Diga ao povo que fico

>>  segunda-feira, 21 de março de 2011



Hoje, eu vou começar com uma citação, igual a Nanda faz:

“Eu adorei a personagem, da para perceber claramente sua imaturidade e sua insistência em ignorar qualquer mudança, claro como o fato dela ter morrido.”

Nanda, as únicas personalidades que se sentem confortáveis com a morte estão devidamente sepultadas, acompanhadas de suas dezenas de moças virgens e são conhecidas como homens-bomba.

Confesso que, sendo assim, eu sou mega imatura como a Charlotte Usher, de Ghostgirl. Do que você tem medo? Eu tenho medo da morte. Já combinei que vou morrer velhinha e estou decidida a conhecer meus netos, mas vai saber, né?
       
Antecipo que esta é uma daquelas ocasiões em que muitas leitoras e leitores virão com aquela história, de que sem a morte a vida não teria graça, blábláblá... Aaaah ta! Vá você querida e me deixe aqui, nessa vidinha sem graça. Outros dirão que essa passagem é necessária para me tornar uma pessoa melhor. Melhor do que quem, cara-pálida? Gandhi? Oprah? Não, obrigada. Virar luz também não quero. Nem anjo, nem santo, nem pó.

Na verdade, eu tenho medo mesmo é do que vem depois. Ou melhor, medo do que pode não vir. Porque se vier alguma coisa, qualquer coisa, eu já tô no lucro.

Vai tudo isso aqui pra debaixo da terra? Meus cinquenta e dois quilos, meu dedo mindinho, meu joelho com cicatriz de queda de bicicleta? Minha mente cheia de perversões. O pior mesmo, é que todo o resto continua. A roda de samba, a cervejinha gelada, o pão de queijo. Políticos corruptos. Assassinos. Pedófilos. Eles vão continuar tomando café e comendo pão de queijo. E eu, que nunca matei ninguém... A vida é injusta.

E minhas coisas? Minha mãe não ia querer guardar aquele monte de coisas. E minhas plantinhas? Será que meu marido cuidaria delas? E todas as toneladas de brigadeiros que seriam produzidas depois da minha morte? E o solzinho, a praia, o sorvete de menta...

Meus livros irão para um sebo? Acho que meu pai guardaria. Ou a Nanda. Talvez minha irmã, né? Mas talvez não, por causa da culpa. Olhariam os livros e lembrariam de mim... E se eu tiver filhos, eles guardariam? Duvido! Filhos são sempre ingratos. Venderiam tudo por uma mixaria pra comprar jogos de videogame. Se bem que até lá nem vão existir mais videogames.

E meu marido, guardaria meus livros? Mas e se ele casar de novo? Claro que vai casar, homem não fica sozinho, ainda mais depois de velho. A mulher que ele escolher vai guardar meus livros, velhos e novos? Talvez ela guarde, e diga: “Nossa! Ela tinha tanto bom gosto...” Talvez ela o convença a se livrar de tudo. Ciúmes de uma morta?! “Ocupa muito espaço, benhê...” Aaaah, biscate! Será que eu consigo puxar o pé deles à noite?


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