Cidades de papel - John Green

>>  terça-feira, 8 de abril de 2014

GREEN, John. Cidades de papel. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2013. 368p. Título original: Paper towns.

“-Eis o que não é bonito em tudo isso: daqui não se vê a poeira ou a tinta rachando ou sei lá o quê, mas dá para ver o que este lugar é de verdade. Dá para ver o quanto é falso. Não é nem consistente o suficiente para ser feito de plástico. É uma cidade de papel. Quer dizer, olhe só para ela, Q: olhe para todas aquelas ruas sem saída, aquelas ruas que dão a volta em si mesmas, todas aquelas casas construídas para virem abaixo. Todas aquelas pessoas de papel vivendo suas vidas em casas de papel, queimando o futuro para se manterem aquecidas. Todas as crianças de papel bebendo a cerveja que algum vagabundo comprou para elas na loja de papel da esquina. Todos idiotizados com a obsessão por possuir coisas. Todas as coisas finas e frágeis como papel. E todas as pessoas também. Vivi aqui durante dezoito anos e nunca encontrei ninguém que se importasse realmente com qualquer coisa.” p.68

John Green ganhou fama e milhares de fãs fervorosos com seu maior sucesso, A culpa é das estrelas. Seus outros livros não têm esta veia dramática e os enredos são bem diferentes de ACEDE, porém todos apresentam características que já são “a cara do autor”. Personagens inteligentes, tiradas sarcásticas, passagens divertidas, pensamentos filosóficos e uma sinceridade devastadora. Hoje vou falar sobre mais um sucesso do autor com Cidades de papel.

Quentin Jacobsen foi o melhor amigo de Margo Roth Spiegelman quando eles eram crianças, e para ele, este era seu milagre. Seu grande feito. Ele nutre uma paixão platônica por ela desde aquela época, mas muita coisa mudou. Margo deixara de andar com ele e se tornara uma moça linda e popular, enquanto na mesma escola, ele era só mais um dos nerds da turma. Os que dominavam a escola não implicavam muito com ele e seus amigos, e ele desconfiava que Margo tinha uma participação nisso. Ele pensava nela o tempo todo, falava tanto nela que  seus dois melhores amigos sempre se irritavam. Ben Starling que só queria ser um garoto normal e levar uma gatinha ao baile de formatura, e Radar que sofria com vergonha dos pais, que exibiam em casa uma grande coleção de Papais Noéis negros e eram obcecados pelo assunto.  Logo no começo Q deixa uma mensagem do que viria a seguir.
“Margo sempre adorou um mistério. E, com tudo o que aconteceu depois, nunca consegui deixar de pensar que ela talvez gostasse tanto de mistérios que acabou por se tornar um.” p.16
Em uma noite qualquer, Margo invade o quarto de Quentin pela janela e pede sua ajuda. Naquela noite eles teriam vários passos a cumprir, uma vingança contra todos que a haviam magoado. Obviamente, mesmo assustado, Q concorda em ajudá-la. No dia seguinte ele acorda esperançoso, depois de tudo o que aconteceu naquela noite, ele acha que Margo finalmente irá olhar para ele com outros olhos, mas ela não aparece. Nem naquele dia, nem nos próximos. Margo desapareceu.

Quando descobre que o desaparecimento dela é um mistério, e que nem seus pais ou a policia fazem ideia de seu paradeiro, ele começa a investigar. Ele começa a seguir pistas que levem a seu paradeiro, mas no caminho, irá descobrir muito mais sobre a verdadeira Margo, sobre ele mesmo, e sobre as pessoas em geral.

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Atendeu as minhas expectativas como fã do autor e elas eram altas, uma historia irreverente e muito inteligente. Os livros Green são diferentes, a ideia que ele quer passar sobressaí a trama principal, seus personagens perdem importância para “um bem maior”, construir uma linha de pensamento que se mostre verdadeira, e na maioria das vezes, uma triste realidade. Nem todo mundo entende isso, e são aqueles que normalmente se decepcionam com os livros do Green. O mais importante aqui não é onde está Margo ou o que vai acontecer se Q encontrá-la, o mais importante é a busca em si, o motivo do desaparecimento e o comportamento padrão das pessoas em seu meio.

Falando em poema, eu não conhecia Canção de mim mesmo ou o autor Walt Whitman. E depois do livro fictício em ACEDE, fui logo pesquisar sobre o poema e o autor, e fiquei feliz em descobrir que dessa vez as citações são reais rs. Margo não se via como uma pessoa de verdade, ela era uma adolescente em conflito, alguém lutando para descobrir o que é verdadeiro em sua vida, e lutando contra os conceitos supérfluos pelo qual a maioria das pessoas vivem, de valores distorcidos e desejos sem sentido. Margo era uma capa vazia, uma personagem desprovida de propósito. Tanto que no vídeo abaixo, tem uma explicação interessante sobre o significado do sobrenome da personagem. Q é um rapaz inteligente e que idealiza Margo como a mulher perfeita. Seus pais são psicólogos e têm sempre uma conversa substancial acontecendo na mesa de jantar. Q vai perceber que ele não conhecia a menina dos seus sonhos, que a Margo real é bem diferente daquilo que ele imaginava.

O que leva para o conceito central do livro para mim, mostrar a forma como enxergamos as pessoas de forma deturpada. E o autor mostra isso de forma muito divertida, começando com os pais de Radar e a coleção de Papais Noéis negros. Não sei se vocês perceberam a sacada genial embutida nos "Papais Noéis negros". :)

Dos livros lançados do autor, só não li ainda o Quem é você Alasca? Vi alguns comentários comparando os dois livros e a similaridade dos personagens. Como não li, para mim foi tudo novidade e adorei a construção dos personagens, as diferenças entre eles, a amizade e a busca de Q para encontrar Margo. Foi o livro do autor que achei mais divertido, ri muito com alguns diálogos e cenas hilárias, principalmente com Q e seus amigos. 

O livro teve os direitos vendidos e o autor está trabalhando no roteiro, não sei outras informações sobre o filme. Mas deixo um vídeo ótimo do autor respondendo a algumas dúvidas dos leitores e falando mais sobre a historia.


Para mim qualquer livro do autor vale a pena, mas depois de ACEDE, este é meu favorito por enquanto. Leiam!!

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