A culpa é das estrelas - John Green

>>  sexta-feira, 4 de abril de 2014



GREEN, John. A culpa é das estrelas. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2012. 288p. Título original: The fault in our stars.

“- Eu sou tipo. Tipo. Sou tipo uma granada, mãe. Eu sou uma granada e, em algum momento, vou explodir, e gostaria de diminuir a quantidade de vítimas, tá?
Meu pai inclinou a cabeça um pouquinho para o lado, como se fosse um cachorrinho que acabou de ser repreendido.
- Eu sou uma granada – repeti. – Só quero ficar longe das pessoas, ler livros, pensar e ficar com vocês dois, porque não há nada que eu possa fazer para não ferir vocês; vocês estão envolvidos demais, por isso me deixem fazer isso tá? Não estou deprimida. Não preciso sair mais. E não posso ser uma adolescente normal porque sou uma granada.” p. 95

Vocês devem estar se perguntando como eu não li este livro antes... Pois é, eu também estou, principalmente depois da Bienal do livro do RJ ano passado, quando peguei o maior spoiler possível do final da historia em um encontro com os fãs do autor. Mas ai as meninas escolheram ele para minha leitura de março do Clube das gêmeas e deixei minha indignação pós spoiler para lá. Tentei esquecer o final, praguejei e amaldiçoei, mas é como dizem, A culpa é das estrelas, ou minha, por não ter lido antes, ou do John Green por simplesmente escrever algo assim...

Ela é Hazel Grace, dezesseis anos, olhos verdes, leitora voraz. Hazel tem câncer, e diferente de muitos pacientes com mais sorte, sua dúvida não é se vai morrer, mas sim, quando vai morrer. Hazel é uma paciente terminal, câncer de tireoide com metástase nos pulmões. Porém, uma droga experimental, o falanxifor, funcionou para ela e estendeu seu tempo de vida. Por quanto tempo, ninguém sabe.

Hazel é filha única, ama os pais e sente muito, muitíssimo, por estragar a vida dos dois. Eles são ótimos pais, um ótimo casal, que teve sua vida virada do avesso com uma filha com câncer desde os 13 anos de idade. O pai trabalha e chora, chora muito. A mãe é uma lutadora, abandonou o trabalho para cuidar da filha em tempo integral e sabe tanto sobre câncer como qualquer um dos seus médicos. E é a mãe que insiste que Hazel tenha uma vida, faça amigos, o que ela insiste em evitar. 

Até que ela conhece Augustus Waters, dezessete anos, magro e lindo, com um sorriso cafajeste e um olhar atrevido. Ele gosta de filmes de ação, música e jogos de videogame. Está em remissão há mais de um ano de um osteossarcoma que lhe custou uma perna. Ele adora metáforas e não tem medo de lutar pelo que quer.

Os dois se aproximaram em um grupo de apoio à crianças com câncer que Hazel odiava ir. A única pessoa que ela tolerava era Isaac, um garoto que perdera um olho para um câncer raro no olho. Gus e Isaac são amigos e ele decide ir ao grupo para apoiá-lo. Os dois se conhecem, os dois são inteligentes, divertidos, e sabem brincar com os clichês do mundo do câncer. Eles se apaixonam. Ok? Ok!

“- Eu estou – ele disse, me encarando, e pude ver os cantos dos seus olhos se enrugando. – Estou apaixonado por você e não quero me negar o simples prazer de compartilhar algo verdadeiro. Estou apaixonado por você, e sei que o amor é apenas um grito no vácuo, e que o esquecimento é inevitável, e que estamos todos condenados ao fim, e que haverá um dia em que tudo o que fizemos voltará ao pó, e sei que o sol vai engolir a única Terra que podemos chamar de nossa, e eu estou apaixonado por você.”p. 142

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Acho que vou chorar ao escrever a resenha tudo que não chorei lendo o livro. É, vocês acreditam? Eu, chorona de carteirinha - pelo menos literariamente rs -, quase não chorei. Eu só dei “uma choradinha” :P, na reunião que eles fazem com Gus a noite lá no grupo de apoio, uma previa de um discurso... Enfim, eu amei a inteligência do autor, os diálogos perfeitos, a coragem de Hazel, a alegria de Augustus. É um livro incrível, mas eu não me emocionei como achei que iria, acho que por já saber  a porcaria do final. Que, aparentemente, surpreende todo mundo... aff!

