Entrevista - Eliane Quintella

>>  quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Em seu primeiro livro publicado Eliane Quintella nos apresenta Pacto secreto, o primeiro livro da trilogia que mistura suspense e sobrenatural e questiona vários tabus morais e sociais. Segundo a autora "Eu sei que vivemos entre nos sacrificarmos por outra pessoa e vivermos nossa própria vontade, entre a compaixão e o egoísmo, entre o bem e o mal, entre a segurança e o risco, enfim, muitos dilemas que são expostos e vivenciados pela protagonista e sutilmente questionados para que o leitor, se quiser, reflita a respeito." 


Em Pacto secreto a protagonista se vê corroída pela culpa e está disposta a fazer qualquer coisa para mudar seu passado e ajudar sua família. Até que um enviado do diabo aparece disposto a lhe conceder tudo o que deseja, mas o preço a pagar pode ser alto demais. 


Nesta entrevista ao Viagem Literária a autora fala de sua carreira e sobre seus próximos livros, sobre valores sociais, religião e os verdadeiros valores da vida e nossa escolhas diante das dificuldades. Boa leitura!


Oi Eliane, obrigada por participar da entrevista no Viagem Literária. Para começar, fale um pouco sobre você e sua carreira para os leitores.
Eliane - Olá Fernanda. Sou eu quem lhe agradeço pelo interesse. Bem, meu nome é Eliane Quintella sou autora do Pacto Secreto publicado pela Editora Novo Século e também da continuação da saga Prazer Secreto e História Secreto ainda não publicados. Minha carreira como escritora profissional é bem recente, apesar de escrever ter sempre sido o que eu mais gosto de fazer.
A verdade é que na hora de escolher o que estudaria na faculdade, eu já sabia que não existia uma faculdade na qual eu me formaria escritora (para minha grande decepção), existia a faculdade de letras e o jornalismo, mas eu não tinha vontade de estudar nem uma coisa, nem outra. Assim, eu, que sempre fui idealista, resolvi cursar Direito, que também me encantava. Além disso, havia notado que grandes artistas que eu admirava também tinham se formado em Direito, como Vinicius de Moraes, Clarice Lispector, Eça de Queiroz entre outros. Foi assim que em ingressei na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo em 1998 para cursar Direito, em seguida, já ingressei (1999) para o mestrado na mesma Universidade e trabalho com Direito desde o segundo ano da graduação. Eu sempre me interessei pelo estudo do Direito. É realmente fascinante. A rotina do profissional do Direito infelizmente é bem distante do lado utópico que nos fascina na faculdade. Eu posso dizer que Direito é uma paixão na minha vida, mas escrever sempre foi o meu verdadeiro amor e por escrever ser algo assim tão grandioso em minha vida eu nunca deixei de escrever. No ano passado (2010) eu terminei PACTO SECRETO e, é claro, que minha vontade era largar minha carreira jurídica no dia seguinte. Contudo, não fiz isso, pois eu quis que a ideia amadurecesse dentro de mim para que minha decisão fosse realmente resultado da minha vontade maior e não de um impulso. A ideia amadureceu. Eu percebi que, apesar da minha sólida carreira jurídica e das sabidas dificuldades que o escritor nacional sofre, eu nunca tinha realmente me arriscado a seguir minha verdadeira vontade, a viver meu grande amor, eu nunca tinha experimentado tais dificuldades em minha própria pele, eu não havia sequer tentado, assim eu resolvi largar minha vida jurídica, ainda que sólida e satisfatória, para me dedicar ao amor da minha vida que é escrever.

