Devoradores de Estrelas – Andy Weir

>>  sexta-feira, 17 de junho de 2022


WEIR, Andy. Devoradores de Estrelas. Rio de Janeiro: Editora Suma, 2021. 423p. Título Original: Project Hail Mary.
 
“Então, não estou em uma centrífuga. E também não estou na Terra.
Será que estou em outro planeta? Mas não há nenhum outro planeta, lua ou asteroide no sistema solar que tenha uma gravidade tão grande. A Terra é o maior objeto sólido em todo o sistema. Claro, os gigantes gasosos são maiores, mas, a não ser que eu esteja em um balão, flutuando em volta dos centos de Júpiter, não há nenhum outro lugar onde seria possível experimentar essa força.
Como sei tudo isso sobre o espaço? Eu simplesmente sei. É algo que vem com naturalidade – informações que uso o tempo todo. Talvez eu seja astrônomo ou cientista planetário. Talvez eu trabalhe para a Nasa ou para a Agência Espacial Europeia ou...” (p. 26)
 
Devoradores de Estrelas é um livro de ficção científica com um suspense e muita aventura do autor estadunidense Andy Weir, que ganhou fama no mercado editorial e no cinema com seu primeiro livro, Perdido em Marte (2011). Após a empolgante fama e alcance da primeira obra, Weir retornou em 2017 com o não tão aclamado Artemis, para em 2021 voltar ao todo das listas de mais vendidos, premiações e críticas favoráveis com Devoradores de Estrelas, livro que conta a aventura de Ryland Grace, um homem que tem a tarefa crucial de salvar o sol de astrofágicos, criaturas capazes de matar estrelas e exterminar a vida na terra.
 
Conheci Weir pela primeira vez em 2015, quando soube da adaptação de seu livro para o cinema em um filme que foi definitivamente o meu favorito daquele ano, Perdido em Marte. Comprei o exemplar e desde então ele está à minha espera no aconchego da minha estante, exatamente em cima da minha cabeça enquanto escrevo essa resenha. O livro sempre esteve na minha lista de próximas leituras, mas após ver o filme simplesmente desanimei, por já saber diversas das inteligentes e intrigantes reviravoltas da história. Quis o destino que Devoradores de Estrelas passasse na frente, e como estou feliz de ter encontrado e descoberto essa história! Estamos falando de um livro muito divertido, intrigante, com um bom suspense e um desenvolvimento de enredo de tirar o chapéu. Esse é um livro que me deixou completamente vidrada e obcecada. Eu só conseguia pensar e falar nele, e descobri meu espírito nerd, muito interessada no espaço, elementos químicos e explicações científicas. Lido em abril, ouso dizer que talvez esse já seja a minha grande surpresa literária do ano.
 
Temos a história de Ryland Grace, que um dia acorda em um lugar estranho. Sua memória está completamente afetada e ele não lembra quem é, o que faz e onde está, e aos poucos vamos descobrindo junto com ele o que está acontecendo. Ryland se lembra aos poucos, e as lembranças são desencadeadas de acordo com gatilhos de imagens ou sensações. Adorei essa escolha literária do autor, onde o leitor desvenda os acontecimentos ao mesmo tempo do protagonista. Nos dá um senso de poder e envolvimento que fazem histórias de aventuras serem ainda mais engajantes e divertidas. Os capítulos são intercalados com momentos do presente e as memórias então “liberadas” por Ryland, que cada vez mais nos ajudam a entender o cenário. Não posso dar detalhes de MUITA coisa do enredo, pois garanto que diversas surpresas e reviravoltas virão por aí, mas posso dar um cenário geral.
 
Ryand descobre que é o único tripulante vivo de uma espaçonave proveniente da terra e que agora está localizada em algum lugar da galáxia. Por que ele está ali e qual a sua missão ele não sabe, mas vai aos poucos juntando os pedaços do quebra cabeça formado por pistas da nave e as lembranças que aos poucos vão aparecendo. Sem entregar muito, logo descobrimos que o sol está “doente”, infectado por uma partícula extraterrestre chamada astrofágico, e cabe a Ryland descobrir qual a sua missão para salvar a vida na terra... mas seria só isso?
 
Sempre me identifiquei como uma pessoa de humanas, e inclusive falei isso algumas vezes em minhas resenhas. Por essa razão, ficção científica jamais esteve nas minhas listas de leitura. Porém, se todos os livros forem como Devoradores de Estrelas, certamente vou consumir quantidades absurdas do gênero! Acho que esse meu fascínio e encantamento se deve ao talento de Weir. O autor consegue passar as informações científicas de um jeito divertido e jamais condescendente ou pedante. Em alguns momentos me senti em um daqueles museus de ciência super divertidos, que deixam seus cabelos arrepiados e você pode experimentar gravidade zero. Na verdade, eu não sei, nunca fui em um desses museus e talvez por isso eu seja essa pessoa que escolheu humanas, e talvez eu tenha cometido um erro, pois não está no papel o quanto eu me diverti nessa leitura!
 
Venho de uma família repleta de pessoas de exatas, sendo meu pai um engenheiro químico. Várias vezes durante a leitura eu pausava a história e pedia a ele aulas sobre radiação no espaço, ligação química da amônia, como é a molécula de oxigênio, e outras perguntas que se esperaria de uma adolescente curiosa descobrindo as aulas de ciência aos 11 anos. A questão é que eu já passei da casa dos 30, então imagine vocês a cara de surpresa e estranhamento do meu pai ao receber esses questionamentos. Da primeira vez ele me olhou desconfiado e indagou o que eu estava fazendo, uma quase certeza de a resposta ser uma atividade ilegal. Não pai, eu não estou construindo um artefato explosivo, eu só PRECISO saber (e não consigo realçar o quanto eu preciso) se o plano de Ryland vai dar certo!
 
Essa minha fome obsessiva por conhecimento muito se deve à construção do “único” personagem da história. Ryland Grace é um nerd no sentido clássico da palavra. Ele ama saber, ama explicar e isso é tudo que ele tem naquele momento. Ciência salva vidas, pessoal! Quem diria? Destaco um de diversos trechos do livro, onde ele diz “Eu teria que fazer as contas para ter certeza, mas – não posso evitar, quero fazer as contas agora.”
 
O autor acerta perfeitamente ao não nos mostrar ou ensinar a matemática, apenas explicar o resultado, se o plano bolado naquele momento funciona ou não. Não é arrogante, não é um livro didático, é simplesmente divertido. É quase como se eu voltasse ao tempo para ser aquela criança curiosa e cheias de perguntas do passado, e eu adorei essa sensação. Uma volta ao passado, uma aventura de um domingo a tarde, a ânsia para descobrir o que está acontecendo... E isso sem eu poder dissertar sobre mais da metade do enredo, a melhor parte, para não estragar a história para vocês.
 
O fato é que certamente esse livro será adaptado para os cinemas, zero chances contrárias. A história é incrivelmente boa e eu mal posso esperar para ler mais do autor. O que ele publicar eu leio, fato.
 
E a lição que fica é a de se permitir. Cada vez mais eu venho me conhecendo como leitora e encontrando obras que me marcam e me divertem, mesmo que essas obras estejam na prateleira de ficção científica. Sair do lugar comum pode ser algo incrivelmente divertido, como essa leitura.
 
Adicione ao seu Skoob!
 
Avaliação (1 a 5):


Postar um comentário

  © Viagem Literária - Blogger Template by EMPORIUM DIGITAL

TOPO