As horas distantes - Kate Morton

>>  quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

MORTON, Kate. As horas distantes. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2012. 640p. Título original: The distant hours.

“Ela era Persephone Blythe do castelo Milderhurst. Havia outras coisas na vida que ela amava – não muitas, mas havia algumas: suas irmãs, seu pai e, é claro, seu castelo. Ela era a mais velha – ainda que por questão de minutos-, era a herdeira do pai, a única de suas filhas a compartilhar seu amor pelas pedras, a alma, os segredos do castelo. Ela se reergueria e seguiria em frente. E tornaria seu dever, daquele momento em diante, garantir que nenhum mal se abatesse sobre nenhum deles, fazer o que fosse necessário para manter todos eles a salvo.” p.298

Com esse livro, posso falar que já li todos os livros da Kate Morton lançados até então. Para os amantes de romancese mais maduros, descritivos e bem ambientados, seus livros não decepcionam. Esse é seu livro mais intrigante, com uma grande dose de suspense e muitos segredos. Confiram o que achei de As horas distantes.

Londres, 1992
Edie Burchill e sua mãe Meredith nunca foram muito próximas. Ela sabe pouco sobre o passado da mãe, o pai é ainda mais calado. Eles não falam sobre o seu irmão mais velho, que morreu antes que ela nascesse. A relação com os pais é tão fria, que meses depois de se divorciar, ela ainda não conseguiu contar aos pais o que aconteceu, e finge que está tudo bem.

Tudo muda quando uma carta misteriosa é entregue para sua mãe. Uma carta antiga, que ficara perdida desde a ´época da guerra. Uma carta que muda tudo. Curiosa para descobrir os segredos do passado da mãe, Edie começa a investigar, e desenterra uma história cheia de mistérios, segredos, mortes e  traições.

Londres, 1939
Aos 13 anos Meredith foi obrigada pelos pais a sair de Londres, em um trem cheio de outras crianças, rumo à um destino desconhecido no interior da Inglaterra. Ela é acolhida por Juniper Blythe e levada para viver com a família dela em um enorme castelo. Juniper tem uma beleza etérea, é sonhadora e uma escritora nata. Lá também vivem as duas irmãs mas velhas de Juniper, Percy e Saffy. O pai das meninas é um escritor recluso, o autor de uma história famosa, A verdadeira história do homem da lama. Nesse local Meredith foi feliz por algum tempo, aprendeu a magia da leitura e da escrita, foi incentivada a sonhar alto. Até que o perigo acaba, e os pais a obrigam a voltar para casa. Ela se recusa a partir, mas acaba sendo obrigada a abandonar sua melhora amiga, Juniper. E mesmo depois, elas tentam manter a amizade, até que Juniper some. 

Ela nunca soube o que aconteceu depois, acabou deixando tudo isso para trás e nunca falou do passado. Mais de cinquenta anos depois, Edie visita o castelo. Descobre que as irmãs ainda vivem lá, as três. As gêmeas cuidando de Juniper, que ficou louca após ser abandonada pelo noivo em 1941. Eddie percebe que existem muitos segredos naquele lugar, a verdade  do que aconteceu nas horas distantes, esperou muito tempo para ser revelada.

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Eu amei esse livro! Ficou entre meus favoritos da autora, depois de O jardim secreto de Eliza. Já adianto que é uma leitura bem lenta e que não vai agradar todo mundo. Para  os amantes de romances mais densos, de histórias adultas bem escritas e muito bem ambientadas, Kate Morton é sempre uma ótima pedida. Apesar da narrativa lenta em alguns momentos, o enredo me conquistou. São muitos mistérios, muitas histórias mal contadas, muitos segredos que me deixaram de queixo caído no final. Nada era da forma como eu esperava ou imaginava durante a leitura. Me surpreendeu demais os desdobramentos e a conclusão.

A história que se passa no presente, a parte de Meredith e Edie é o mais sem graça do livro, o melhor são os segredos do passado, o que vai aos poucos se revelando. Tudo que acontece no livro deixa um ar de tristeza,  o tempo todo eu pensava no que poderia ter acontecido se alguns desdobramentos tivessem sido diferentes. Três irmãs jovens, bonitas, ricas e inteligentes. Que poderiam ter feito tanto; amado, construído uma família... cada uma com seus sonhos. E no final, terminaram as três ali, de certa forma, enterradas naquele castelo. Aos poucos, vamos entendendo como e porquê isso aconteceu. Eu torci muito por Juniper, tive muita pena de Sally e muita raiva da personalidade dominante de Percy. Eu tinha teorias e estava achando que estava tudo muito na cara. Até que a autora me surpreende novo, e mostra, que nem tudo é o que parece.

A obra mostra o valor da família, de tudo o que somos capazes de fazer por aqueles que amamos. Mostra também como um pequeno mal entendido, pode mudar completamente a vida de uma pessoa. Ela fala sobre sonhos, desejos e preconceitos, tudo de forma muito sutil. E mostra também o amor e o dever de uma forma que chega a chocar o leitor. O que realmente somos capazes de fazer para proteger alguém que amamos? Essas e outras reflexões são abordadas de forma intrínseca no livro.

Será que se aquela carta tivesse chegado, algo teria sido diferente? Ou se o pai delas tivesse agido diferente? Ou se... esse livro faz isso com a gente, ficar pensando e pensando e remoendo um desfecho diferente. Foi triste, foi lindo, foi de cortar o coração. Não é um livro que indico para todo mundo, mas se você gosta desse estilo, esse livro é imperdível. Afinal, como bem já dizia Raganathan: Todo leitor tem seu livro. E todo livro tem seu leitor.”

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