Mas não posso culpar o livro nem o autor, só posso me culpar por não ter lido este livro perfeito antes, e eu nem sei porque ainda não tinha lido. É lindo, é triste, é encantador. Consegue ser divertido, embora trágico.

Alguém não gostou de Hazel? Acho incompreensível. Ela é inteligente, precoce, divertida e realista. Claro que ela fala de câncer e de morte o tempo todo, claro que se lamenta sem querer se lamentar, ela vive assim desde a pré-adolescência. Eu compreendi seus medos, sua falta de anseios, sua paixão pelos livros. Eu amei Gus. Com seu jeito divertido, seu pensamento positivo e a forma como ele cuida dos amigos. Os dois juntos simplesmente parecia certo.

O livro tem frases tão lindas que é impossível escolher a citação certa para colocar aqui, até o título revela muito do que o autor quis dizer. Este não é um livro bonitinho nem um livro dramático sobre “crianças morrendo de câncer.” É um livro inteligente que fala da efemeridade da vida, que nega o destino e fala de como a vida pode sim ser uma droga e que tudo isso é sim muito injusto e inexplicável. Não existe frase de efeito que conserte nem fé que justifique, é injusto, é triste, é a vida.

Eu sempre tive curiosidade de saber o significado do título. E preferi colocar para vocês a explicação do próprio autor:
“Bem, na frase de Shakespeare, "estrelas" significam "destino". No texto original, o nobre romano Cássio diz a Bruto: "A culpa, meu caro Bruto, não é de nossas estrelas / Mas de nós mesmos, que consentimos em ser inferiores." Ou seja, não há nada de errado com o destino; o problema somos nós.
Bem, isso é válido quando estamos falando de Bruto e de Cássio. Mas não quando estamos falando de outras pessoas. Muitas delas sofrem desnecessariamente, não porque fizeram algo de errado nem porque são más ou sei lá o quê, mas porque dão azar. Na verdade, as estrelas têm muita culpa, sim, e eu quis escrever um livro sobre como vivemos num mundo que não é justo, e sobre ser ou não possível viver uma vida plena e significativa mesmo que não se chegue a vivê-la num grande palco, como Cássio e Bruto.”
Ok? Ok! Ah eu também morria de curiosidade com todos estes oks que os fãs usavam em broches e colares e em bottons e todo mundo falava. Ah é tãooo tãooo fofo!!! Como um ok pode conter tanto amor e tanto significado? O autor é foda, isso pode explicar. Engraçado que conheci a narrativa com Will & Will, um livro fofo e divertido que fala sobre dois protagonistas gays e quebra alguns paradigmas, depois li O teorema Katherine que achei meio devagar, mas me fez gostar muito da escrita do autor. Mas nada me preparou para este livro, toda sua fama é mais do que justificada.

Muita coisa fica em aberto, o final de alguns personagens, o final do livro preferido de Hazel, o fictício “Uma aflição imperial”, entre outras coisas. Eu fiquei tão curiosa que fui logo pesquisar sobre o livro preferido da Hazel, e vi que era uma invenção rs. Segundo o autor, ele não sabe nada que não esteja naquelas páginas. Perfeito e frustrante ao mesmo tempo.

Ok, vou terminar. Ah, antes disso, se você vive em algum universo alternativo e ainda não sabe sobre o filme que estreia em 05/06 dirigido por Josh Boone e no elenco Shailene Woodley (Hazel) Ansel Elgort (Gus) e Nat Wolf, confira o trailer:


Um livro desse precisa do tempo certo para ser lido, você precisa estar preparado para ele, mas, não veja o filme antes de ler, leiam! Ok?! J

Avaliação( 1 a 5):

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