A história sem fim - Michael Ende

>>  quarta-feira, 22 de julho de 2020

ENDE, Michael. A história sem fim.  São Paulo: Editora Martins Fontes, 2000. 392 p. Título original: Die unendliche geschichte.

Este livro é um exemplo claro de que, quando compramos um livro e não o lemos imediatamente, não significa que ele ficará para sempre apenas fazendo volume na estante. Minha mãe me deu de presente mais ou menos em 2001 e, desde então, ele ficou na estante me olhando de lá e eu de cá dizendo que, em algum momento, ia conhecer aquela história que eu só conhecia, até então, por causa do filme. Lembro de te ter tentado ler logo que ganhei, mas na época não tinha maturidade literária suficiente para entender a história, e deixei para outra época. E eis que esse momento finalmente chegou, graças à Nanda, que o escolheu para mim para o Clube do Livro das Chocólatras de junho. Agora, conto para vocês o que achei de A história sem fim.

Bastian Baltazar Bux vive apenas com o pai desde que a mãe faleceu, e o relacionamento dos dois não é o mesmo desde então. O pai parece não querer mais viver e não liga para muita coisa, nem mesmo para o filho.

Bastian é o típico garoto que todo mundo adora fazer troça na escola. Gordinho, tímido e sempre no mundo da lua, é sempre vítima dos garotos maus da turma.

Um dia, fugindo dos garotos do colégio que o estão perseguindo antes da aula, Bastian vai parar dentro de uma loja, todo ensopado por causa do toró que estava caindo. No início, ele não percebe onde está, mas sua atenção é atraída para o dono da loja, que começa a falar todo cheio de marra e falta de educação com o garoto. Observando que o senhor segurava um livro na mão, Bastian percebe que está em um sebo.

Ele fica muito interessado no livro que o dono da loja está lendo e, quando este se distrai, Bastian pega o livro e sai correndo. Mas, para onde ir? O menino não quer voltar para sua casa triste, principalmente porque, para o pai, ele deveria estar na escola. Também não pode entrar na sala de aula, pois corre o risco de virar, uma vez mais, motivo de chacota da turma.

Então ele decide ir para o sótão do colégio onde estuda e ali começa a ler o livro que “roubara” do sebo. Nesse momento, tanto Bastian quanto nós, leitores, somos levados ao mundo sem fronteiras de Fantasia, que está passando por sérias dificuldades. Isso porque a Imperatriz Criança está muito doente e, ao mesmo tempo, o nada está tomando o mundo de Fantasia. De repente, um pedaço daquele mundo simplesmente deixa de existir.

Todos os habitantes estão aflitos. Algo precisa ser feito para que a Imperatriz Criança se cure e, com ela, o mundo de Fantasia. Mas, para isso, muitas aventuras e perigos precisarão ser enfrentados pelos habitantes de Fantasia, por Bastian e, claro, por nós, leitores.

– O senhor só poderá descobrir os caminhos de Fantasia, disse Graograman, através dos seus desejos. E só poderá fazê-lo indo de um desejo para outro. Aquilo que o senhor não deseja, não conseguirá atingir. É esse o significado das palavras "perto" e "longe" neste lugar. E também não basta querer ir embora de um lugar. É preciso que se queira ir para outro. Deixe que seus desejos o conduzam." p. 208.

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A primeira coisa que é preciso entender é que A história sem fim é um livro dentro de um  livro.

Dito isso, a primeira coisa que chama atenção, pelo menos na edição que eu li da Nova Fronteira, é o texto da “orelha” do livro, que diz: “Fantasia é uma história sem fim escrita num livro de capa cor-de-cobre que estava no sótão de um colégio. Agora, ele está na sua mão.”

A capa (que também é cor-de-cobre) traz a imagem do AURIN, o colar da Imperatriz Criança, que é representado por duas cobras, uma mordendo o rabo da outra. Quando começamos a folhear o livro, mais surpresas nos aguardam. A cada capítulo há uma imagem que ilustra um habitante de Fantasia, e vemos que o texto varia entre duas cores: os trechos em verde narram acontecimentos do mundo de Fantasia; já os trechos em marrom narram acontecimentos da vida de Bastian no mundo real.

Além disso, há uma curiosidade: o texto de cada capítulo se inicia com uma letra do alfabeto, sequencialmente, de modo que há exatos 26 capítulos, literalmente de A a Z.

Em relação à história em si, não há como não se apegar ao mundo de Fantasia e a todos os personagens. Fiquei agoniada e torcendo para que encontrassem logo uma cura para a doença da Imperatriz Criança e para que o “nada” desaparecesse de Fantasia!

Bastian me deixou irritada algumas vezes, mas tentei respirar fundo e compreender que ele era um menino tímido e solitário, e que tomar atitudes e decisões às vezes era difícil para ele.

Atreiú e Fuchur (o dragão da sorte que mais parece um cachorro e que no filme se chama Falkor, rs) se tornaram meus personagens favoritos. Já eram quando assisti ao filme, mas quando os conheci a fundo neste livro, eu me apaixonei por eles ainda mais.

O ponto mais legal do livro é a mensagem que ele traz. É sobre a leitura e o que ela faz conosco, leitores, dentro de nossas mentes: a imaginação, as aventuras que vivemos, os mundos que conhecemos, os mundos que criamos quando, além de ler, escrevemos; os livros que nos tiram do mundo real de uma forma que esquecemos de comer, de fazer qualquer outra coisa; e, claro, a catarse que nos acomete ao lermos uma história como se ela estivesse sido escrita para a gente. Bastian passa por tudo isso enquanto está lendo o livro que “roubou” no sebo, e nós também, enquanto o acompanhamos na leitura (afinal, trata-se de um livro dentro de um livro).

Com esse ponto de vista, compreendi da seguinte forma o significado por trás do “nada” que acomete Fantasia: sendo Fantasia um mundo que só existe no livro, quanto menos as pessoas o leem, menos sentido tem a existência daquele mundo e de seus habitantes, criações de nossas imaginações quando lemos. Assim, o “nada” vai cada vez mais reinando em Fantasia, porque aquele mundo só tem existência na mente do leitor, enquanto ele está lendo.

Por fim, possivelmente o que achei mais incrível no livro todo é o significado do seu título, A história sem fim. É sem fim porque é cíclica; ainda que comece, se desenvolva e encerre, a história é reiniciada toda vez que é lida, ou relida.

O único ponto negativo do livro é que, em determinado momento, a história começou a virar pura embromação, e comecei a pensar que poderia já estar se encaminhado para o final.
Em relação ao filme, de mesmo título, como o assisti há tempos, eu não fazia ideia de que ele cobre menos da metade do livro! Fiquei espantada! Ainda assim, é muito semelhante, mesmo que só abranja parte da história. É um filme de que vou sempre gostar, porque me lembra muito a minha infância.

Indico fortemente este livro para todos os leitores, sem exceção!

Antes de me despedir, deixo o trailer do filme!



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Avaliação (1 a 5): 4.5







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