A vida mentirosa dos adultos - Elena Ferrante

>>  quarta-feira, 4 de novembro de 2020

FERRANTE, Elena. A vida mentirosa dos adultos. Rio De Janeiro: Editora Intrínseca, 2020. 432p. Título original: La vita bugiarda degli adulti.


Ao longo da minha vida como leitora, por diversas vezes ouvi o nome de Elena Ferrante. Sempre muito elogiada, por muitos idolatrada no mundo literário, por isso sempre tive curiosidade, mas também receio de, diante de tantos elogios, acabar lendo e não curtindo tanto. A minha curiosidade maior sempre girou em torno do fato de as histórias dos livros dela se passarem em Nápoles, na Itália, lugar que tenho vontade de conhecer.

Quando A vida mentirosa dos adultos foi lançado na Edição nº 21 do Clube Intrínsecos, fiquei ainda mais curiosa, pois só o titulo já me deixou com vontade de ler. Agora, com o lançamento do livro para as livrarias, tive a chance de solicitá-lo e não perdi a oportunidade, feliz por finalmente poder conhecer a escrita da autora. Vamos saber como foi a minha primeira experiência com Elena Ferrante? Vem que te conto!


Giovanna é filha única de pais professores. Ela se recorda de se sentir muito amada por eles, mas principalmente pelo pai, que sempre a elogiava quando era criancinha, dizendo que era linda, que tinha o rosto perfeito, o cabelo lindo. E ela acreditava nele.

Até que uma dia, já nas portas da adolescência, quando começa o momento das dúvidas, e, mais ainda, diante da fragilidade, da insegurança sobretudo com o próprio corpo, Giovanna escuta o pai dizer à mãe que ela estava ficando a cara da pior pessoa da família, sua tia Vittoria, irmã de seu pai.

Vittoria é uma mulher solitária, amarga, ranzinza, bruta e, segundo o pai de Giovanna, invejosa e rancorosa, e cujo objetivo de vida, ele tem certeza, é destruir a vida dele.

Em razão disso, o pai de Giovanna vive afastado de toda a família e, consequentemente, impede que ela se aproxime dos parentes. Ela mal tinha ouvido falar deles, até o dia em que o pai diz uma frase que, para Giovanna, foi um divisor de águas entre a infância e a adolescência, entre a inocência e a perda dela, entre quem ela pensava que os pais eram e quem eles passaram a ser aos olhos dela 
– e, pior, entre quem a própria Giovanna era e quem ela passou a ser após essa revelação. 



                                                      "A única tumba aceitável é a lembrança." p. 85.


                                     "Só algumas pessoas ou todas, após certo patamar, ficavam cegas de raiva? E éramos mais verdadeiros quando os sentimentos mais robustos e densos - ódio, amor nos cegavam?" p. 343



Já faz alguns dias que concluí a leitura deste livro, e confesso que até hoje me pego pensando na história. No momento em que terminei de ler, fechei o livro e fiquei olhando pra ele e tentando digerir tudo o que aconteceu.

A escrita da autora foi a primeira coisa que me impressionou no livro, além das cores, da imagem e da textura da capa, que são sempre um espetáculo à parte proporcionado pela Intrínseca. Sei que todo leitor demora alguns minutos de leitura para se concentrar e entrar definitivamente na história, mas com este livro, todas as vezes que sentei para lê-lo, a leitura engrenava tão rápido que páginas e páginas se passavam sem que eu sequer me desse conta. Era praticamente impossível parar de ler, e quando o fiz não foi sem lamentar.

A narrativa e os personagens foram construídos de uma forma que me fazia querer ler mais para saber o que ia acontecer. Além disso, a ambientação da história se dá de uma forma que,  por vezes, eu sentia que conhecia as ruas mencionadas por Giovanna, como se já tivesse estado ali, embora eu jamais tenha conhecido Nápoles.

Acho válido dizer que achei a história extremamente reflexiva. No papel de leitora, acompanhei Giovanna na saída 
da infância e na entrada na adolescência, e a forma como ela lida com isso, com seus complexos, seus medos, os dilemas envolvendo a família e a ruptura entre a forma como ela imaginava sua família e a forma como esta realmente era. A figura do pai como herói sendo desconstruída para dar lugar à realidade de um homem como outro qualquer, com defeitos e qualidades como qualquer ser humano. A mãe que deixa de ser a mulher forte para ser uma figura frágil, com dores, sofrimentos, dúvidas.

Até mesmo as amizades mudam de perspectiva aos olhos de uma garota que acabou de deixar a infância para trás. Como ver a família, 
os amigos e outras pessoas sob uma nova ótica, como lidar com o entendimento de que o ser humano é muito mais complexo por trás de sua "casca", muito mais do que uma simples aparência? E mais, como lidar com a complexidade dos adultos em contraposição à simplicidade da infância? Como deixar para trás uma vida de proteção, cor-de-rosa,  baseada em brincadeiras e sorrisos fáceis?



Ainda que Giovanna seja uma narradora-personagem e, consequentemente, nada confiável, não tem como não se identificar com a história, sobretudo com essa ruptura sofrida por ela, pois acredito que, ainda que de formas distintas, todos nós, em determinado momento, passamos por essa perda da inocência. Esse choque de realidade que nos atinge e nos transforma.

Além disso, toda família tem aquele parente responsável por ser a pomba da discórdia, rs.



Eu me identifiquei não só com essa parte, mas com o relacionamento dos pais de Giovanna e, ainda, com os complexos que ela tem com o próprio corpo, as inseguranças, os comentários autodepreciativos. Tenho certeza que muita gente vai se sentir nostálgico lendo este livro e se identificar com muita coisa também. Talvez este tenha sido um dos livros mais catárticos para mim nos últimos tempos.

Não entrarei em muitos detalhes sobre o desfecho da história. Basta dizer que depois da adolescência vem a vida adulta, de modo que não há como acabar por aí. Leiam!


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