Plural ou singular?

>>  terça-feira, 30 de agosto de 2011



“Tô pensando em marcar o casamento”, diz um amigo meu, com pouco mais de 30 anos. “Todos os meus amigos já se casaram”. Faz algum tempo que tivemos essa conversa. Ele tentava me explicar por que estava decidido a ser casar.

O que faz com que encontros se transformem em casamento? Qual é a idade certa para uma pessoa se casar? O casamento é o único modelo a ser seguido? É claro que não há resposta certa para essas perguntas, como descobriu Tessa Russo, em Questões do Coração. Mas, “sobrei de solteiro na turma” talvez não seja a melhor justificativa pra quem vai tomar uma decisão tão importante.

Então, pensei, deve haver duas alternativas: ele encontrou alguém especial, que de tão especial o fará trocar o status de solteiro convicto para casado convencido. Mas, pra manter a fama de mau, não quer admitir que foi laçado, por isso, disfarça a ansiedade e usa, como desculpa, a solidão dos solteiros. Ou, de fato, rendeu-se ao fenômeno da manada e não interessa muito quem é a pessoa que vai dividir com ele as alegrias e as tristezas, desde que haja alguém para dividir. Quer o casamento, não, necessariamente, a esposa.

Sendo a segunda alternativa, eu diria: não case, aquiete-se. Ninguém espera abrir o jornal num domingo de manhã e, entre anúncios de vagas em casas de massagem e clínicas odontológicas, sublinhar “Precisa-se de malabarista. Salário compatível com o mercado + vale transporte e vale alimentação. Mandar o email pro rh@circo.com.br”. O circo passa e te arrebata de tal forma, que você vai, foge com a roupa do corpo e uma trouxinha com o porta-retrato da família, o moletom velho e a identidade. Se não há entusiasmo, não vá.

Caso marque a primeira alternativa, eu diria: case-se, mas não persiga um conto de fadas. Se há uma coisa que a gente faz nessa vida, essa coisa é idealizar. Desenhamos, na cabeça, modelos de relacionamento que muito dificilmente serão encontrados. Criar expectativas demais é o primeiro passo para a decepção.

Tem dia que você quer ser amado e amar até os cabelos ficarem brancos e as mãos murchas. Tem dia que você quer fugir por uma trilha Inca e se esconder na cidade perdida mais próxima. Fica mais fácil quando você entende que é impossível ser feliz todo tempo, a cada minuto, agora mesmo, neste instante, nós dois apaixonados e mais juntinhos que arroz japonês.

Quando se junta os trapos sob o mesmo teto, depositamos no outro a confiança de que ele nos fará feliz. Mas, claro, não depende só do outro. Talvez, dependa muito mais de nós mesmos. Para uns pode valer a pena, quando são cúmplices até nas piadinhas, colocam a chave na fechadura sorrindo e cozinham juntos o almoço de domingo, ouvindo música alta, e esse parece ser o melhor programa da semana. Para outros, pode ser pouco.

A divisão do espaço doméstico e o arranjo no plural, administrado por dois singulares – convenhamos – não é mole não, mas pode render anos de convivência, aprendizado, diversão e cumplicidade.

E se descobrirem que eu não sei fazer malabares? E se eu cair no meio do show? E se eu não conseguir dormir em um trailer? E se a comida não for boa? E se eu tiver saudades de casa? Uma das maravilhas da vida no século 21 é a possibilidade de testar diferentes arranjos. Nem as tatuagens, sinônimo de “para sempre”, são mais irremovíveis. Não tenha medo de fazer as perguntas, menos ainda, de respondê-las com sinceridade. Só não compre uma coisa quando está atrás de outra.



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