The Underground Railroad: Os caminhos para a liberdade - Colson Whitehead

>>  sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

WHITEHEAD, Colson. The Underground Railroad: Os caminhos para a liberdade. Rio de Janeiro: Editora HarperCollins, 2017. 320p. Título original: The Underground Railroad.

"Mas se as pessoas recebiam seu quinhão de infelicidade, o que ela havia feito para trazer esses problemas para si mesma? Em outra lista, Cora anotava as decisões que a haviam levado àquela carroça e seus anéis de ferro. Tinha o menino Chester, e a vez em que ela o protegera como se fosse um escudo. Açoitamento era a punição padrão para a desobediência. Fugir era uma transgressão tão grande que a punição abarcava toda e qualquer alma generosa envolvida na breve experiência de liberdade." p.222

Engraçado que eu não tinha ouvido falar sobre esse livro, até o lançamento da série de TV esse ano pela Prime vídeo. Ganhador do Pulitzer de 2017, confira o que achei de The Underground Railroad: Os caminhos para a liberdade do Colson Whitehead.

Cora nasceu em uma fazenda de algodão na Geórgia, uma das muitas fazendas da região que utilizavam o trabalho escravo para tudo. Ela nunca vira o mundo fora dali, ela nem sabia o que existia depois dos campos de algodão e dos pântanos. Cora sabe que a avó foi arrancada de sua tribo na África e trazida para as Américas, acorrentada, separada da família, e passou por muitos donos e infortúnios até terminar ali. Sua mãe, Mabel, fugiu quando a menina tinha uns 10 ou 11 anos aproximadamente; ali não se tinha data de nascimento nem idade certa, escravos não faziam aniversário... A mãe virou uma lenda na região, uma fugitiva que nunca tinha sido capturada. Cora cresceu com este estigma, sendo desprezada pelos outros e vivendo à margem dos outros escravos da senzala. 

Já adulta, ela faz o necessário para sobreviver naquele lugar. Onde nada lhe pertence, nem seu corpo, nem a palha onde dorme. Quando Caesar, um jovem escravo, a chama para fugir com ele, ela diz não. Três semanas e um espancamento depois, ela diz sim. Caesar conta sobre a ferrovia subterrânea que funciona como uma rede secreta para escravos em fuga. Trilhos que os levariam para longe dali, para os Estados Livres da América.  

Cora não conhece nada do mundo, quando fogem, tudo o que ela quer é ver um pouco mais antes de ser capturada e morta. O que existe depois dos campos de algodão? E depois do pântano? E depois daquela montanha? Eles correm, sem olhar para trás.  Ela fará de tudo para ser livre. 

"Nenhuma corrente prendia as desventuras de Cora e seu caráter ou a suas ações. Sua pele era preta, e era assim que o mundo tratava os pretos." p.222

"E a América também é uma ilusão, a maior de todas. A raça branca acredita - acredita do fundo do coração - que é direito dela tomar a terra. Matar índios. Guerrear. Escravizar seus irmãos. Se há qualquer justiça no mundo, esta nação não deve existir, pois suas fundações são assassinato, roubo e crueldade. E no entanto aqui estamos."

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Uma leitura forte, pesada, extremamente triste e perturbadora. Ficção ou não, todos sabemos o quanto todas essas histórias foram, infelizmente, reais. Negar o racismo que existiu e ainda existe na sociedade é de um negacionismo sem sentido e pouco inteligente. O que ainda está longe de ser o ideal esperado de igualdade entre as raças, obviamente, já foi infinitamente pior. E  o autor retrata esse sofrimento na história fictícia de Cora. Uma escrava em fuga, lutando pela sobrevivência e pela liberdade. 

Colson escreve o que vem sendo chamado de "realismo fantástico". Onde o autor utiliza-se de acontecimentos históricos para criar uma fantasia ficcional. Principalmente pela existência no livro da "Underground Railroad" (rodovia subterrânea), no livro as fugas acontecem pelos místicos trilhos dessa estrada. Uma fábula antiga sobre a rede de estações clandestinas unidas por um caminho-de-ferro que cruzava os Estados Unidos. As linhas subterrâneas com trilhos de ferro ligando o país inteiro é apenas uma fantasia, faz referência a uma real trilha histórica que existiu na superfície e era amparada por abolicionistas. O livro se passa anos antes da Guerra Civil Americana, e a força dos Estados escravocratas era grande e poderosa. Não sei dizer se as datas e Estados citados pelo autor são fiéis à história americana. 

Falando sobre os personagens, o livro é narrado em terceira pessoa principalmente por Cora. Mas existem capítulos avulsos, especificamente sobre outros personagens. Além da abordagem sobre a escravidão, Cora questiona seu papel como mulher na sociedade, seu sofrimento com o abandono da mãe, os abusos sofridos e seus poucos sonhos para um futuro quase impossível. Os personagens secundários como Caesar e Valentine, personagens importantes, não foram tão bem desenvolvidos.

Para mim, apesar da história ser forte e marcante, faltou algo para eu me apaixonar. O autor escreve de forma fria e impessoal, são cenas tristes e horríveis, mas que não emocionam. A escrita é crua, muitas vezes mais parecia um documentário do que uma ficção. Alguns autores têm naturalmente esse dom de colocar a alma em suas histórias, outros, parece que só jogam letras e formam palavras nas páginas. Eu comecei amando, mas muita coisa não me prendeu, mesmo gostando muito da protagonista. 

O final foi corrido, considerando que o início é bastante descritivo, mas achei condizente com o que o livro queria passar.  Achei o final crível com a mensagem passada pelo autor. 


Como disse no início, o livro foi adaptado para a TV através da minissérie homônima da Amazon Prime Video. Lançada neste ano, a minissérie já está finalizada e conta com 10 episódios. 

Não é um livro para qualquer leitor, mas é uma história necessária e importante, leiam!

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Avaliação (1 a 5): 3.5

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