A casa dos macacos - Sara Gruen

>>  segunda-feira, 5 de março de 2012

GRUEN, Sara. A casa dos macacos. Rio de Janeiro: Editora Record, 2011. 397p. Título original: Ape house.

“Apesar de já ter lido que os bonobos eram diferentes, ele não esperava que ela reagisse tão fisicamente a eles.
Sua surpresa talvez fosse evidente, porque depois que parou, ela disse:
- Com o passar do tempo eles ficaram mais humanos e eu fiquei mais bonobo.” p.22

Não sei se vocês já tiveram esta impressão, mas para mim alguns autores conseguem colocar a alma dentro de uma historia; estes autores mudam nossa percepção sobre determinado assunto, nos emocionam, transmitem grandes lições ou questionam vários conceitos dentro da sua obra de ficção. Sara Gruen é um grande exemplo de uma autora que escreve com a alma, eu me apaixonei por Água para elefantes e meu coração se partiu com os maltratos aos animais. Além disso, temos um romance lindo, personagens ótimos, enredo bem construído e uma historia inesquecível. Seu segundo livro lançado no Brasil reforça esta premissa, conheçam e se encantem com A casa dos macacos.

No Laboratório de Línguas dos Grandes Símios os pesquisadores conduzem um estudo sobre os Bonobos e a LAS – Língua Americana de Sinais. Também chamado de Chipanzé Pigmeu, o Bonobo se distingue por sua postura ereta, sociedade matriarcal e igualitária, além de uma grande atividade sexual. Estudos apontam os Bonobos como os animais mais próximos aos seres humanos. Sam, Bonzi, Lola, Mbongo, Jelani e Makena não são macacos comuns, eles mantêm uma relação afetiva profunda, têm a capacidade de raciocinar, expressam desejos, sabem usar o computador e se comunicam através da LAS.

Isabel Duncan considera aqueles seis bonobos como sua família, a cientista do laboratório e pesquisadora se sente mais a vontade no mundo deles do que jamais se sentiu entre humanos. Isabel namora Peter – seu chefe -, mora sozinha com seu peixe e suas plantas e não tem contato com sua mãe. Junto com Célia, sua estagiária meio esquisita, ela fornece um ambiente agradável e adequado para os bonobos. Eles têm seus objetos pessoais, pedem suas comidas preferidas e recebem muito carinho. Com o LAS eles conseguem se expressar e conversar com os humanos.

O jornalista John Thigpen visita o laboratório para escrever um artigo sobre os bonobos para o jornal em que trabalha. Ele quer conhecer os bonobos e falar com eles, leva consigo vários presentes surpresas a fim de impressionar os macacos. E ele acaba conseguindo autorização para entrar, passa um dia se comunicando com eles e sai de lá com uma nova opinião sobre os bonobos e sobre os humanos. John conhece Isabel, e embora seja casado e ame sua esposa, de alguma maneira a doutora mexe com ele.

Do lado de fora do laboratório, defensores dos direitos dos animais continuam protestando contra a pesquisa com os bonobos. Eles desconhecem a forma como aqueles macacos são bem tratados, em como são amados e estão felizes naquele local. Eles ouvem a palavra “laboratório” e pensem em jaulas, em testes de medicamentos e em pesquisas invasivas. Infelizmente existem muitos lugares que usam os macacos para testes de medicamentos, para testes de vacinas, cosméticos e os tratam com extrema crueldade.

Aquele não é o caso, mas um atentado causa uma grande explosão no laboratório e “liberta” os bonobos. Isabel é gravemente ferida, enquanto luta por sua vida em um hospital, seus amados bonobos são vendidos e estão desaparecidos.  Ela precisa encontrá-los, sabe que eles precisam dela e não entendem o que está acontecendo. 

Narrado em terceira pessoa A casa dos macacos alterna a narrativa entre Isabel, John e os próprios bonobos. A autora trabalha esta intercalação com maestria, você não sente a quebra da historia, consegue interagir normalmente com os bonobos  e vai conhecendo os personagens aos poucos. O drama de Isabel com sua recuperação e para achar os bonobos; a luta de John com seu emprego e a carreira sem sucesso de sua esposa como escritora; o destino dos bonobos e vários personagens que vão surgindo no decorrer do livro e ganham destaque. Como Célia, Ivanka – uma atriz pornô aposentada e Amanda – esposa de John.

Eu adorei Isabel, custei para compreender John e me apaixonei por cada um dos seis bonobos. Adorei as maluquices de Célia, me irritei com Amanda e me diverti com Ivanka e suas “colegas de trabalho”. Terminado o livro fui (finalmente) assistir ao filme Planeta dos macacos: a origem. Os dois abordam ângulos muito diferentes, mas no filme também se retrata muito bem a crueldade humana e o desrespeito com os animais.

O título do livro parece simples, mas é perfeito para o enredo. O porquê do título você vai descobrir na medida em que for lendo, preferi deixar a surpresa da historia para vocês do que contar tudo na resenha (a folha de rosto do livro conta, então cuidado quem não quiser saber). Para quem já leu Água para elefantes eu achei este mais leve e com um enredo mais simples, mas gostei tanto quanto.

Sara Gruen questiona vários conceitos morais no decorrer da historia, mas sem externar julgamentos. A autora explora o mundo animal de forma única e questiona à sociedade atual, a cultura pop, a convivência familiar e a noção do que consideramos como humano. Garanto que você nunca mais irá enxergar um macaco da mesma maneira. Terminei o livro com algumas lágrimas e apaixonada por estes animais.

Não se engane achando que este é apenas mais um romance, o livro transmite uma verdade marcante e é profundo na medida em que faz um retrato muito real da sociedade atual. Por outro lado a autora consegue conduzir o romance com uma dose de suspense, aventura e emoção que mantém o leitor preso até o final.  Alguma dúvida que eu indico? Leitura obrigatória para qualquer idade, leiam! Este eu garanto, vocês não vão se arrepender. Gostou? Não se esqueça de deixar um comentário. ^^

Avaliação (1 a 5):

Postar um comentário

  © Viagem Literária - Blogger Template by EMPORIUM DIGITAL

TOPO