Coração de mãe - Jodi Picoult

>>  quarta-feira, 1 de novembro de 2017

PICOULT, Jodi. Coração de mãe. São Paulo: Editora Verus,  2014. 476 p. Título original: Harvesting the heart.

“Comecei a rir, sentindo meu espírito borbulhar de onde havia sido enterrado, bem no fundo de mim. Era tão fácil, na verdade. Eu poderia continuar dirigindo e dirigindo e fingir que não tinha marido nem bebê. Poderia continuar seguindo sempre em frente e nunca olhar para trás. Claro que eu ia voltar, assim que tivesse minha vida em ordem outra vez. Mas, naquele momento, eu merecia aquilo. Era como recuperar o tempo que me fora roubado.” p.231

Eu amei os dois livros da Jodi Picoult que tive a oportunidade de ler, entre eles A guardiã da minha irmã é um dos meus livros favoritos; e embora tenha alguns outros livros da autora na estante, ainda não havia tido oportunidade de lê-los. Mas com a ajuda do Clube das chocólatras um deles saiu da fila, e hoje conto para vocês o que achei de Coração de mãe.

Paige O’Toole, 18 anos, acaba por fugir da casa do pai e indo morar em Chicago. A mãe abandonara a família quando ela tinha 5 anos, uma dor que nunca fui embora. Seu sonho era fazer faculdade de artes, mas tudo muda quando precisa tomar uma decisão extrema, e sem ter como encarar o pai e o namorado, foge da cidade. Em Chicago arruma emprego em uma lanchonete e desenha os clientes de um jeito peculiar, enquanto sonha com a faculdade e uma carreira como artista.

Nicholas Prescott, 28 anos, fazia residência em medicina e planejava se especializar em cirurgia cardíaca. Filho único de uma família influente, ele era o filho perfeito em uma vida perfeita. Nicholas e Paige se conhecem na lanchonete, e logo se envolvem. Depois de poucos meses se casam. A decisão intempestiva faz com que se afaste dos pais, que não aceitam o relacionamento. Eles precisam viver com o próprio dinheiro.

Nos anos que se seguem, Paige se desdobra para ajudar o marido, trabalha em dois empregos, economiza onde pode, tudo para diminuírem logo os empréstimos estudantis. É a esposa perfeita, cuida da casa e do marido que quase nunca está em casa. Quando Nicholas estiver formado e trabalhando como cardiologista, ela poderá fazer a faculdade como sempre sonhou. Sua vida é muito solitária, não se integra aos círculos do marido, cheio de gente fina e esnobe, e passa a maior parte do tempo sozinha.

Tudo muda quando Paige engravida inesperadamente. Sobrecarregada com as exigências de ser mãe em tempo integral, sem ter tempo algum para si e sozinha cm um bebê. Ela começa a pensar no passado, no abandono da mãe, o que a faz duvidar de sua capacidade como tal. Infeliz e amargurada, ela não sabe o que fazer. Até que Paige toma uma atitude chocante, que irá mudar para sempre a vida de sua família.

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Desde o início eu tive um pouco de medo dessa leitura, com média 3.8 no Skoob e 3.59 no Goodreads a nota me desanimou um pouco. Mas é Jodi Picoult, a autora escreve maravilhosamente bem, eu queria ler para crer rs. E eu não achei péssimo, mas também não é do nível dos outros da autora. Depois de ler percebi que muitas das notas baixas deviam-se a puro preconceito do leitor com a atitude que Paige toma (é a grande reclamação das resenhas), mas outra parte referem-se a dois fatores que eu também não gostei: final completamente aberto e a falta de química entre o casal.

Então vamos por partes. Paige e Nicholas realmente não soltam faíscas, eu nem sei se o pior é a falta de química, o que me incomodou mais foi a ausência de diálogos entre eles. Eles nunca conversam sobre os problemas. O livro toda mostra Nicholas ocupadíssimo com sua carreira e Paige tentando trabalhar para pagar as contas, cuidar da casa, cozinhar e lavar para ele, deixar o café da manhã pronto quando ele saia de madrugada para os plantões e etc. A vida dela já não era fácil, com o bebê vira uma loucura. Ela tem depressão pós parto (o marido nem percebe), está sempre esgotada. Ele chega do serviço pega o bebê por 5 minutos e devolve. E não entende como ela ainda pode reclamar, ficando o dia todo em casa "tranquila" com um bebê tão "fofo". Vontade de matar esse homem não me faltou...

Enfim entramos na parte onde todo mundo reclama, do absurdo que Paige faz, ao deixar o marido e o bebê para trás e fugir de casa. A maioria dos leitores odeia a coitada por isso. Sério gente? Se fosse o pai ninguém ia estranhar. Ela era dez anos mais nova, sozinha e inexperiente. Estava com depressão pós parto, sofrendo para dar conta de tudo. O marido trabalhava em turnos de 36 horas. Quando estava em casa reclamava se o choro do bebê atrapalhasse seu “descanso”. E achava que a mulher não fazia nada demais, tinha o dia todo para SÓ cuidar do bebê. A coitada tava pele e osso, tentando arrumar a casa, cozinhar… ah e o bonito achava ruim que agora ela não cuidava dele como antes, levantando de madrugada para arrumar café da manhã e lanchinho para ele levar. QUE ÓDIO DESSE HOMEM! E que raiva de o machismo ser considerado tão normal até para os leitores, enquanto a atitude da mãe foi imperdoável.

Então, até esse ponto eu estava amando... Odiando Nicholas, entendendo Paige (deu dó do bebê, mas deu para entender sua atitude extrema). O que para mim estragou o livro foi o final, ou falta dele. Depois de tudo o que aconteceu, a autora não fecha a história. Não deixa claro o que vai acontecer em diante. E eu esperei o livro inteiro para ver Nicholas descer do pedestal de homem perfeito e cheio da razão (em nenhum momento ele assume parte da culpa pelas atitudes da esposa), e fiquei chupando dedo!

Foi uma leitura forte, emocionante, que mexeu comigo em vários momentos. Os livros da autora são sempre bem escritos. Mas eu esperava mais do enredo e da conclusão. Quem leu me conte o que achou. Meu sonho é ler todos os livros da Jodi Picoult lançados no Brasil, quem sabe um dia…

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