O enredo de Pacto secreto demonstra muita pesquisa no desenvolvimento da trama. Como foi esta pesquisa e quais as suas principais influências literárias?
Eliane - A pesquisa é realmente ampla. Eu acredito que a cultura está em todo lugar, por isso eu não me limitei somente a livros de filosofia e religião. Eu assisti a muito filme de terror, na verdade revi a grande maioria. Eu pesquisei muito na internet tanto em sites brasileiros, como em sites americanos sobre o assunto pacto com o diabo e assuntos correlatos. Me envolvi com a filosofia de Nietzsche e também com a filosofia objetivista de Ayn Rand. Além disso, eu li diversos livros religiosos, voltados ao satanismo e ao luciferianismo. No campo religioso eu posso citar autores como Anton LaVey, Adriano Camargo Monteiro e Morbitvs Vividvs.  A pesquisa foi de vital importância para traçar o perfil psicológico dos personagens e a filosofia encoberta na trama.

Pacto secreto além da trama de ficção questiona vários tabus em nossa sociedade. Como surgiu a ideia da trama e de se fazer este paralelo entre religião, valores morais e sociais?
Eliane - Eu queria que meu livro fosse divertido, tal como um suspense pode ser, mas eu queria trazer algo a mais ao leitor, de tal modo que pudesse ser lido por quem quer apenas se divertir, mas também por quem gosta de ir a fundo nas coisas, tal como eu. Eu que sou apaixonada por filmes de suspense e terror queria trazer uma experiência semelhante ao leitor de entretenimento, mas queria que o livro fosse mais do que isso e que contribuísse de alguma forma para as indagações que pairam no ar e que ninguém pergunta em voz alta, tampouco responde. Eu queria dizer em voz alta o que ninguém diz por ser considerado tabu. (Afinal, se somos seres pensantes, que questionamos tudo, porque não podemos também questionar a religião? Qual o motivo do tabu que envolve a religião?) Eu queria ir a fundo no tema. Eu sei que todos os dramas e os dilemas que estão no livro, como  o bem e o mal, o sacrifício e o egoísmo, a segurança e o risco, sua vontade e a vontade da sociedade, são questões que fazem parte da vida de qualquer pessoa. E é justamente por isso que o livro é uma obra de ficção que envolve questões religiosas, morais e sociais, assim como você bem observou.

Em Pacto Secreto, a protagonista vive nos extremos. Culpa e redenção, Deus e o diabo. Esses extremos servem, de alguma forma, para nos questionar, através da protagonista, sobre as escolhas que cada um pode fazer diante da vida?
Eliane - Exatamente. Eu sei que vivemos entre nos sacrificarmos por outra pessoa e vivermos nossa própria vontade, entre a compaixão e o egoísmo, entre o bem e o mal, entre a segurança e o risco, enfim, muitos dilemas que são expostos e vivenciados pela protagonista e sutilmente questionados para que o leitor, se quiser, reflita a respeito.

Assim como o enviado de Satan é descrito como um homem atraente, você acha que aquilo que é desconhecido, oculto e imoral é atraente para as pessoas em momentos de tensão?
Eliane - Eu acredito que o proibido é atraente, por ser exclusivo, arriscado e, possivelmente, prazeroso, e, por tudo isso, extremamente convidativo. Mas cada pessoa deve ser conhecedora de sua índole, estar ciente do que é capaz de suportar e vivenciar, do contrário ela pode mergulhar em um buraco negro e sem volta. Por isso, o mergulho no que é arriscado e/ou considerado proibido pela sociedade deve ser feito de forma responsável. A forma com que as pessoas resolvem viver perante a sociedade, as pressões que conseguem suportar, tudo isso, é a personalidade delas que definirá, por isso que devem fazer suas escolhas cientes de suas limitações e características. Esse é um dos motivos pelos quais somente a Tina poderia fazer o pacto com o diabo, assunto esse que será mais explorado ao longo da saga.

