Viagem Literária: O primeiro dia do resto da nossa vida

EBERLEN, Kate. O primeiro dia do resto da nossa vida. São Paulo: Editora Arqueiro, 2016. 432p. Título original: Miss you.

"Acha provável que exista apenas uma pessoa em toda a humanidade? Quero dizer, e se a pessoa destinada a você morar na floresta amazônica, ou falar árabe, ou algo assim? E como você poderia saber, de qualquer forma? Porque, se você achar que alguém é seu Par Perfeito e ele não for, então talvez você tinha perdido a chance de encontrar sua alma gêmea de verdade?"

Esse foi um daqueles livros que ficou alguns anos na estante esperando uma oportunidade, um romance que amadurece junto com os protagonistas. Confiram o que achei de O primeiro dia do resto da nossa vida da Kate Eberlen.

Aos 18 anos Tess faz uma viagem à Itália com sua melhor amiga, Doll. Elas querem comemorar o fim do ensino médio e a vida que terão pela frente. Tess foi aprovada na universidade e não vê a hora de ir para lá. Já Gus mal pode esperar para fugir do controle dos pais e descobrir quem ele quer ser. O que será difícil, depois de ser aprovado na faculdade de medicina, o sonho do pai. Em férias com os pais na Itália, ele mal consegue lidar com toda as expectativas quem pairam sobre os seus ombros. Eles se encontram por acaso, mas os dois acabam indo para casa sem se conhecer melhor.

Ao chegar, ambos descobrem que a vida nem sempre acontece como planejado. A mãe de Tess está com câncer e descobre tarde demais para a cura. Ela precisa ficar em casa, arrumar um trabalho e cuidar da irmãzinha de apenas 5 anos, Hope. Já Gus precisa ir para a faculdade de medicina, depois de perder o irmão mais velho em um acidente. Ele é o único que restou e não pode decepcionar os pais.

Ao longo dos próximos dezesseis anos, os dois passam por situações alegres e complicadas, felicidades e decepções. Na vida amorosa, na carreira, nada parece chegar perto do grande sonho da juventude. Já com 34 anos, parece impossível que um dia eles se reencontrem, já que eles nem sabem que se perderam. Só que os dois parecem ser perfeitos um para o outro, eles só precisam se encontrar. Um encontro que pode nunca acontecer...

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Livro muito bem construído, com um enredo interessante e uma narrativa que flui bem, fiquei curiosa demais. Do início ao fim eu li cheia de expectativas, adorei os protagonistas e torcia muito para que tudo desse certo para eles, e que enfim, eles se encontrassem. E já quase no final do livro, temos a impressão de que isso nunca vai acontecer, são uma série de desencontros durante todo o livro. E se você nunca encontrar sua alma gêmea, você pode ser feliz com outra pessoa? Só existe mesmo uma pessoa destinada para outra? São questões que permeiam a mente do leitor até o final.

O livro é mais denso e mais maduro do que imaginei, até porque começa com os dois ainda bem novos. Eu amei os dois protagonistas, mas os dois fazem muitas burrices com o passar dos anos e as vezes decepcionam com suas escolhas. Tess e Gus são muito humanos, muito falhos e muito reais. Ninguém é perfeito e todos cometemos muitos erros em busca da felicidade.

Tess com sua abnegação para cuidar da irmã mais nova, de apenas 5 anos, que nunca foi normal, até bem mais tarde conseguirem um diagnóstico para Síndrome de Asperger. Seus irmãos mais velhos moram em outros países, seu pai vivia bêbado e instável. Depois da morte da mãe, ela criou sozinha a irmã. Mais tarde, sem uma carreira, lutando para descobrir o que realmente queria da vida. E no amor ela teve duas grandes decepções, uma por suas escolhas falhas.

Gus é indeciso, talvez até fraco em suas decisões. Ele fez medicina sem gostar para não decepcionar os pais. Namorou anos com Lucy, uma moça excelente, mas sem saber se realmente a amava. Já adulto, ele era do tipo "deixa a vida me levar" e seguia para onde a maré mandava. Até que tudo dá errado e ele se vê perdido, tendo que finalmente enfrentar os traumas do passado.

Tudo que planejamos pode mudar em um segundo! Planos e sonhos são ótimos e fazem parte da vida, mas quando nada disso da certo, nós precisamos nos adaptar, fazer o melhor e seguir em frente. Essa é uma questão que é desenvolvida durante todo o livro, você sofre pelos dois e torce para que um dia eles se encontrem. Eles se conhecem brevemente na Itália aos 18 anos e depois temos vários "quase" encontros. Tess seria colega de moradia de Gus na faculdade, mas ela desiste de ir pela perda da mãe. Em uma loja em Londres alguns anos depois, Gus a vê com a irmã na fila de uma loja, mas não a reconhece. E assim tem várias passagens.

Eu estava adorando a leitura, mas o final foi um balde de água fria! Eu já estava imaginando, o livro quase acabando e nada realmente acontecia, e depois, foi tudo muito corrido. O livro termina muito aberto e sem um epílogo, nada para garantir realmente o final feliz do casal. Se tivesse uma continuação minha opinião seria diferente, mas como já têm anos que ele foi publicado, a história realmente termina aqui. E apesar de ter uma carga dramática grande, não foi daqueles livros que me fez chorar, faltou emoção na narrativa para mim.

Eu gostei da leitura, apesar dos problemas com o final, é uma história muito real e muito bem contada. Quem leu me conte se gostou, leiam!!

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