A mulher silenciosa - A. S. A. Harrison

>>  terça-feira, 12 de agosto de 2014

HARRISON, A. S. A. A mulher silenciosa. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014. 254p. Título original: The silent wife.

“Aos quarenta e cinco anos, Jodi ainda se vê como uma mulher jovem. Não se preocupa com o futuro, mas vive muito intensamente o presente, concentrando-se no cotidiano. Supõe, sem nunca ter pensado a respeito, que as coisas seguirão indefinidamente nesse caminho, imperfeito embora totalmente aceitável. Em outras palavras, está profundamente alheia ao fato de que sua vida está chegando ao auge, de que sua resiliência juvenil – que vem sendo lentamente erodida por seu casamento de vinte anos com Todd Gilbert – está se aproximando de um estágio final de desintegração, de que suas noções sobre si mesma e de como deve proceder são muito menos estáveis do que ela supunha, já que dentro de poucos meses ela se tornará uma assassina.” p. 15-16

Este livro foi outro que me chamou a atenção na apresentação da Editora no evento da Turnê Intrínseca, um romance/suspense comparado com Garota exemplar, um thriller psicológico que eu amei.  E hoje conto para vocês minha opinião sobre o livro.

Jodi Brett, 45 anos, é uma psicoterapeuta extremamente dedicada a casa, ao marido, a todas as tarefas do dia a dia. Ela trata de forma minuciosa tudo o que faz, tem um enorme prazer em cozinhar e manter a casa muito bem organizada, é lá que ela atende apenas dois pacientes por dia, em seguida passeia com o cachorro. Depois ela malha, resolve suas tarefas na rua e volta para casa para esperar pelo marido. Ela adora todo aquele ritual cotidiano, o jornal dele dobrado sobre a mesa, o drink que ele prepara, a forma como ele fala sem parar durante as refeições. Jodi é bonita, inteligente e gosta da vida como ela está. Em 20 anos ela nunca quis mais nada do marido, não quis filhos, não quis casar no papel, as coisas são boas assim. Ela gosta do belo apartamento em Chicago em que vivem, gosta da vista, gosta de passear com o cachorro perto do lago. Não é uma vida emocionante, mas é uma boa vida.

Todd Gilbert é uma força da natureza, construiu um negócio do nada e hoje é um homem de sucesso, comprando, reformando e vendendo imóveis. Ele passa muito tempo na empresa, e mais tempo ainda fora de casa. Todd acredita que os pequenos lapsos dos homens são necessários, sexo para ele é uma atividade física importante. Ele não leva a sério suas conquistas, e faz tudo com muita discrição. Ele valoriza a esposa que tem em casa.  Ele sabe que ela desconfia, e aprecia a forma com que ela lida com isso, com elegância e discrição.

Por trás de toda esta tranquilidade, está um casamento prestes a ruir. Jodi sempre tolerou os casos do marido por um bem maior, ela sabe que todos os homens tem defeitos e aprendeu a superar as dificuldades e seguir em frente. Ele leva isso muito bem, até que se envolve com a filha do seu melhor amigo. Uma moça com metade de sua idade que se torna mais que uma aventura, e ele resolve sair de casa.

No início Jodi não se preocupa, ela sempre se vingou dos atos de Todd com pequenas peças, que ela pregava para poder se sentir melhor. Como daquela vez que roubou a chave da empresa, e ele passou um dia infernal não conseguindo entrar no trabalho pela manhã. Mas dessa vez, quando parece que Todd não vai cair em si, ela começa a pensar em assassinato.

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A premissa é diferente, mas eu odeio quando na primeira página já comparam com um livro famosinho, você tendo odiado ou amado Garota exemplar, você cria expectativas, e as minhas eram altas. Em comum nas duas obra temos apenas um casamento com problemas e duas pessoas que não são muito normais, não era o que eu esperava.

A estrutura é interessante, narrado em terceira pessoa e dividido em duas partes, o livro alterna capítulos entre Jodi e Todd. A escrita é habilidosa, a autora joga muito bem com as palavras e constrói aos poucos a personalidade dos protagonistas. Tudo é minuciosamente explorado, todas as nuances do casal, assim como termos técnicos da psicanálise que são usados para explicar algumas características dos dois. Com isso o livro ganha um ritmo lento, não tem quase nenhuma ação e achei algumas partes bem pedantes, embora tenha gostado da escrita da autora. Infelizmente, a autora faleceu em 2013, então não teremos oportunidade de conhecer outras obras suas, sua experiência anterior a este livro era com não-ficção, o que também explica o estilo mais formal para escrever.

Eu sempre digo, não gosto quando contam o ápice do livro, o trecho que citei no início da resenha está nas duas primeiras páginas e já ficamos sabendo que haverá um assassinato. Isso para mim tirou o único desdobramento surpreendente, já que ao conhecermos Jodi - com toda sua classe e elegância-, jamais iríamos imaginar algo assim. A forma como o tal assassinato aconteceu é totalmente sem graça, fiquei o livro todo esperando por isso e foi uma decepção.

O melhor do livro são os protagonistas, a forma como Jodi é totalmente fria e não consegue pensar no futuro, achei a mulher completamente louca em algumas cenas. Ele também não fica para trás, seu egocentrismo e sua obsessão por sexo chegam a ser assustadores, um livro de anti-heróis com personagens muito reais.

É uma história lenta e que não surpreende, é interessante, mas não chegou a ser uma leitura marcante. Indico para quem gosta desse estilo de narrativa, leiam. ^^

Avaliação (1 a 5):

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