Você me disse que na historia, a intenção ao mostrar a protagonista como uma mulher rica e que tem tudo que poderia desejar foi para demonstrar que tudo aquilo não era o mais importante na vida. Fale um pouco mais sobre este aspecto do livro.
Eliane - Sim, isso mesmo. Muitas vezes achamos que a fartura pode ser a solução para todos nossos problemas, mas geralmente não é. A sensação de uma alegria fugaz toma conta da nossa mente como o melhor remédio do mundo, mas, depois que se esvai, resta a prova irrefutável de que o problema continua. Há inúmeras formas de driblar seu cérebro e enganá-lo com alegrias fúteis e passageiras. Esse tipo de alegria faz parte da grande ilusão, Maya, e apenas nos alivia momentaneamente. Há pessoas que optam por ter uma vida infeliz em trabalhos que lhe fazem de alguma forma mal, mas que se anestesiam toda a noite em refúgios de ilusão e passam a vida toda assim, sem encarar a realidade. Eu quis mostrar que a riqueza excessiva da Valentina era impotente diante de sua dor e que ela sabia disso. Ela optou por encarar sua dor e encontrar a solução para o seu problema, ao invés de se anestesiar com sua riqueza.

Um dos aspectos que mais chamam a atenção no livro é a culpa. Você, assim como Valentina, já se sentiu culpada por algo que poderia não ser reparado?
Eliane - Felizmente, eu nunca vivi uma culpa como a da Valentina. Mas eu resolvi que minha personagem, Valentina, teria um motivo legítimo perante a sociedade para ter a intenção de firmar um pacto com o diabo. Afinal, a sociedade é a primeira a armar-se com a culpa para controlar nosso comportamento. Nós mesmos temos mania de carregar culpa. A culpa não permite que você avance. A culpa é uma arma poderosa se for usada para manipulação e é um perigoso labirinto. Achei que trabalhar com essa culpa fosse ser extremamente interessante para o dilema da Valentina.

Deixando a escritora de lado, o que significam Deus e o diabo para você?
Eliane - Antigamente a humanidade compreendia pouco sobre os eventos naturais, por isso havia o Deus a que se atribuía a natureza, o Deus a que se atribuía o sol, o Deus a que se atribuía a noite e etc. Hoje já conseguimos explicar muitas coisas, mas há mistérios que permanecem sem explicação. Por isso, quando eu observo o nascimento de uma vida e a impossibilidade do homem em criá-la, quando eu observo a plenitude da natureza e a ordem no seu caos magnífico, eu tenho certeza de que existe uma força superior, que, na nossa época, optamos por chamar de Deus, mas eu não acredito que essa força tenha a natureza quase humana preocupada com o destino, pedidos e anseios da humanidade. Da mesma forma, eu não acredito que existe uma entidade maligna chamada diabo,  responsável pelo que há de mal no mundo. Acho particularmente cômodo culparmos o diabo ou a Deus e não ao próprio homem por tudo de ruim que acontece no mundo. Eu acredito que o homem é o responsável pelas maiores atrocidades que vemos no mundo e que chegou a hora dele assumir sua própria responsabilidade.
Eu tenho ciência que a crença é um ato de fé e não se explica racionalmente, justamente por isso me parece sem sentido discutir qualquer tipo de crença, pois não há conteúdo lógico e racional hábil a tornar a discussão proveitosa.
Por isso na minha opinião qualquer tipo de crença deve ser respeitado e não há sentido em se querer recriminar uma outra crença. Afinal, se acreditar é um ato sem explicação racional, como buscar convencer a outra pessoa de uma ou outra religião? Se olharmos a História, veremos que o homem, conforme sua cultura e percepção do mundo, em cada momento se apoiou em uma crença diferente. Devemos condená-los (todos?) ao inferno por não serem cristãos? Acho realmente sem sentido querer doutrinar todo o mundo, considerando todas suas diversas culturas, influências, conhecimento em um único sistema de crença. A liberdade para acreditar deve ser respeitada.

