Dois garotos se beijando - David Levithan

>>  quarta-feira, 8 de abril de 2015

LEVITHAN, David. Dois garotos se beijando. Rio de Janeiro: Editora Galera Record, 2015. 222p. Título original: Two boys kissing.

“Todas as vezes que víamos dois garotos se beijando assim,  o poder aumentava. E agora... ah, agora. Há milhões de beijos para serem vistos, milhões de beijos a um clique de distância. Não estamos falando de sexo. Estamos falando de ver dois garotos que se amam se beijando. Isso tem muito mais poder do que o sexo.” p.72

Depois de conhecer o autor em Will & Will e ficar fã do seu estilo diferente em Garoto encontra Garoto, David Levithan se tornou um dos meus autores queridinhos, daqueles que eu fico feliz da vida com um novo livro nas mãos. Também voltado ao público YA, seu último lançamento tem uma abordagem mais madura e reflexiva. O livro é muito mais do que Dois garotos se beijando.

Harry e Craig têm apenas 17 anos, mas desde cedo sentem na pele o incomodo de serem diferentes. Harry tem o apoio incondicional dos pais, que não o definem por sua sexualidade; já Craig ainda não “saiu do armário”. Eles namoraram por um ano, mas agora são apenas grandes amigos. O que não os impede de embarcarem juntos em uma grande aventura, algo que irá mobilizar uma série de pessoas. Os dois querem quebrar o recorde do beijo mais longo, para isso precisam se beijar por 32 horas em um local publico, sendo filmados com transmissão ao vivo. Primeiro rodeados por câmeras, depois acompanhados por uma multidão. Entre aprovação e repudio, eles têm um desafio a cumprir.

Em uma noite em que seu pai se atrasou por alguns minutos para buscá-lo, Tariq foi humilhado e espancado na cidade quando saia do cinema. No hospital com as costelas quebradas sente seu coração se partir, suas esperanças, seus sonhos, tudo confrontando com a acusação de não ser normal, de ser apenas, errado. Uma aberração, algo a se temer. Mesmo depois dos machucados terem se curado, sua alma continua partida, sua coragem desapareceu. Ele é um dos motivos de Craig e Harry estarem cumprindo aquele desafio. Querem mostrar para as pessoas, o amor, o respeito, a igualdade. É um movimento, um protesto, um apelo por aceitação.

Peter e Nell são um casal há algum tempo, seus beijos são íntimos e cheios de amor. Aos 15 anos estão passando por muitas mudanças, corpo e alma passando por tantas transformações. Um tem o apoio dos pais, o outro, tem a aceitação velada. Mas isso não parece suficiente.

Avery e Ryan acabaram de se conhecer em um baile. Avery é transexual e falta coragem para contar tudo a Ryan. Ele nasceu menino num corpo de menina, mas seus pais estavam dispostos a ajudar. Ryan tem o apoio da tia, e o olhar de reprovação da mãe e do padrasto. Juntos, procuram algo naquele primeiro encontro, mais do que alguns momentos, uma descoberta, uma conexão, um começo.

Cooper sempre esteve sozinho, descarrega suas frustrações online em sites anônimos de sexo. Aos 17 anos está confuso e cria vidas falsas para falar com as pessoas. Não tem amigos, nem ninguém com quem contar. O desespero e a solidão acabam sendo grande demais.

Todos esses meninos são diferentes, mas de certa forma, todos buscam o amor. Da família, do verdadeiro amor, dos amigos. A aceitação. Alguns tem o apoio da família, outros não. Alguns tiveram o coração partido, alguns sofrem bullying. Todos eles estão buscando seu lugar no mundo. Um mundo cada dia mais aberto a liberdade, diferente da geração que veio antes deles. A geração que nos conta essa história.

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Um livro tão fininho e que carrega tantas palavras importantes. Tantos pensamentos bonitos, tanta tristeza. Eu adorei, devorei cada linha e terminei querendo mais. Faltou um epílogo David, só isso, eu queria mais desses garotos. Foi pouco demais, acabou rápido demais... ^^

Narrado em terceira pessoa pela geração que já partiu, somos apresentados a todos os personagens, seus sonhos e dramas, alegrias e decepções. Enquanto dois garotos se beijam por 32 horas, várias coisas acontecem ao redor.

Baseado em fatos reais, o autor fala de uma geração que não teve essa oportunidade, uma geração que viveu escondida e envergonhada, e que foi dizimada pela AIDS. Essa geração fala de sonhos perdidos, de decepções e, principalmente, de solidão. De uma morte triste e tão sofrida, às vezes, solitária. Em uma passagem o autor diz:

Merda idiota e arbitrária significa que o presidente dos Estados Unidos pode esperar seis anos até dizer o nome da doença. Merda idiota e arbitrária significa que é preciso que um astro de cinema morra e um adolescente hemofílico morra para que as pessoas comuns comecem a se mobilizar, comecem a sentir que a doença precisa ser impedida. Dezenas de milhares de pessoas vão morrer antes que os remédios sejam jeitos e os remédios sejam aprovados. Que sensação horrível é essa a de saber que, se a doença tivesse afetado primeiramente presidentes de associações de pais e mestres, ou padres, ou garotas brancas adolescentes, a epidemia teria acabado anos antes e dezenas de milhares, se não centenas de milhares de vidas seriam salvas. Não escolhemos nossa identidade, mas fomos escolhidos para morrer por meio dela.” p.78

Com tantas reflexões e tanto sentimento, a leitura me emocionou em várias partes. Sinceramente, só não foi um favorito porque o livro terminou e eu fiquei virando a página querendo mais, sou chata com finais, queria algo a mais da história dos personagens. Mas isso é meu lado curioso falando, a leitura foi excelente.

Lindo e emocionante, um livro que doa muito para o leitor, mas que busca um coração aberto para aceitá-lo. David Levithan tem uma narrativa meio poética, meio filosófica. Através de livros que, aparentemente, tem enredos simples, o autor fala de coisas maiores e mais importantes. É um livro que merece ser lido e absorvido, sei que não são todos os leitores que vão gostar do estilo, mas torço para que ele atinja a maior quantidade possível de pessoas. Leiam!!

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