Território Lovecraft - Matt Ruff

>>  segunda-feira, 13 de abril de 2020


RUFF, Matt. Território Lovecraft. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2020. 352p. Título original: Lovecraft county.

“Quilômetro de Jim Crow – Unidade de medida, exclusiva dos motoristas negros, composta tanto de distância física quanto de quantidades variáveis de medo, paranoia, frustração e indignação. Sua natureza amorfa torna impossível calcular com acerto a duração de uma viagem, e sua violência põe constantemente em xeque a saúde e a sanidade dos viajantes. – Guia de viagem do negro precavido, edição do verão de 1954. ” p.7

Esse livro saiu completamente do meu estilo de leitura, fiquei interessada quando ouvi falar sobre o lançamento, mas não pesquisei sobre ele, pensei que era uma distopia, passei longe rs. Território Lovecraft do Matt Ruff é uma coletânea de oito contos interligados, que se passam na década de 50 nos EUA. O autor brinca com autores consagrados e cita muito H. P. Lovecraft (1890-1937 autor americano pioneiro na literatura de terror, fantasia e ficção científica). Confiram o que achei do livro!

Atticus Turner é um rapaz negro nos EUA na década de 1950, veterano da Guerra da Coreia. Ele sai de Jacksonville onde morava, após receber uma carta estranha do pai, e volta para Chicago. Na viagem ele usa O guia de viagem no negro precavido, que consta os hotéis, restaurantes, banheiros e outros serviços onde os negros poderiam entrar sem serem agredidos ou coisa pior. O guia é feito pelo seu tio, George Berry e sua esposa Hippolyta. Ao chegar a casa do tio, ele descobre que o pai, Monrose, desapareceu.

Ele resolve viajar em busca do pai, o destino é uma cidade misteriosa, onde uma ancestral da mãe de Atticus fugira da escravidão. Além dele e de seu tio, uma amiga da família, Letícia Dandridge acaba conseguindo ir junto. Ao chegar em Ardham eles conhecem Caleb Braithwhite, e descobrem o verdadeiro interesse deles na família.

De repente eles estão envolvidos com sociedades secretas, bruxos, rituais mortais e muitas outras loucuras. Tudo isso fora o preconceito e o medo que eles enfrentam diariamente. 

~~~~~~

Pela primeira vez vou tentar falar de um livro sem ter tantas opiniões pessoais, porque eu realmente não curto esse estilo. Não gosto muito de contos, e não curto muito ficção científica, além de não conhecer as fontes que o autor cita durante todo o livro, fiquei um pouco perdida. Pessoalmente eu não amei, o que já ficou claro. Mas achei o livro extremamente bem escrito, bem editado e com o enredo muito interessante. Os contos são longos e interligados, então a história tem início, meio e fim. O ruim que com isso tem vários saltos temporais que me incomodaram um pouco.

O mais interessante da história é a ambientação, são os inúmeros casos de racismo durante todo o livro, fatos reais para o negro americano, e no mundo todo. Mas de certa forma, acho estranho um autor branco escrever um livro inteiro sobre o preconceito sofrido pelo negro, fico imaginando que tudo ainda é muito raso, e só quem viveu aquilo conseguiria expressar tal sofrimento em palavras. De qualquer forma o autor consegue mostrar que as coisas já foram infinitamente piores para os negros, do que são hoje em dia, mostrar isso é importante, é um começo.

No livro citam muito o livro O guia de viagem no negro precavido, que no caso é publicado pelos tios de Atticus. Vi algo parecido no filme Green Book e pesquisando, vi que realmente existiu um livro nesse estilo, intitulado The Negro Motorist Green Book Compendium (quem tiver curiosidade, tem na Amazon).

O livro tem todo um formato cinematográfico e acredito que tenha sido mesmo a intenção do autor. Afinal, ele está sendo adaptado para uma série de TV, que será exibida pela HBO. A série é dirigida por Misha Green e tem no elenco Jonathan Majors, Jurnee Smollett-Bell, Wunmi Mosaku.

A história toda é bem sinistra, mas alterna entre algumas cenas engraçadas e outras bem assustadoras. O livro não tem um ápice no final, achei o final bem morno. Mas entre os contos tem dois que se superaram para mim. Um deles, Jekyll em Hyd Park faz um paralelo com um livro que amo, O médico e o monstro. E na história a protagonista, Rudy, irmã da Letícia, toma uma poção e acorda BRANCA! E quando o efeito passa ela volta ao seu corpo normal. Ela sente na pele como é fácil ser uma pessoa branca, uma mulher branca bonita. E entre sua nova pele e sua pele negra, vamos conhecendo os contrapontos entre suas duas “personalidades”. Para mim o melhor do livro. Outro conto é protagonizado por Horace, o filho de 12 anos de George e Hyppolyta. Esse é o mais assustador de todos, ver uma criança passar por aquilo nas mãos da polícia foi de levar qualquer um as lágrimas.

Eu gostei dos personagens, achei a história completamente maluca e diferente de tudo o que eu já li. Em boa parte do livro achei que o autor devia estar escrevendo drogado, não tem condições kkk! Não tem grandes explicaçõe sobre a parte da fantasia em si, a magia está ali, ele pode fazer aquilo tudo e pronto, isso me incomodou um pouco. Este eu indico para quem curte esse estilo! Quem leu me conte o que achou.

Adicione ao seu Skoob!

Avaliação (1 a 5):


Comente, preencha o formulário, e concorra ao Kit Top Comentarista de abril!

Postar um comentário

  © Viagem Literária - Blogger Template by EMPORIUM DIGITAL

TOPO