1984 - George Orwell

>>  quarta-feira, 17 de março de 2021

 

ORWELL, George. 1984. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2009. 414p. Título original: 1984.

A primeira vez que li 1984 foi há alguns anos, mais ou menos em 2009, e já achava, àquela época, que tinha enrolado tempo demais para ler essa história. Em 2020, tive a oportunidade de reler. E em 2021, novamente, com a leitura coletiva promovida aqui, pelo Viagem Literária. Mas, afinal, depois de ter lido o livro três vezes, quais impressões eu tive sobre ele? Será que todas as leituras foram iguais? Eu conto para vocês.


Depois de uma grande guerra que devastou nações e terminou por dividir o mundo em três superestados (Eurásia, Lestásia e Oceânia), o Grande Irmão assumiu o poder e instaurou-se um regime totalitário em todos esses estados, implementando o IngSoc, ou Socialismo Inglês.

Por todo lugar que se vá, há cartazes avisando que o Grande Irmão está de olho em você e, nas casas da maioria dos habitantes (exceto dos proletas, que são tão insignificantes que sequer são vigiados), há teletelas, ou televisores que observam e gravam tudo o tempo todo que a pessoa diz e faz.

Para os pensamentos há também um controle: a polícia das ideias, criada para patrulhar e punir pessoas por seus pensamentos.     


Winston tem 39 anos e é funcionário público do Ministério da Verdade, cuja função é reescrever a história de Oceânia (antiga Londres) para que os políticos atuais estejam em alta, de forma positiva, bem como para que o passado, seja ele recente ou longínquo, seja apagado de forma definitiva da cabeça das pessoas e elas passem a acreditar que aquela realidade atual foi a que sempre existiu. Talvez essa manipulação tenha sido a responsável por modificar até mesmo a memória afetiva de Winston, que mal se lembra de sua infância e de sua família.

Winston aparenta ser um funcionário exemplar e um cara solitário, até meio apagado. Contudo, secretamente, ele tem (ou acha que tem) seus meios de burlar essa ditadura comandada pelo Grande Irmão, escrevendo em seu diário o que acontece em sua vida. Ele acha que, só por fazer isso, já pode ser preso e morto. Assim, talvez esse tenha sido seu maior ato de rebeldia. Pelo menos até conhecer Júlia, uma funcionária do Departamento de Ficção, por quem ele se apaixona. A partir daí, ele passa a acreditar que uma rebelião seria possível para derrubar o Grande Irmão. Mas como se meter em uma trama política contra um ditador e sair ileso ou, mais ainda, obter êxito? Seria possível?

                    " Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado". p. 47




Ao ler a sinopse acima, você deve ter ficado com aquela sensação de déjà-vu ao ler as expressões "Grande Irmão", "teletela", certo? Se você acha que conhece essas expressões ou acha que elas são referências para algum programa que você assiste, você acertou, já que o famoso reality show Big Brother foi inspirado nesta história.


Sobre o livro propriamente dito, primeiramente é preciso dizer que a escrita de Orwell pode não parecer fácil às vezes. Não que ele tenha uma escrita truncada, rebuscada, nada disso. Mas, caso você seja uma pessoa muito adepta de livros com muito diálogo, vai se decepcionar com este livro. Não acredito ser um defeito, muitas das distopias que li tinham poucos diálogos. Afinal de contas, nesse tipo de narrativa, o narrador conhece e nos conta os pensamentos dos personagens, e eles são mais introspectivos, solitários, de modo que um diálogo é realmente bem raro em histórias assim. Além disso, a escrita do autor é bem crua, realista, de modo que é bom ir com estômago e mente preparados para a leitura.


Em segundo lugar, acompanhar Winston, para mim, foi agoniante, principalmente quando fiz a leitura pela terceira vez na leitura coletiva. Eu ficava pensando a todo momento: "Ai, meu Deus, ele vai ser pego!", ou "Não seja burro, Winston", rs. Ainda que fosse a minha primeira leitura deste livro, não consegui evitar de torcer por ele, mesmo que eu nunca saiba se um personagem vai ou não se dar bem no final da história, .

