríveis e, por vezes, tão atuais, apesar de terem sido escritas há muito tempo, que eu considero o autor mais que um simples autor, considero um visionário. Mundo em caos é um exemplo claro disso, como vocês verão nas linhas a seguir. O livro foi lançado anteriormente pela Editora Pandorga. Estive prestes a comprar o primeiro volume em um sebo, no fim do ano passado, quando foi anunciado que a série de livros seria adaptada para o cinema em 2019. E ainda bem que não comprei, pois a edição da Intrínseca, Senhoras e Senhores! Uma edição sensacional e uma história que, bem, vocês já vão descobrir!

Prentisstown é uma cidade do Novo Mundo e tem precisamente 147 habitantes, sendo 146 homens e 1 garoto: Todd Hewitt. Ela é comandada pelo prefeito David Prentiss, por isso o nome Prentisstown. Além de não ter nenhuma mulher, há outra coisa que a cidade não tem mais: silêncio. E a inexistência de ambos pode ser explicada pela mesma razão: um germe espalhado pelos Spackles, alienígenas que não aceitam bem a convivência com os humanos. O germe não só matou todas as mulheres, como também metade dos homens da cidade, e aqueles que restaram não têm mais privacidade para pensar. Todos os pensamentos podem ser ouvidos o tempo todo, o que os transformou em um fluxo tão caótico que deixaram de ser pensamentos para se tornarem ruídos. E o pior, não é apenas o ruído dos homens que se ouve, mas também o dos animais.

Faltando 30 dias para Todd finalmente completar 13 anos e deixar de ser o último garoto da cidade para se tornar “homem”, ele ainda tem tarefas a cumprir que não são designadas a nenhum “homem”, como, por exemplo, colher maçãs perto do pântano da cidade. Nenhum “homem” vai até ali, então resta a Todd e seu cachorro Manchee (que também emite ruído) fazer essa tarefa tão maçante. Um dia, em um desses passeios no pântano, Todd acaba descobrindo, sem querer, um grande segredo, e precisará fugir para escapar das garras de pessoas perigosas. Ao longo do caminho ele enfrentará muitos perigos, mas também encontrará algo inesperado: Uma garota: Viola. Entre se perguntar como Viola não foi morta pelo germe e quando isso vai acontecer, juntos, Viola, Todd e Manchee seguirão numa grande jornada em busca de um lugar seguro e, ao mesmo tempo, desconhecido, passando por muitos perigos e descobrindo ainda mais segredos.

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A primeira página do livro é de chamar a atenção e, se você é daqueles que gosta de pular direto para a história, recomendo que não faça isso. Essa página informa ao leitor que, para manter o estilo do  autor na língua de origem, foi necessário aplicar alterações consideradas inadequadas à gramática da língua portuguesa, como o uso da linguagem coloquial, colocação pronominal, ortografia e formas verbais diversas das que nossa gramática permite. Essa informação é muito válida, pois auxilia muito o leitor a não se sentir perdido ao longo da leitura diante da linguagem peculiar do livro.

A narrativa é igualmente interessante. Imagine você um narrador que, ao mesmo tempo que está narrando a história (narrando mesmo, não dialogando), é “ouvido” não só pelo leitor (que obviamente está lendo), como também pelos demais personagens!? Imaginou? Agora imagine um narrador que dialoga com o leitor (dialoga mesmo!) em alguns momentos, até mesmo antecipando possíveis reações ou pensamentos do leitor?! Pois é isso que acontece ao longo da história, já que enquanto está narrando, o narrador é ouvido (e às vezes respondido) por algum outro personagem da história. É muito incrível!

Dito isso, vamos aos personagens que se destacaram na minha opinião.

Todd é um menino bom, e entendi totalmente a inocência e até mesmo as dúvidas que ele teve ao longo da história. Ninguém é arrancado da vida que pensa ter – e sequer existe – e sai ileso. Isso não quer dizer que eu não tenha tido vontade de dar uns bons tabefes na cara dele nos momentos em que ele era igualmente teimoso e achava que tudo seria como ele estava pensando ou na hora em que estava pensando.

Viola me conquistou logo de cara. Forte, esperta, ágil. Fiquei muito agoniada em determinados momentos por causa dela.

Aaron foi um personagem que me fez pensar, toda vez que eu lia seu nome: “Ah não, de novo não!” O mesmo acontecia quando o filho do prefeito aparecia. Vou me ater a dizer apenas isso sobre eles. O motivo vocês me contam quando descobrirem.

Mas nenhum personagem nesta história, bom ou mau, me conquistou como Manchee. Ele ganhou meu coração de uma forma que não tem volta, e não digo isso só porque ele é um bichinho que fala (pelo “ruído”, mas fala!). É pelo conjunto da obra ao longo da história. Chegou ao ponto de eu olhar para minha gatinha e me lembrar dele (sim, ele é um cachorro, mas é aí que entra a imaginação do leitor!)

A premissa do livro é muito boa e já me atraiu de cara. Todo aquele “ruído” e aquele mistério rondando a cidade, a morte das mulheres, a inexistência de povoados vizinhos. Mais uma ideia única dentre várias do estilo distópico.

O livro tem um ponto negativo que quase me fez tirar meia estrela da nota final. Há um determinado trecho em que a história fica tão morosa e com uma enrolação desnecessária, que fiquei cansada da leitura. Há uns três capítulos pelo menos que eu tiraria facilmente da história e que não fariam falta nenhuma. Além disso, alguns acontecimentos eram óbvios, o que também me incomodou um pouco.

Mas o contexto como um todo é tão bom que superou esse pequeno detalhe incômodo.

Ao longo da história percebemos que algo pode estar surgindo entre Todd e Viola, mas sinto informá-los de que o romance não é o foco do livro 1.

O final, sinto dizer, deixa uma vontade desesperada de ler a continuação, então se preparem!

Mas, enquanto a continuação não é lançada pela Intrínseca, vocês podem ir conhecendo a versão cinematográfica do livro 1, que promete ser lançada ainda este ano. Digo que promete porque Tom Holland (Todd) e Daisy Ridley (Viola) tiveram que regravar algumas cenas do filme, o que atrasou a estreia prevista para março/2019. Agora é torcer para essas filmagens terminarem logo para ver como ficou a adaptação! ( e para ver se um certo cachorro vai estar e como será).

Indico para todos, principalmente para os amantes de distopia, ficção científica e fantasia!

Adicione ao Skoob!

Mundo em Caos de Patrick Ness

1. Mundo em caos (The knife of never letting go)
2. The ask and the answer (Ainda não lançado no Brasil)
3. Monsters of men (Ainda não lançado no Brasil)


Avaliação (1 a 5): 4.5









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