Menino de engenho - José Lins do Rego

>>  quarta-feira, 2 de março de 2022


 REGO, José Lins do. Menino de engenho. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 2001. 149 p.



Este ano, fiz uma promessa a mim mesma: Ler mais clássicos da literatura brasileira. Já sou uma leitura amante da literatura nacional, contudo, sempre acho que posso melhorar. Assim, selecionei alguns livros para serem escolhidos por alguém, mensalmente, no Clube do Livro das Chocólatras. Para o mês de fevereiro, o escolhido foi Menino de Engenho, de José Lins do Rego, um autor de quem ouço falar desde a infância nos corredores da casa da minha família paterna. Descubra agora o que achei de Menino de Engenho!



Carlinhos perdeu a mãe de forma brutal quando tinha 4 anos de idade. Foi levado para o engenho do avô materno, o Engenho Santa Rosa. Ele vive em meio aos escravos da fazenda do avô, pessoas com quem ele se sente bem em conviver, se sente "em casa".


Mas, apesar de estar sempre rodeado de gente, de brincar com os primos e vizinhos, Carlinhos é um menino muito triste e que gosta da solidão. É com ela que ele divide seus medos mais assustadores e desejos mais profundos de menino.


Assim como todas as crianças, Carlinhos vai passando por situações que vão lhe roubando a infância, vão amadurecendo-o. A perda de entes queridos, em vários sentidos que pode-se aplicar a palavra "perda" é o que mais o afeta.


E assim, vamos acompanhando as peraltices de criança, as alegrias de menino e, ao mesmo tempo, as situações que vão provocando o amadurecimento do pequeno Carlinhos.



"De dia, porém, esperando os meus canários, amava a solidão. Era ela que deixava falar o que eu guardava por dentro - as minhas preocupações, os meus medos, os meus sonhos. O mundo de um menino solitário é todo dos seus desejos." (pág. 96)



Nesse livro, o leitor é convidado a acompanhar a infância de um garotinho em meio aos causos, as lendas, a seca que devasta tudo, a cheia que destrói plantações. Vemos tudo pela visão de Carlinhos, cujo nome é revelado apenas mais para o final da história. Ele nos mostra, desde muito jovem, ser alguém de opinião, esperto e que sabe aproveitar cada momento da infância, transformando tudo em brincadeira, até mesmo em momentos que não seriam tão apropriados assim.



Mas, nem tudo na vida de Carlinhos foram flores. Como eu disse na sinopse acima,  ele teve contato desde muito novinho com situações que já seriam complicadas até mesmo para adultos, imagina para uma criança! Ele perdeu entes queridos e animais que estimava muito, na maioria das vezes de forma traumática. Tais mortes deixavam, nas palavras do próprio Carlinhos, a "alma doente".


Além disso, ele foi iniciado muito cedo nos prazeres do sexo, deixando de lado as alegrias da infância e pré-adolescência por um prazer ao qual estava "escravizado", como ele mesmo diz.


Estou acompanhando, quando possível, a nova novela das 18h da Rede Globo (sim, de vez em quando meu lado noveleiro ataca, rs), Além da ilusão, e na primeira fase da novela há um engenho da família da protagonista. Coincidentemente, eu comecei a ler Menino de engenho na mesma semana que a novela começou, então, todas as vezes que o engenho aparecia na novela ou era mencionado eu me lembrava da história do livro.


Gosto muito dessas conexões despropositadas da literatura com outra literatura, ou dela com as coisas do mundo como foi o caso da novela. Tornam o livro mais real, mais crível e até mesmo mais memorável, por assim dizer.


Apesar de ser um livro sobre a infância, ela não é mostrada de forma romântica, lúdica. É o retrato de um amadurecimento precoce. Isso acabou prejudicando um pouco a expectativa que tinha em relação à história. Acho que pensei que fosse ser mais fofa, digamos assim. Por causa disso, acabou não sendo um 5 estrelas para mim, mas não deixa, em hipótese alguma, de ser uma história incrível!


Um ponto que me chamou atenção na história foi a variação que o personagem aplica à palavra escravidão. Além da literal, escravidão que acabara de ser abolida, ele usa essa palavra em outras situações como escravidão ao remédio para curar doença, escravidão do corpo aos prazeres do amor. Achei curioso isso, embora possa não fazer sentido para ninguém.


Indico o livro para quem quer ler mais literatura nacional, para quem curte os livros do autor ou para quem quer conhecer a escrita.




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Avaliação (1 a 5):






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