O jogo da amarelinha - Julio Cortázar

>>  quarta-feira, 21 de agosto de 2019


CORTÁZAR, Julio. O jogo da amarelinha.  São Paulo: Companhia das Letras, 2019. Título original: Rayuela.


Tinha curiosidade de ler mais livros do autor argentino Julio Cortázar desde que li o conto A casa tomada, história que é muito famosa, sobretudo, em escolas na Argentina. Ao receber a nova edição de O jogo da amarelinha, que foi originalmente lançado em 1963, o primeiro impacto que tive foi com a parte gráfica, com uma pintura trilateral super colorida e uma capa arrasadora. Do lado de dentro, nas primeiras páginas o leitor é apresentado a um “Tabuleiro de leitura” que dá a opção de ler o livro de duas formas distintas: a primeira, ler o texto de forma linear e normal, capítulo a capítulo, até o capítulo 56, onde, segundo as orientações, o livro efetivamente termina; nesse caso, o restante das páginas seria dispensável; a segunda, iniciar a leitura pelo capítulo 73 e depois obedecer à ordem indicada na página do tabuleiro, até finalizar todo o livro. No fim de cada capítulo, há uma indicação de qual capítulo é o próximo, ou, no caso de se optar pela primeira alternativa, basta continuar a leitura no capítulo seguinte.

Bem, dadas as explicações iniciais do primeiro contato que tive com o livro, a única certeza que tive é a de que a leitura não seria fácil. E conto para vocês como foi minha experiência com O jogo da amarelinha.

Hoje, com uma proposta diferente, não trarei aqui uma sinopse, um resumo da história, tão complexa ela se mostrou aos meus olhos. Cabe um trecho da própria orelha do livro, a fim de demonstrar apenas uma pitada do que aguarda o leitor (vale a pena ler a orelha deste livro, ao contrário do que acontece em alguns casos, quando a orelha, na verdade, atrapalha a leitura – algumas revelam demais, na minha opinião; no caso deste livro, ela auxiliará numa melhor compreensão da proposta do texto).

(...) Trata de um relato de amor entre um intelectual argentino no exílio, Horácio Oliveira, e uma misteriosa uruguaia, a Maga, a esmo pelas ruas e pontes parisienses, onde os encontros fortuitos viram elos para o narrador proustiano que os rememora, em busca da amada já perdida no fluxo do tempo.

                                                             _________

E eis o livro mais complexo e difícil que já li em toda a minha existência como leitora. Foi um verdadeiro desafio. Só assim posso definir o que O jogo da amarelinha foi para mim. Mas não se preocupem, é um desafio que vale a pena, a cada página.

A escrita do autor é poética e acho útil informar que o texto é bem denso. Não é uma leitura fácil, fluida. Mas é rica e para amantes de clássicos é uma ótima pedida.

O livro é dividido em três partes: “Do lado de lá”, “Do lado de cá” e “De outros lados (capítulos prescindíveis)". Na primeira parte, o protagonista Horácio, que é um intelectual argentino, está exilado em Paris e está vivendo um romance (a meu ver, nada romântico) com Maga, uma mulher uruguaia inocente demais para o bem dela  (e do leitor também).  Na segunda parte, Horácio está de volta à Argentina, em cenários completamente distintos. Por fim, os capítulos prescindíveis, na minha opinião, sim, totalmente prescindíveis.

O mais engraçado é que, ao terminar a leitura, concluí que sequer cheguei a gostar dos personagens. Achei Horácio um babaca em alguns momentos e Maga, com toda aquela inocência e tolice, me irritou em diversas cenas. Não era possível que ela mantivesse sentimentos por uma pessoa como Horácio, rs.

Apesar de minha rebeldia, é importante salientar que este livro vai muito além do (anti)romantismo que propõe.

Contudo, como uma rara exceção em minha experiência como leitora, o livro se mostrou sensacional de outras formas que eu não esperava.

Fiquei encantada e com muita vontade de conhecer tanto Paris quanto a Argentina. Acho que tinha muito de regional no texto também, em relação aos dois países. Para mim, que não conheço nenhum dos dois, foi um pouco difícil acompanhar, mas despertou ainda mais minha curiosidade para conhecer os países. Acho tão legal quando a gente chega em um lugar e pensa que algum personagem também já esteve ali, já fez o mesmo percurso, comeu no mesmo lugar que você está (loucura de leitor? Imagina!).

Em relação ao que comentei no início da resenha sobre as opções de leitura do livro, confesso que, de início, escolhi a segunda opção, seguindo a sequência de números que estava no tabuleiro de leitura. Só que comigo não funcionou, infelizmente.

Os capítulos intercalados (que, no fim das contas, eram simplesmente os textos da parte 3, uma forma de o leitor não deixá-los de lado) são, na verdade, textos teóricos, comentários críticos do autor, além de sua poética, que é colocada no livro para intercalar com o texto, caso o leitor opte pela opção de jogar o jogo proposto nas primeiras páginas.

 Apesar de toda a poesia dos textos, isso acabou me tirando a atenção e o foco do texto principal e, por isso, abandonei a leitura pelo método do tabuleiro e segui a leitura tradicional até o fim da parte 2.

Antes de partir é bom esclarecer que o romance trazido pelo autor, apesar das confusões, dos labirintos que a história traz, tem claramente um início, meio e fim.

Para aqueles que curtem textos complexos, críticos, reflexivos, esta é uma ótima escolha!

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