O verão tardio - Luiz Ruffato

>>  quarta-feira, 18 de setembro de 2019

RUFFATO, Luiz. O verão tardio.  São Paulo: Companhia das Letras, 2019. 231 p.

Mais do que amar literatura, eu amo a literatura nacional. Isso vem lá dos primórdios da minha existência, quando minha mãe me deu minhas primeiras revistinhas da Turma da Mônica, quando li meu primeiro livro efetivamente: Chá de sumiço, do Pedro Bandeira. Mais do que gostar de ler livros que estão “na moda”, de ler livros muito bem (ou nem tão bem assim) traduzidos, gosto de ler livros que falam sobre nosso país, nossa cultura. Adoro o regionalismo inerente, por vezes, ao autor, que conta a história que se passa em lugar em que ele próprio viveu, quase uma biografia. Confesso, reviro os olhos para pessoas que afirmam não curtir literatura nacional, que preferem os livros estrangeiros. Ok. Cada um com seu gosto, mas não consigo entender como as pessoas sequer se dão ao trabalho de ler literatura nacional. Eu garanto que, assim como na literatura estrangeira, há livros e autores muito bons.

Feito o desabafo, eu nunca tinha ouvido falar em Luiz Ruffato. Possivelmente uma falha minha, mas a literatura nacional é contraditoriamente muito pouco divulgada no Brasil, o que ajuda na falta de interesse pelos escritores nacionais. Contudo, quando vi o livro disponível na lista da Companhia das Letras, não titubeei ao escolhê-lo para leitura do mês, principalmente depois que descobri não só que o autor é brasileiro, mas mineiro de Cataguases, cidade próxima à cidade natal da minha mãe, São João Nepomuceno, uma região que eu conheço muito bem. Agora, (depois dessa lereia toda) vamos ao que eu achei da história.

Oséias nasceu e sempre viveu em Cataguases, Minas Gerais, até o dia em que resolveu que tinha que partir dali para ser alguém na vida. Então se mudou para São Paulo, onde se casou e teve um filho, Nicolau.

Por diversas vezes ele foi visitar a família em sua terra natal, contudo, com o passar dos anos e com o desinteresse da esposa e do filho em relação à família de Oséias, e o consequente afastamento dos parentes, que nem sempre se davam bem, estas visitas foram se tornando mais raras. Assim, ele passou 19 anos sem retornar a Cataguases.

Agora, sente que sua vida depende disso. Com 53 anos, um casamento acabado, desempregado e passando por um momento difícil em sua vida, Oséias retorna à sua cidade para rever irmãs, cunhados e até mesmo algumas pessoas da cidade que fizeram parte de seu passado, e ele vai acabar descobrindo que muita coisa mudou, mas outras nem tanto.

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O livro é narrado por Oséias, em primeira pessoa, já que se trata de um livro de memórias. O leitor é levado ao passado do personagem ao mesmo tempo que ele narra a sua estada na cidade onde nasceu.

Assim, enquanto ele está contando sobre seu passeio na cidade, de repente, na frase seguinte, sem o menor aviso, ele se lembra de algo a que aquele passeio o remete no passado, e de repente estamos de volta ao presente, e o pensamento dele é abruptamente interrompido e, de repente, ele dorme e a frase é deixada pela metade, e assim vai o livro todo. E eu achei sensacional.

Fui sendo levada para dentro da família de Oséias e de tudo o que estava acontecendo naquele momento e tudo o que aconteceu ao longo dos anos na família para que ela se desmembrasse e se tornasse o que é hoje.

A família de Oséias não é perfeita, muito longe disso. E foi graças a um acontecimento, ainda na juventude de nosso protagonista, que o fio que unia a família virou pó. Apesar de ele demorar um bocado para contar, dá todos os indícios do que aconteceu, não tem como não deduzir.

À medida que ele vai reencontrando seus parentes, irmãs, sobrinhos, assim como os amigos de colégio, que o interrogam sobre por que ele decidiu após todos aqueles anos sair de São Paulo e retornar à cidade, o leitor também começa a se perguntar qual a real intenção de Oséias, que é revelada nas últimas folhas, apenas para o leitor, e de uma forma que eu não esperava.

Após concluir a leitura, fiquei um bom tempo pensando no desfecho e acabei por concluir que ele deu a dica do que iria acontecer o livro inteiro, mas só juntei o “lé com cré” quando terminei de ler. E fiquei na maior bad depois disso.

Confesso que ainda não engoli os acontecimentos.

Um ponto negativo da história é todo o jeito metódico e repetitivo de Oséias, que por vezes o levava à repetição de atitudes e frases que me deram vontade de pular o texto, rs.

Mas, mesmo assim, gostei de poder compartilhar um pouco das memórias do protagonista e conhecer um pouco da família dele. Ainda que Rosana, a irmã mais velha, seja bem antipática, a filha dela, Tamires, não se parece em nada com a mãe (nem com o pai, pelo que se conta dele ao longo da história, já que no presente ele não aparece). A outra irmã de Oséias, Isabela, por outro lado, se mostra uma pessoa boa, embora seja casada com um embuste de marca maior e os filhos vão indo pelo mesmo caminho, de modo que fica ela em casa com o marido, dois filhos adultos, mas que agem como adolescentes, e dois netos de noras que não querem saber deles. E ainda tem que sustentar a casa. Como diz o ditado, família a gente não escolhe!

Indico a leitura para todo mundo, principalmente para terem um pouco de acesso à nossa literatura nacional e, em especial, para quem quer conhecer um pouco de Minas Gerais.

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