Júlia não me enganou muito nem me convenceu. É fácil perceber que a forma de rebeldia dela ou as razões para ela se rebelar eram totalmente diferentes das de Winston. Um querendo uma revolução que atingisse e livrasse a todos do Grande Irmão; outro querendo uma revolução em benefício próprio. Eles correm grande perigo, sobretudo porque sexo só é permitido com uma única finalidade: procriação. Todo tipo de encontro amoroso sem essa finalidade pode acarretar a prisão e até mesmo a morte.

Achei importante e interessante os Ministérios que comandam tudo, desde o pensamento, até os livros (em distopia, sempre há um controle sobre os livros), as notícias. Além disso, há a Novalingua, criada para reduzir o tamanho das palavras e, assim, evitar que as pessoas reflitam sobre aquilo que é dito. A ideia é não pensar, não refletir e, claro, não questionar.

Os pontos abordados no livro são importantes e superatuais. Embora tenha sido escrito há tanto tempo, você com certeza vai identificar algum governo que se assemelhe, nem que seja em um ponto específico, com o que é trazido na história.

Talvez seja por isso que eu goste tanto do gênero. Os autores de distopia não são simplesmente autores, na minha visão. Caso você já tenha lido isso em alguma resenha minha, vai comprovar agora que minha teoria continua a mesma: autores de distopia são visionários. Não é possível um cara escrever um livro em 1948 sobre um governo totalitário que emprega tecnologia inexistente em sua época para vigiar as pessoas, controlar as informações e notícias, os alimentos, remédios e afins. Não é à toa que esse livro é um grande clássico da literatura! (#nemsoufã)

Reler o livro agora, mais velha e com uma maior experiência de vida e literária, me levou a pensar quão pouco eu questiono e discuto sobre política, de uma forma geral; como me posiciono perante pessoas que defendem um ponto de vista político diverso. Devemos discutir e nos posicionar, ou nos manter em silêncio simplesmente por "preguiça" de discutir, por medo de conflitos?

O final do livro sempre me deixa devastada, arrasada e chocada. Isso quer dizer que alguém morre? Pode ser que sim, pode ser que não. Contudo, não são só as mortes nas histórias que me deixam devastada. É uma pena não poder dizer mais sobre isso, mas se você tiver lido e sabe do que estou falando, vamos comentar mais a respeito!
    
E é graças a esse final que minhas 3 leituras da obra terminaram sempre com nota cinco. Observo que muita gente fica incomodada com determinados pontos da história e acaba não dando nota total ou acaba nem gostando, mas para mim será sempre um livro nota cinco. 

Uma curiosidade sobre o livro é que, inicialmente, não se chamaria 1984, e sim "O último homem da Europa", mas o editor pediu que Orwell pensasse em um título mais "vendável".

Indico para todo mundo que gosta de distopias, para quem gostaria de ler mais livros do gênero, ou para aqueles que têm vontade de conhecer mais sobre a escrita de Orwell. Outra curiosidade: na verdade, George Orwell é um pseudônimo, não o nome verdadeiro do autor, que, na verdade, se chamava Eric Arthur Blair e era um grande crítico do totalitarismo, fascismo e nazismo, o que fica bem visível em suas duas obras mais conhecidas, 1984 e A revolução dos bichos. Talvez por ser crítico desse regime usasse pseudônimo.

E por falar em distopia, antes de me despedir, gostaria de convidar você para participar do sorteio de um livro que está rolando no meu canal, Evelyn Butignoli - Traça Literária! Se quiser concorrer, corre lá para conferir o vídeo e descobrir qual livro está sendo sorteado. Pode ser que seja uma distopia (#ficaadica), ou não, mas você só vai descobrir se assistir!

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Avaliação (1 a 5):




 


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