O Livro dos Anseios – Sue Monk Kidd

>>  sexta-feira, 7 de outubro de 2022


MONK KIDD, Sue. O Livro dos Anseios. São Paulo: Paralela, 2022. 444p. Título Original: The Book of Longings
 
“Meu nome é Ana. Fui esposa de Jesus, filho de José de Nazaré. Eu o chamava de Amado, e ele, rindo, me chamava de Pequeno Trovão. Ele dizia ouvir estrondos dentro de mim quando eu dormia, como o som de trovoadas muito além do vale do Nahal Zippori ou mais para lá do Jordão. Não duvido que ele ouvisse alguma coisa. Toda a minha vida, anseios viveram dentro de mim, saindo para lamentar e cantar durante a noite. Que meu marido, em nossa cama fina de palha, colocasse seu coração sobre o meu para escutar era o ato de bondade que eu mais amava nele. O que ele ouvia era minha vida implorando para nascer” (p. 13)
 
Sue Monk Kidd não é uma desconhecida para mim. Meu primeiro contato com a autora foi em “A Vida Secreta das Abelhas”, uma história de amadurecimento tendo como pano de fundo os movimentos de direitos humanos do sul estadunidense da década de 1960. Foi um livro muito bem recebido pela crítica, coroado com uma adaptação cinematográfica de relativo sucesso. Me agradou, apesar de ser uma das leituras que foi perdendo força com o tempo, e com isso, a memória de detalhes e peculiaridades da escrita da autora. Assim, quando primeiro fiquei sabendo de seu novo lançamento, “O Livro dos Anseios”, enruguei a testa daquele meu jeitinho peculiar que meu dermatologista detesta, pois destaca todas as marcas de expressão do meu rosto. Era a expressão de “eu já li essa autora, qual foi mesmo a minha opinião”? Infelizmente não tinha uma resenha escrita do livro, o que sempre ajuda nesse exercício cada vez mais árduo de relembrar leituras passadas. Após refletir, decidi que gostei do estilo da autora, mas não o suficiente para me marcar. Assim, valia a pena dar uma segunda chance, para quem sabe reforçar as impressões esquecidas.
 
“O Livro dos Anseios” foi um lançamento até certo ponto badalado. Monk Kidd não é novata no circuito literário, e este livro, primeiramente publicado nos Estados Unidos em 2020, veio com um certo alarde. Com críticas relativamente positivas, a coragem da história me pegou. O livro, mais uma aventura da autora no gênero da Ficção Histórica, nos conta a história de Jesus Cristo. Pronto. Acabou. Só isso. Só que não...
 
Toda a história e o desenvolvimento são vistos pelo lado de uma mulher que tinha voz, vida e força, e não saiu do lado da figura mais conhecida de todos os tempos. Ana é o nome dela, e é a sua força e a sua perspectiva que Monk Kidd habilidosamente passa, ao mesmo tempo que prova de uma vez por todas que não tem medo de adentrar assuntos polêmicos. É importante ressaltar que aqui não temos um Jesus bíblico, mas sim um Jesus histórico, em uma perspectiva mais humana e rotineira. Claro, só a sinopse do livro já é capaz de gerar inúmeras polêmicas e afastar diversos leitores, mas o grande sucesso da escrita é realmente afastar o lado bíblico ao contar o outro lado de conviver com uma pessoa pública, importante e em constante perigo.
 
E, aos poucos, fui relembrando o estilo da autora. Ela não foge de uma polêmica, e gosta de brincar com o limite do socialmente aceitável. Ela dá força e foco aos seus protagonistas, com muita dose de drama e muita força dali advinda. Assim é Ana, uma mulher que não teve escolha a não ser a força e a luta. Realmente é um estilo empoderado e que certamente inspirará muitas pessoas. Acho que o desafio que a autora se propôs era imenso e por vezes achei que não fosse ser bem sucedido, mas felizmente foi uma preocupação em vão da minha parte. Por isso, acho que será uma leitura interessante para os fãs de ficção histórica com lições de vida e personagens marcantes.

Dito isso, tenho alguns problemas com o livro, que provavelmente foram problemas que tive na minha primeira leitura. Sabe, aqueles que o tempo me ajudou a apagar. Para explicar melhor, vou me remeter à resenha de “A História de Shuggie Bain”, talvez a minha leitura favorita do ano até o momento (alerta spoiler da lista do final do ano), cuja resenha vocês conferem clicando AQUI. Especificamente, disse o seguinte:
 
“Ao contrário de diversas obras que classificamos como drama, há algo diferente aqui, algo que simplesmente me nocauteou: a resignação. Nesta parte percebi que o livro seria inteiro assim, descreveria “a vida como ela é”. Difícil, dura, sem perspectivas de melhoras, em um lugar inóspito, com muitos julgamentos e abusos vindo para todos os lados. Não há nenhum momento de clímax – a história não se direciona para um grande acontecimento que marca e muda tudo e todos. A história de Shuggie Bain é a história de milhares de pessoas ali em Glasgow, que não precisam de heróis ou vilões, grandes acontecimentos ou grandes desastres para serem o que são.”

Esse é meu único problema com “O Livro dos Anseios”. Eu não achei um drama natural, uma história fluida, os anseios resignados e controlados. Ao tecer a trama, conseguia perceber exatamente os momentos clímax do drama, escritos habilidosamente para provocar o sentimento no leitor. E, com isso, não achei um livro muito natural, mas sim habilidosamente fabricado para demonstrar um ponto. Tudo bem, entendi o ponto e foi interessante. Mas eu pessoalmente gosto das minhas leituras mais singelas e um pouco mais naturais.
 
Agora com a resenha publicada, terei mais material para lembrar o estilo narrativo da autora quando de seus próximos lançamentos. E não vou me surpreender se este também ganhar uma adaptação para as mídias visuais!
 
Até a próxima!
 
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Avaliação (1 a 5):


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