Pacto secreto é o primeiro livro de uma trilogia. O que você pode adiantar aos leitores sobre o que ainda irá acontecer com Valentina e sua família?
Eliane - O primeiro capítulo do segundo livro da saga, PRAZER SECRETO, já está disponibilizado no blog do meu livro http://pactosecreto.wordpress.com e já conta um pouquinho mais ao leitor sobre o que o aguarda. Eu posso adiantar que a história vai esquentar e que todos os mistérios lançados no primeiro livro serão respondidos ao longo da saga, tais como o porquê da Valentina ter sido escolhida, quais os valores da Ordem Satânica, quem é o Mr. Sinistro, quem é o enviado, o porquê da Valentina ter passado pelo que passou, e muito mais!

Em sua opinião como está o mercado brasileiro de publicação? Como foi o processo para conseguir uma Editora? O retorno está sendo o que você esperava?          
Eliane - O retorno tem sido maravilhoso e eu estou bem satisfeita com o resultado.
Em relação à minha opinião sobre o mercado brasileiro de publicação, eu acredito que há muitos leitores interessados em boas histórias, por isso o escritor nacional tem boas chances, se tiver escrito uma história que agrade ao grande público. As Editoras, é claro, somente investem nos escritores que trazem, por óbvio, retorno financeiro. Assim, tão logo apareçam escritores nacionais que provem as Editoras que são capazes de trazer o retorno financeiro esperado pela Editora, elas hão de investir. Eu acredito que o livro digital, que possui valor inferior ao livro impresso, também contribuirá para o fomento das vendas e para o crescimento do mercado literário. Os autores nacionais poderão fazer uso da publicação digital para vender mais e para se exporem mais.
Em relação ao processo para conseguir uma Editora, o que eu fiz foi ir a uma livraria, anotar todas as Editoras que publicavam livros do gênero do Pacto Secreto, contatá-las uma a uma para ver se tinham interesse em receber a obra para avaliação e seguir o procedimento que elas solicitavam para o envio da obra. A Editora que primeiro respondeu foi a Novo Século e eu logo fechei o contrato com ela.  Todo esse processo é demorado e recomendo ter muita paciência.

Um breve bate-papo:

Quando escrevo, eu busco me soltar total e integralmente.
O que me inspira faz com que minha imaginação voe sem limites e eu possa realmente criar algo diferente.
No meu tempo livre adoro comer brigadeiro
Estou lendo O mundo como obra de arte criada pelo brasil
Meu livro de cabeceira é O pequeno príncipe
Sou fã de endorfina
Não gosto de conversas vazias
Meu maior sonho é me consagrar como escritora
Não viveria sem liberdade
Estou a procura de  conhecimento
Um livro nacional que eu li e gostei Laços de Família
Meu personagem preferido é John Galt
Pacto secreto é para mim parte de um sonho
Uma frase deixe de ser vítima do mundo e assuma as rédeas de sua própria vida (essa frase é minha mesmo e acabei de inventar)

Eliane quero agradecer novamente pela entrevista e pela oportunidade de conhecer um pouco mais sobre você e de ler Pacto secreto. Quer deixar alguma mensagem aos leitores do blog?
Eliane - Sou eu quem lhe agradeço Fernanda pela excelente entrevista. Eu acredito que você fez muitas perguntas inéditas e que muitos leitores vão gostar de saber a resposta. Para os leitores do seu blog deixo os meus blogs e meu twitter: http://pactosecreto.wordpress.com  e http://elianequintella.wordpress.com  e @eliquintella
Quero agradecer aos leitores do Pacto Secreto e dizer que a história vai esquentar no segundo livro da saga, Prazer Secreto.
Um grande abraço, Eliane.

Eliane Quintela é o autora nacional do mês de agosto no Viagem Literária. Se você ainda não conhece o trabalho da autora confira a resenha e participe da promoção que fica no ar até dia 03.09.2011 (sábado) e concorra a 1 exemplar de Pacto secreto.

Colaborou André Campos, assessor de comunicação. 

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