Um casamento americano - Tayari Jones

>>  quarta-feira, 8 de maio de 2019

JONES, Tayari. Um casamento americano. São Paulo: Editora Arqueiro, 2019. 228p. Título original: An American marriage.

Recentemente resenhei aqui no blog um livro sobre um homem negro que havia sido acusado de estupro e acabou sendo preso, não podendo, assim, acompanhar a gestação de seu filho. O livro era Se a rua Beale falasse. Como vocês sabem, não tenho o costume de ler a sinopse do livro quando o pego para ler (juro que vou perder esse hábito). Não raras vezes, também não leio nenhuma resenha antes, para evitar contaminar minha opinião sobre a história. Então você deve estar se perguntando como faço para escolher o livro para ler, certo? A resposta é: depende. Se for um clássico, leio por ser clássico; se tiver a capa bonitinha (o que foi o caso deste livro), escolho por esse motivo; se virou filme/série/novela, leio por isso também. Se alguém diz “Nossa você precisa ler este livro” e insiste por tempo suficiente para me convencer, lá estou eu lendo também. Enfim, as razões são diversas, mas o que importa saber no meio deste falatório todo é que iniciei a leitura sem saber nada sobre Um casamento americano, e agora conto para vocês como foi finalmente conhecer a história.

Recém-casados, Celestial e Roy estão vivendo o verdadeiro sonho americano. Ela, artista plástica, ganha sua vida fazendo bonecas super valiosas. Ele trabalha como representante de empresas e, claro, de sua esposa, conseguindo negócios incríveis para ela. Eles são a personificação do empoderamento negro em plenos Estados Unidos da América, um país com histórico altamente racista. Roy e Celestial estão superfelizes, apesar das briguinhas normais de casal, e estão até mesmo planejando ter um filho.

Contudo, uma bela noite algo terrível acontece a uma pessoa, e Roy é acusado de ter cometido o crime. Julgado, ele é condenado a 12 anos de prisão e vê tudo aquilo que construiu ir por água abaixo.

Celestial, nos primeiros anos de prisão de Roy, se mostra forte e capaz de suportar a ausência do marido até que ele possa voltar. Enquanto ela espera Roy cumprir sua pena, vai seguindo em frente com sua carreira e se tornando cada vez mais famosa. Nos momentos de tristeza, ela conta com o apoio de seu amigo de infância. Contudo, com o passar do tempo, não só esse apoio vai se mostrando algo mais, como ela começa a perceber que, talvez, não tenha nascido para ser esposa de Roy.

O que ela não contava é que seu marido seria solto antes do esperado, e, quando ele retorna, o que mais quer no mundo é voltar ao seu casamento com sua esposa. Mas, e Celestial, o que fará?


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Inicialmente, o que chamou minha atenção neste livro foi a estrutura da história. Por um lado, ela é parcialmente contada por narradores que se revezam, com uma narrativa em prosa comum, tal como estamos acostumados. Por outro, o leitor passa a conhecer a história por meio das cartas que Roy escreve para a esposa Celestial e para outros personagens, sobretudo no período em que ele esteve na prisão.

Em seguida, o que me surpreendeu foi o fato de, novamente, se tratar de uma história em que o personagem é negro e acusado de estupro (por isso a minha menção a Se a rua Beale falasse, no início desta resenha). Claro que são histórias completamente diferentes, mas chama atenção o fato de o personagem ser acusado de algo que não cometeu apenas por ser o negro no lugar errado, na hora errada.

Quanto aos personagens, sinto dizer que apenas um realmente me tocou e me conquistou nesta história. Foi o Grande Roy, que é pai do Roy. Ele se mostra o personagem mais sensato, mais emotivo, mais paizão, mais engraçado e, ao mesmo tempo, o mais sério, o mais sofrido e o mais batalhador. Ufa! No início, estava começando a torcer pelo casal Roy e Celestial. Desde o princípio do livro você já é levado a crer que algo aconteceu e que os dois não estão juntos. Mas depois que, de fato, algo acontece, a cada nova atitude dos personagens fui desgostando um pouco mais deles.

Sendo humanos, os personagens cometem tantos ou mais erros que um humano cometeria, e eu não sei se estou disposta a perdoá-los. Sei que há razões para que Celestial acreditasse que seu futuro ao lado de Roy estivesse ameaçado ou até mesmo interrompido de forma definitiva com a prisão dele. Mas, na minha opinião, tudo o que ela fez foi ficar realmente confusa e atrapalhada com a prisão do marido, de modo que começou a meter os pés pelas mãos em vários sentidos, atrapalhando sua vida.

Já Roy, em toda sua passividade e compreensão, acredita piamente que Celestial ainda o estaria esperando com todo seu amor e afeto, quando ele saísse da cadeia. (Não fossem certos acontecimentos, realmente acredito que estaria.)

Andre é o melhor amigo de Celestial. Ele – faço minhas as palavras do pai de Celestial – acreditava que se a garota o conhecia desde a infância e os dois não se casaram, não haveria melhor momento de isso acontecer do que agora que o marido dela estava preso. (Ah, faça-me o favor).  

Acho que não tive apego à história como um todo, pois não me envolveu nem emocionou. Foi uma leitura linear. Em determinada parte, inclusive, acreditei que era uma enrolação e bem que poderia ter umas 50 páginas a menos – e olha que o livro é pequeno. Não consegui entender a relevância de alguns diálogos e acontecimentos.

Apesar de não ter me cativado tanto, o livro me fez refletir. No final fiquei com um pensamento entalado e resumido em uma palavra: temporário. As pessoas na história pensam que tudo vai durar para sempre, que o tempo é imutável. Todos os personagens pautam suas escolhas, ao longo do livro, na certeza de que a condição em que estão é definitiva. Acho que todos nós, meros mortais, pelo menos uma vez já cometemos o erro de pensar que determinada situação não era só uma fase, e que jamais passaria – fosse ela uma situação de extrema felicidade ou tristeza –, só para descobrir que, seja para o bem, seja para o mal, o momento vai passar e a vida vai seguir. Nada é eterno.

Não digo que não indico o livro, mas também não foi um dos queridos do ano.


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