Os segredos que guardamos - Lara Prescott

>>  quarta-feira, 26 de agosto de 2020

PRESCOTT, Lara. Os segredos que guardamos. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2019.  368p. Título original: The secrets we kept.

De vez em quando, acontece de eu me interessar por um livro sem saber absolutamente nada da história, ou sabendo tão pouco a respeito dela que, se alguém me perguntasse o que me motivou a lê-lo, eu não saberia sequer explicar. Foi o que aconteceu com esse livro. Ouvi falar de Os segredos que guardamos quando ele saiu como o livro 014 do Clube Intrínsecos. Depois, apenas ouvia outros parceiros falarem muito bem a respeito da história, mas não tinha tido oportunidade de ler. Até agora... Logo que ele chegou pra mim, enviado pela Editora Intrínseca, e finalmente comecei  a ler, fui ficando cada vez mais curiosa e querendo ler mais e mais. E agora deixo aqui tudo o que achei de Os segredos que guardamos.

Durante a Guerra Fria, os Estados Unidos buscam todos os meios possíveis para atacar a União Soviética e enfraquecê-la. A guerra pelo poder era forte, e tudo era válido. Um dos projetos da CIA consistia em resgatar livros proibidos na União Soviética e fazê-los chegar clandestinamente no país. O mais novo objeto de desejo da Divisão Soviética, setor da CIA responsável por operações secretas contra a União Soviética, era o livro de um dos autores mais famosos da Rússia e que estaria proibido de ser lançado no país, por causa de seu conteúdo subversivo e antissoviético. O autor: Boris Pasternak. O livro: Dr. Jivago.

Na Rússia, anos antes, Boris está escrevendo seu novo livro, desta vez um romance, que tem chamado a atenção do governo devido ao suposto conteúdo antissoviético da história. O problema é que não é só ele que está na mira do governo; Olga, a mulher que inspirou a protagonista do livro de Boris e que também é amante do autor, também está sendo observada e perseguida. Mas Boris deixaria de lançar seu livro porque o governo está “incomodado”? Estaria ele disposto a colocar a própria vida, e a da mulher que ama, em risco?

E a CIA? Conseguirá chegar à copia desse precioso livro e lançá-lo?

                                                                   ~~~~~~

Antes de mais nada, vamos à estrutura da narrativa, que gosto sempre de trazer no início da resenha para contextualizar você, leitor, sobre o modo como a história é contada.

Neste caso específico, temos diversos narradores-personagens e dois capítulos que são narrados em terceira pessoa e que se referem especificamente a Boris Pasternak, autor de Dr. Jivago. Quanto à sua organização, o livro é dividido em partes cujo início é marcado por uma folha preta com a imagem de uma linda máquina de datilografia e uma espécie de título que alterna entre “Oriente” e “Ocidente”. 

Mas o que achei mais legal nessa parte foi a forma como os personagens são apresentados e se alternam no texto. Uma espécie de checklist no início de cada capítulo ajuda o leitor a não perder o fio da meada. Assim, ele vai construindo um perfil de cada personagem, conhecendo suas características e, aos poucos, acompanhando sua evolução na história.


Passando aos personagens em si, vou começar por Irina, que, sem dúvida, foi minha personagem favorita e por quem mais torci ao longo do livro. Ela entra para a CIA para ser datilógrafa, mas seu potencial e talento vão muito além de usar os dedos para transcrever memorandos na máquina.

Sally é a espiã experiente da agência. Mulher espetacular, admirada e desejada por homens e invejada por mulheres. Admirei muito a personagem e sua força. Mas também senti muita pena e empatia por causa de algumas situações que ela passa.

Ted é da agência também e é um cara legal, um namorado perfeito. Faria parte do Top Piriguetagem literária de 2020 se eu estivesse montando um, rs. Como shippei o casal Tedrina (Ted e Irina)! Não me julguem, não sou boa para formar nomes de casais.

Boris é um personagem não ficcional, mas nada me impede de dizer o que achei da participação dele na história, né?! Eu o deixei por último, assim como Olga, porque tive uma relação de amor e ódio com eles. Boris, claro, é evidentemente apaixonado por sua arte de escrever, pelos livros, mas eu suspeito que ele amava esse trabalho muito mais do que amava as pessoas à sua volta e, talvez, a si próprio. Contudo, a história mais profunda sobre o autor e sua vida não é contada no livro, afinal não se trata de uma biografia.

Olga, por sua vez, se dedicava com unhas e dentes ao amor que sentia por Boris, às vezes relegando a segundo plano até mesmo os próprios filhos, Ira e Mitia, e seu amor por eles. Não sou mãe para julgá-la, mas algumas atitudes dela na história me deixaram apreensiva, para dizer o mínimo.

Os demais personagens mais secundários, e até mesmo as datilógrafas, tiveram sua cota na história, mas não me chamaram grande atenção.

Não sei o que mais gostei da história, rs. Se foi a referência a tantas obras incríveis da literatura mundial (principalmente a russa); se foi o fato de se tratar de uma história baseada em fatos reais; se foi o tema da espionagem; se foi por se tratar de romance histórico. Enfim, razões não me faltaram para gostar do livro – e eu gostei, muito!

Algumas curiosidades que acho importante trazer para facilitar o entendimento das informações que dei no parágrafo anterior (principalmente para quem não está familiarizado com os fatos históricos que permeiam a história):

A mencionada missão da CIA para lançamento de Dr. Jivago é real, aconteceu realmente. A autora Lara Prescott, que recebeu o nome em homenagem à protagonista do livro Dr. Jivago (Lara), decidiu escrever  Os segredos que guardamos quando ficou sabendo que a CIA, em 2014, havia liberado 99 memorandos e relatórios referentes a essa missão. Dessa forma, diversos diálogos da história foram tirados literalmente desses memorandos e de outras pesquisas que a autora fez para escrever o livro. Preciso dizer, ela pesquisou direitinho!

Como eu adoro romances históricos, fiquei muito presa à leitura o tempo todo. Há diversas referências a acontecimentos reais, como a corrida espacial (vencida pela Rússia, caso você não se recorde, com o envio do satélite Sputnik ao espaço); a perseguição a homossexuais, que eram demitidos, expulsos dos locais que frequentavam. O próprio lançamento de Dr. Jivago foi um grande acontecimento real, com consequências reais para o autor e para aqueles que o cercavam. Essas referências, por si só, já valeram toda a leitura.

Passei a leitura inteira imaginando como seria se o livro fosse adaptado para cinema/TV/streaming. Dei uma pesquisada e fiquei sabendo por alto que, sim, vai virar filme! Podia mesmo, vou adorar!

Por fim, há uma pitada de romance ao longo do livro, contudo, no final, fica mais do que claro que esse não é o tema central da história, mas secundário. Isso me incomodou um pouco (bem pouquinho), porque o que tem de romance na história é suficiente para deixar o leitor ansioso por mais, mas não vá com esperanças, pois não será muito aprofundado.

Indico o livro para todo mundo que gosta de espionagem, de romance histórico e de literatura boa de forma geral!


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Avaliação (1 a5): 4.5








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