Lugares escuros - Gillian Flynn

>>  quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Flynn, Gillian. Lugares escuros. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014. 352p. Título original: Dark Places.

“Os Day eram um clã que poderia viver à beça
Mas Ben Day perdeu a cabeça
O poder de Satanás o garoto queria
E matou a família em meio a uma gritaria
Da pequena Michelle torceu o pescocinho
Depois de Debby fez picadinho
A mãe, Patty, guardou para o final
E, sem piedade, em sua cabeça deu um tiro fatal
A bebê Libby conseguiu viva permanecer
Mas passar por aquilo de modo algum é viver.
– Cantiga de Roda, Circa 1985” p.6

Depois do polêmico Garota exemplar e do perturbador Objetos cortantes, eu estava empolgada para conhecer outro trabalho da Gillian Flynn, e já adianto para vocês que estou no time dos fãs da autora. Confiram o que achei sobre Lugares escuros.

Kansas City, Missouri, 1985
Patty Day sabia que era um eufemismo dizer que a família vivia em uma situação complicada, era muito pior, eles estavam à beira da miséria. Prestes a perder a fazenda, que pertenceu à família por gerações - por causa de inúmeras dividas, empréstimos e investimentos ruins feitos pelo ex-marido, Runner –, ela estava desesperada. Mas tentava seguir em frente com a ajuda da irmã, Diane, e dos quatro filhos. O mais velho Ben, passava por uma fase estranha, aos 15 anos era um rapaz complicado, minoria em uma casa só de mulheres. Depois dele vinham Michelle, Debby e a pequena Libby, com sete anos.

Preocupada em não deixar os filhos passar fome, ela não imaginaria o que viria a seguir. Em uma noite, um massacre brutal mata sua família. Libby e o irmão são os únicos sobreviventes. Mas Ben acaba sendo acusado do crime e considerado culpado, condenado à prisão perpétua.

Kansas City, Missouri, 2009
Libby Day, 31 anos, acordou pensando em se matar. Era uma espécie de brincadeira para ela, um jogo, algo que desejava, mas que jamais tivera coragem ou força de vontade suficiente para realizar. Vivia uma vida sem amigos, família ou trabalho. Após o massacre que matou sua família, viveu primeiro com Diane, que finalmente desistiu dela depois de alguns anos, depois com parentes distantes. Adulta, viveu até hoje com as doações feitas para a “Pobre pequena Libby”... rendia um bom dinheiro ter toda a família massacrada.

Agora o dinheiro acabou, sem ter um trabalho, Libby acaba aceitando o convite de um grupo de pessoas obcecadas por crimes violentos, o Kill Club. Eles irão pagar para que ela conte sua história, responda algumas perguntas. Porém, aquelas pessoas estavam convencidas de que seu irmão era inocente, fazendo com que Libby comece a questionar tudo o que aconteceu no passado.

Ben Day cumpria pena há 24 anos, era possível que fosse inocente?  Existiria algo mais por trás daqueles assassinatos? Agora uma adulta, começa a repensar tudo o que realmente aconteceu naquela noite.
~~~~~~

Sombrio, diferente, com um final no “estilo Gillian Flynn”. Uma leitura densa que deixa o leitor perdido em alguns momentos, sem saber em que acreditar. Personagens de caráter duvidoso e um suspense com um final surpreendente. A protagonista desperta amor e ódio, mas de forma alguma é esquecível. O leitor tece teorias, ora acredita, ora duvida da inocência de Ben, sente de forma palpável o cenário perturbador e os personagens tristemente reais.

A leitura se alterna entre passado e futuro, Libby nos dias atuais, sua mãe e Ben narrando o passado. Eu gostei muito do enredo, dos personagens assustadoramente detestáveis e fiquei de queixo caído com o final, mas achei o desenvolvimento lento. Apesar de aplaudir mais uma vez o estilo peculiar da autora e gostar do resultado final, a leitura foi lenta e morosa. Muitas descrições foram desnecessárias, principalmente dos locais por onde Libby passava, achei um porre ela descrevendo minuciosamente cada local. As partes do passado são mais interessantes, e tristes. A pobreza estrema em que a família vive, o pai imprestável, a mãe tentando de tudo para seguir em frente, mesmo sem nenhuma esperança. Ben um menino solitário e confuso, que começa a fazer tudo errado e vai formando uma grande bola de neve. As cenas fortes, descrições vívidas da crueldade humana. Libby, tão triste quando criança, tão desolada quando adulta.

Tive sentimentos contraditórios em relação a protagonista. Primeiro me antipatizei com ela, única sobrevivente sem fazer nada da vida, um mulher fraca, confusa, pouco simpática e estagnada. Depois Libby mostra alguma coragem, e apesar de ser impossível amar a personagem, não tem como não torcer por ela, não sentir pena de tudo o que aconteceu.  Quem não gostou da Amy Dunne (Garota exemplar) prepare-se para conhecer Libby. Outra coisa que achei sinistra, foi o interesse de todos pelo crime e a forma como tratavam Libby, como um objeto de estudo, bizarro.

E o livro foi adaptado para as telinhas! Protagonizado por Charlize Theron e com roteiro de Gilles Paquet-Brenner, conta também com Nicholas Hoult e Chloë Grace Moretz no elenco. No trailer já da para imaginar um pouco o cenário sombrio do livro.


Apesar de não ser meu favorito da autora, foi uma leitura chocante e surpreendente. Quem gosta de suspenses mais lentos e mais pesados, não pode perder. Leiam!

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