O conto da aia - Margaret Atwood

>>  segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

 

ATWOOD, Margaret. O conto da aia. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2017. 368p. Título original: The handmaid's tale. 

"Liberdade para, a faculdade de fazer ou não fazer qualquer coisa, e liberdade de, que significa estar livre de alguma coisa. Nos tempos da anarquia, era liberdade para. Agora a vocês estão sendo concedida a liberdade de. Não a subestimem." p.36

Mais uma série de TV excelente que foi baseada em um livro, The handmaid's tale! A série é forte, inteligente, impressionante! Eu amei a primeira temporada e corri para ler o livro. Confiram o que achei de O conto da aia da Margaret Atwood!

EUA, século XXI. O mundo mudou, devastado pelos efeitos da radiação e de uma guerra em andamento. No meio do caos, o presidente e o congresso são assassinados, e um grupo desconhecido assume o governo "provisoriamente" enquanto prometem organizar novas eleições. As pessoas tentavam levar a vida normalmente, com esperança de que logo as coisas iriam melhorar. Assume um governo teocrático e autoritário. Depois eles suspendem a constituição e as minorias começam a sofrer imposições e ameaças. Por fim,  o direito das mulheres são revogados, elas perdem seus empregos, seus bens, e passam a ser propriedade dos homens. Quem discorda do regime é condenado a morte ou enviado para fazer trabalho forçado nas colônias; um local com alto nível de radiação e pouca esperança de sobrevivência. As mulheres que não fazem o que é ordenado, podem se tornar uma Não-mulher como as inférteis, as idosas, homossexuais, adúlteras ou feministas. 

Offred, 33 anos, é uma serva na casa de um comandante do alto escalão da República de Gilead.  Ela é uma aia, com apenas uma função, procriar. Mensalmente, em uma cerimônia, ela é fecundada com o "fruto" do comandante, enquanto a esposa infértil, Serena Joy, está deitada logo atrás dela, ela é apenas um "meio". Essas e outras regras e rituais são baseados no velho testamento da Bíblia, ou em uma interpretação deturpada.

Todos os momentos do dia de Offred são controlados, o que ela pode ou não pode fazer. As Aias obedecem a regras rígidas, vestem uniformes, usam uma touca enorme na cabeça que não permite enxergar além do que está bem à sua frente. Elas não podem mais ler, escrever ou trabalhar. A maioria dos livros não existem mais.  Ela pode ir ao mercado fazer as compras da casa na companhia de outra aia, pode rezar as orações permitidas em seu quarto e mal pode conversar. No tempo livre, ela vive e se alimenta das lembranças do passado, do marido e da filha, que ela nem sabe se ainda estão vivos. 

Seu antigo nome, aquele que tiraram dela, é June. Ela é uma propriedade do governo, caso não cumpra seu único papel, o de engravidar, ela pode ser enviada para as colônias. Se tiver sucesso, o bebê fica com a esposa do comandante, e ela assume o mesmo papel em uma nova casa.  Não se pode confiar em ninguém, todos podem ser espiões. Quem for pego fazendo algo que não é permitido, é condenado a morte e pendurado nos muros da cidade, para que todos vejam. 

Sem saída. Sem voz. Sem nome. Tudo foi apagado. Mas mesmo eles, não conseguem apagar a esperança e o desejo de um futuro melhor. 

"Elas usavam blusas com botões abotoados na frente que sugeriam as possibilidades da palavra desabotoar, desatar. Aquelas mulheres podiam se desatar; ou não. Elas pareciam ser capazes de escolher. Nós parecíamos capazes de escolher naquela época. Éramos uma sociedade que estava morrendo, dizia Tia Lydia, de um excesso de escolhas." p. 36

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Eu já tinha uma grande expectativa porque o nível da série é excelente, e mesmo assim o livro superou tudo o que eu esperava! A narrativa é excelente, o enredo é forte, pesado e inquietante. Como mulher eu lia cada página revoltada, as vezes com o estômago revirando. E fora que tudo isso é muito real! Os direitos que foram adquiridos com tanta luta no passado, podem ser perdidos de forma muito fácil. E podemos ver isso claramente nos governos e países mais intolerantes. Regredir sempre foi e vai ser mais fácil do que progredir! 

Revoltante que nem nome de verdade elas podem ter mais. A protagonista Offred, por exemplo, o nome significa Of Fred, ou seja, de Fred. Se ela mudar de comandante (ou porque teve um bebê ou porque não engravidou e foi trocada de casa), o nome dela muda.  As mulheres foram despidas de qualquer direito, escolha ou opinião. Elas obedecem, porque não obedecer é muito pior. As esposas dos comandantes também têm suas próprias regras, seus uniformes, tem apenas uma vida menos pior.  As cozinheiras e empregadas são chamadas apenas de "Martas", mulheres inférteis, mas que seguem o regime.  

O sexo é só para procriação, então na cerimônia lá maldita rs, ele só levanta o vestido dela. Todo o ato acontece sem que o comandante encoste as mãos nela; ele fica em pé, com as mãos na cintura. Ela deitada de perna aberta, em cima da esposa! Então teoricamente, os casais mesmo não podem ter relações.  São tantos detalhes inacreditáveis que é até difícil explicar tudo.

O livro é narrado em primeira pessoa por Offred. No início achei estranho que muitas coisas não são explicadas, são contadas aos poucos através de seus pensamentos. E o interessante é que isso não vai ser explicado depois rs. Isso me incomodou inicialmente, mas depois achei brilhante! A ideia é que o livro é um manuscrito feito por ela, contando tudo o que ela sabia sobre o regime, sua vida, seu passado. Muita coisa ela não sabe, então isso simplesmente não será contado.  

O único problema do livro, foi o final. Gente, o final é completamente aberto!! Não tem final! Eu jurava que era o primeiro de uma série, mas o livro em si não tem continuação. E esse livro foi escrito em 1985 (bizarro ver que muitas das ideias acontecem atualmente)! Bom, ano passado a autora resolveu escrever mais um livro, Os testamentos. Provavelmente pelos questionamentos dos fãs e  também pelo sucesso da série. Esse segundo livro não parece ser uma continuação direta, ele se passa 15 anos depois e reúne três histórias de narradoras diferentes. Eu espero que o novo livro responda algumas questões, mas por enquanto não vou considerar como uma continuação direta. 

Sobre a série de TV X livro. Pode conter spoilers se você não  leu nem assistiu a primeira temporada. Eu achei a série bem fiel ao livro, até porque a autora é brilhante em suas descrições. Roupas, cenários, personagens, a ambientação e a trama principal é bem parecida. Temos algumas diferenças: Serena Joy (a esposa do comandante) no livro é uma senhora idosa e com problemas de saúde, na série é uma mulher mais nova bem bonitona, o comandante também é mais velho no livro, um senhor já grisalho. Moira, melhor amiga da protagonista, consegue fugir na série de TV, enquanto no livro não se sabe mais dela, a protagonista não sabe se ela morreu ou não. O marido dela não se sabe se está vivo ou morto até o final, na série ele aparece. Janine se mata na série, no livro não se fala mais dela, apesar de mostrar que está bem perturbada. Tem outros detalhes, mas nada crucial. 

Desculpem pelo texto gigante, mas eu poderia ficar dias falando desse livro! Ele marca, angustia, perturba. Eu amei a leitura e indico para todos, é um livrão!! Leiam!! 

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Avaliação (1 a 5): 4.5


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