O teorema Katherine - John Green

>>  quarta-feira, 14 de agosto de 2013

GREEN, John. O teorema Katherine. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2013. 302 p. Título original: An abundance of Katherines.

“- Mas você será um vencedor – o pai dizia. – Precisa imaginar isso, Colin, que um dia eles todos vão olhar para trás, para a vida deles, e desejar ter sido você. No fim das contas, você terá o que todo mundo quer.” p.153

Eu me envergonho em dizer, sério, mas até pouco tempo atrás não conhecia nada do famoso John Green. Até que recebi este ano Will & Will e me apaixonei pela narrativa. O autor escreve com um leve toque de humor, mas acima de tudo seus livros são mais inteligentes do que a média geral dos YA que costumo ler. É claro que após a leitura do primeiro, eu decidi ler os outros livros do autor. Ao invés de começar pelo famoso A culpa é das estrelas, me deparei com seu último lançamento, O teorema Katherine.

Colin Singleton é um adolescente muito diferente do padrão. Ele é um prodígio, portador de uma inteligência muito acima da média, mas acima de tudo, Colin é um adolescente confuso e frustrado. O grande drama de sua vida é já ter levado o fora das namoradas por 19 vezes, e ele mal concluiu o ensino médio; e pior, todas suas namoradas se chamavam Katherine.

Após Katherine XIX partir seu coração, Colin encontra-se em seu quarto, entregue a própria insignificância. Ele é um eterno “terminado”, nunca um “terminante”. E ele, decididamente, não é uma pessoa muito legal ou interessante, já que suas namoradas insistem em terminar com ele. Colin também não sabe explicar seu interesse em Katherine’s, é uma estranha coincidência ou truque do destino.

Voltando a seu coração partido, o melhor e único amigo de Colin, Hassan, tem a solução para seu problema, eles precisam cair na estrada. Hassan deveria estar indo para a faculdade, mas a tarefa de sua vida é fazer absolutamente nada, e ele continua enrolando para ficar em casa o dia todo na frente da TV. Hassan é mulçumano, seu pai é muito rico, e ele acha que adquiriu o direito de ficar atoa. Até que eles decidem viajar.

É assim que os dois caem na estrada, Colin pensando na Katherine e em sua incapacidade de fazer algo importante. Ele é um prodígio, foi treinado desde cedo para estudar muito, para ser alguém na vida, para fazer algo tal importante que fizesse com que seu nome fosse lembrado para sempre. Colin sabe que a maioria dos prodígios se tornam adultos comuns, ele quer ser mais, ele quer se um gênio.

A viagem os leva até uma pequena cidade, Gutshot, Tennessee. Lá eles fazem amizade com Lindsey Lee Wells, filha da dona da única fábrica da cidade. E é também onde Colin tem seu momento “Eureca” e decide comprovar o Teorema Fundamental da Previsibilidade das Katherines, que através da matemática, poderá prever quando duas pessoas irão terminar.

Resta saber se Colin conseguirá provar ser o gênio que sempre foi destinado a ser, e ainda por cima, se ele conseguirá reconquistar Katherine.

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Este não foi um livro que eu amei e devorei louca para saber o final, mas foi um livro que eu gostei muito de ter lido, mesmo achando o enredo meio morno. John Green escreve muito bem, cheio de sutilezas e de tiradas inteligentes, só isso já destaca o autor no meio YA. Mesmo um livro do Green “não tão bom assim” é melhor que a média geral, considerando minha pequena experiência com o autor.

Antes do meu exemplar chegar, vi muita gente comentando sobre o livro, alguns elogios veementes, mas a maioria falando que se decepcionou ao comparar com outros livros do autor. Como eu disse, minha experiência com o Green ainda é ínfima, mas sem comparar com todos os livros dele, me surpreendeu a narrativa e o que continha nas entrelinhas da historia.

Colin é um dos grandes motivos de reclamação do  público, muita gente não gostou do protagonista – que chora muito com a barriga cheia – e tomou birra do livro. Colin não é mesmo cativante, mesmo com sua inteligência superior, com sua criatividade sem fim para criar anagramas e suas tiradas cheias de informações inteligentes. O rapaz é poliglota, fala 11 línguas, mas é péssimo para se expressar. Mas eu entendi Colin, eu entendi e me solidarizei com sua malfadada busca pela genialidade.

Ele não reclama explicitamente, mas ele cita no livro que aprendeu a ler aos 2 anos de idade, e desde então foi condicionado para ser um prodígio. Sua média de estudos é de 10 horas ao dia, e o pai considera desnecessária qualquer atividade que não sirva como engrandecimento para a mente do garoto. Poderia Colin ser um cara normal,  com dramas normais, depois disso? Ele sofre por não ser especial, ele quer ser um gênio. É tudo que os pais falaram que ele deveria ser desde que nasceu.

Sua busca por entender as Katherines, e a ideia absurda – mas muito bem explicada – de criar um teorema que previsse quem iria terminar um relacionamento, antes mesmo dele começar, reflete duas coisas: a insegurança do garoto e sua busca por reconhecimento. Quem nunca quis ser ALGUÉM? É um exemplo mais sofisticado, mas nada mais é que uma crise existencial adolescente.

Por isso, desculpem a longa explanação, eu gostei de Colin, eu aprendi e me diverti com ele. Eu achei hilária algumas passagens sobre a amizade entre um muçulmano e um meio judeu. Hassan garante momentos divertidos, com sua sinceridade e seu jeito largado. O desenvolvimento da trama e o final é bem previsível, mas não é aí que está a moral da historia, este livro é muito mais sutil do que isso.

Uma coisa me incomodou na leitura, não sei se foi devido a tradução ou se isso se repete no original. A linguagem que usa-se para dar “voz” aos personagens do interior me incomodou muito.
“Mas se casamo, e, meu Deus do céu, nós se amava de verdade. Até o fim. Ela nunca gostou muito de mim, mas com certeza me amava, se é que cê me entende.”  p.113
Toda vez que eu via um “cê” desse eu até arrepiava hehe. Foi a única coisa que realmente eu não gostei. No mais, falta algo na historia para me fazer amar o livro, talvez por ser tudo bem previsível. Mas no geral eu gostei e indico muito as obras do autor, vou atrás dos que ainda não tenho. Eu me diverti até nos agradecimentos, e adorei as explicações matemáticas do amigo dele que diz que John adora “canabalizar a vida de seus amigos em material literário”, mas que mesmo assim ele não era a inspiração para a criação de Colin. Leiam!

Avaliação (1 a 5): 3,5

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