Conectadas - Clara Alves

>>  quarta-feira, 27 de maio de 2020



ALVES, Clara. Conectadas. São Paulo: Editora Seguinte, 2019. 320 p.

Sou uma grande fã de romances LGBTQ+, sobretudo por acreditar que amor é amor e ponto final. Quando recebi Conectadas para participar de uma leitura coletiva com a Editora Seguinte, fiquei superempolgada e doida para conhecer a história de Raíssa e Ayla. Agora, divido com vocês um pouco das minhas impressões sobre Conectadas.

Raíssa é adolescente, filha única e vive com os pais em Sorocaba. Desde que o pai a autorizou, aos quatorze anos, a utilizar o computador dele para jogar, Raíssa entrou para o mundo dos jogos online e nunca mais saiu. Apesar de ser uma exímia gamer, precisa esconder sua identidade atrás de um perfil masculino denominado “smbdouthere”, já que até no mundo dos jogos online há a podre contaminação do machismo. Raíssa passa todo o tempo livre na frente do computador jogando Feéricos, um jogo online produzido pela Nevasca Estúdios. Ela e Leo, seu melhor amigo, sabem tudo sobre os jogos da empresa e estão sempre jogando juntos ou sofrendo enquanto aguardam por alguma atualização. Léo é um dos poucos que sabem que Raíssa usa um perfil masculino.

E é usando esse perfil que, um belo dia, Raíssa conhece Ayla, uma adolescente que mora em Campinas com os pais e que está passando por um momento difícil em casa, após o pai ter cometido um grave erro que deu início a uma guerra fria com a esposa, como Ayla gosta de chamar a forma com que os pais se tratam desde então. O problema é que essa guerra acaba respingando em Ayla, que tem sido a mais afetada com o que vem acontecendo. Ela foi, inclusive, obrigada a deixar a escola pública em que estudava, para ir para um colégio particular, apenas para que a mãe de Ayla tivesse o prazer de ver o marido gastar mais dinheiro.

Então, para afogar as mágoas, Ayla joga Feéricos e é apaixonada pelo jogo. Ao contrário de Raíssa, ela usa um perfil feminino denominado “aylastorm”, o que a faz sofrer muito, pois poucos usuários estão dispostos a ajudá-la. Um belo dia, durante uma missão no jogo, ela pede por socorro e um usuário denominado “smbdouthere” se oferece para ajudá-la. Os dois passam, em pouco tempo, a ser companheiros virtuais inseparáveis de jogo.

Com o passar do tempo, a amizade entre eles vai se tornando algo mais forte, e Raissa se vê diante de uma questão muito difícil: contar para Ayla que é uma garota e parar tudo antes que se torne algo sério e alguém saia machucado da relação, ou seguir em frente e, consequentemente, continuar mentindo sobre quem ela é?

Não bastando esta dúvida, há ainda o questionamento constante que Raíssa vem se fazendo sobre sua sexualidade. Será que os pais a odiariam se soubessem que ela gosta de meninas?

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A história é narrada em primeira pessoa, alternadamente por Ayla e Raíssa. Ao final de cada capítulo, o leitor é presenteado com uma tela, ou do computador ou do celular das duas garotas, mostrando conversas que elas tiveram ao longo do tempo de amizade, o que complementa algumas situações que vão acontecendo na história.

Tive identificação com as duas protagonistas, um pouco com cada uma, seja em situações que enfrentaram com a família, seja pela personalidade delas. A história me fez lembrar de vários momentos da minha adolescência, vivida lá pelos anos 2000. Afinal, todo mundo já foi adolescente e sabe as ansiedades que teve, o medo do futuro, as dúvidas, alguns com problemas familiares, outros com questões mais internas. Além disso, naquela época a internet ainda era discada e era um território ainda muito pouco conhecido, pouco explorado. Ainda assim, já era um mundo cheio de perfis fakes, pessoas querendo se passar por quem não eram ou por quem gostariam de ser. Eu mesma conheci várias pessoas que jamais cheguei a encontrar pessoalmente e jamais saberei se eram mesmo quem diziam ser.

Gostei muito do Leo também, ele foi o tempo todo o melhor amigo que uma pessoa poderia ter, e me solidarizei muito com algumas situações que ele teve que enfrentar ao longo da história.

Mas, sem dúvida, minha personagem favorita nesta história foi Sayuri, a tia de Ayla. Além de descolada e muito gente fina, ela não mediu esforços para fazer a sobrinha feliz, coisas que nem a própria mãe da garota, envolta em seus próprios problemas, pensou em fazer pela filha, e por isso Sayuri conquistou meu coração. Talvez também por termos idades parecidas, o que ajudou a me identificar mais com essa personagem em relação aos demais.

Na minha opinião, a história foi muito bem desenvolvida e as personagens são cativantes. Torci muito por todos e queria que tudo terminasse bem, apesar de saber que Raíssa e Ayla teriam que enfrentar uma barra e tanto, se e quando tudo viesse à tona, principalmente com relação aos pais e amigos e com o mundo, quando assumissem sua homossexualidade, afinal de contas, não é fácil. Ainda há muito preconceito e a luta é diária, mas necessária de ser enfrentada.

Não digo que defendi Raíssa por ela ter mentido para Ayla, eu também ficaria muito brava se fosse comigo. Mas compreendi os motivos dela para adiar a verdade.

Uma coisa que achei legal na história são as menções a livros e filmes muito amados, como O senhor dos anéis, Orgulho e preconceito, Uma babá quase perfeita. Fico sempre encantada quando os livros mencionam histórias e filmes que amo, espero que sirva para os jovens de hoje em dia terem curiosidade de conhecer “essas coisas mais das antigas”, rs.

O que foi mais difícil para mim, durante a leitura inteira, foi me segurar para respeitar o cronograma de leitura coletiva (que durou 3 semanas) e não devorar tudo de uma vez. Quanto mais eu lia, mais queria ler e saber o que ia acontecer!

O final me deixou com o coração quentinho, com lágrima nos olhos, apesar de não ter me contentado com o desfecho dado a alguns personagens, como o Léo. Caso a autora se interesse algum dia em escrever uma história especificamente sobre ele, acho que muitos leitores (eu!) vão adorar! (#ficaadica).

Antes de ir, deixo para quem tiver interesse duas playlists que são mencionadas na história: Uma, da Raíssa para Ayla e uma da Ayla para Raíssa. Não se preocupe se você não tiver uma conta, dá para ouvir de graça! Ouçam antes, durante ou depois da leitura, não importa. O importante é se divertir!



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